Obama
Temos momentos sem neutralidade. Nem isenção, inclusive. No dia 4 de Novembro, queremos, desta arquibancada do mundo, que Obama seja o 44º Presidente dos EUA. Queremo-lo com fé, confiança e resolução. Pela América e pelo Mundo. Não podemos deixar de ser românticos em relação à América, cuja revolução, mais interessante que a francesa, a inglesa e a russa, declinou o poder como o exercício da vontade dos cidadãos. Apesar dos vícios do Império (de todos os impérios, note-se), a América guarda a distância do indivíduo em relação à causa e à coisa pública. E tem capacidade de se reinventar sempre que os falcões invadem o domínio das águias. Terra de Thomas Jefferson e de Martin Luther King Jr.. Ganhando Obama será a refundação da América…e não só.
Crise
Vivemos uma crise complexa. Múltipla, porque financeira, económica e ecológica. De confiança no capitalismo que se tornou globalizado e, até há dias, a panaceia dos nossos males. Vivemos uma crise globalizada, apanhando uns mais que os outros. Ou melhor: uns antes dos outros. O tempo, antes inexorável, tornou-se implacável com todos. O tempo da crise mundial, bem entendido. É uma questão de mais ou menos conectividade. De repente, os campeões do neoliberalismo lembram-se das virtudes do Estado e querem-no forte, intenso e interventivo. Um Estado capaz de transformar os impostos dos cidadãos em activos e em capitais para refinanciar a mega “irresponsabilidade” financeira dos capitalistas. Um Estado que reconheça, às pressas, que é hora de injectar dinheiro no network interbancário e salve, não só as finanças, mas todo o resto que ficou baralhado e que, a descuido, poderá transformar o mundo numa tremenda desgraça. O pânico dos ricos, que está longe do cenário dos pobres, é que nos tem nesta grande aflição por estes dias. E, com perdão pelos sabichões da nossa praça (praceta, diga-se de passagem), de cuja lição de sapiência estamos fartos, o cronista começa a ter desgosto do Estado. Em verdade, é o Estado que começou já a entrar na complexidade desta crise…
Ildo Lobo
Nenhuma voz cabo-verdiana me tocou tanto quanto a de Ildo Lobo. Naturalmente que não sou indiferente à toada de Cesária Évora, de Bana e de Mayra Andrade. Ouço o timbre de Sara Tavares, de Zeca di nha Reinalda e de Tcheka Andrade, e caio logo “na gandaia”. Isa Pereira, Dudu Araújo e Lura tiram-me do sério. Gosto das vozes cabo-verdianas, o skating da crioulidade musical do canto cabo-verdiano. Mas nenhuma voz me apanhou quanto a de Ildo Lobo. Talvez por dele ter ouvido “Labanta Brasu” e “Djonsinhu Kabral” no tempo certo de as ouvir. Não posso pensar em Cabo Verde, independente, livre e democrático, estas ilhas desabridas e afortunadas, sem que, na trilha, me ressurja o trecho da voz de Ildo Lobo. Não sou telúrico, nem visceral no apreender a Arte, diz-me o Poeta. Mas marca-me cá dentro, como uma cadência de mim próprio, essa clave com fonema. Voz que me é, como nenhuma, existencial…
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