sábado, 30 de dezembro de 2006

Cabo Verde a partir do Espaço

Casulo


Te amo sobretudo os lábios
e a resina viscosa dos teus seios,
pois a vulva dos teus olhos enlaça
a sedução invisível dos meus pêlos,
onde começo a viver e me embaraço,
porque me mato de amor quando te vejo.
Dimas Macedo

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

A LUA (dizem os ingleses)

A LUA (dizem os ingleses)
É feita de queijo verde.
Por mais que pense mil vezes
Sempre uma ideia se perde.

E era essa, era, era essa,
Que haveria de salvar
Minha alma da dor da pressa
De... não sei se é desejar.

Sim, todos os meus reveses
São de estar sentir pensando...
A Lua (dizem os ingleses)
É azul de quando em quando
Fernando Pessoa

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Praia de Santa Maria, regimentar o Regime & Boas Festas

Mote


Em conversa trivial com um confrade a política veio ao de cima. Para variar. Nem sempre falamos de poesia, infelizmente. Mas isso não deixa de ser um exercício de cidadania. Até porque especular sobre as suas latitudes, sobretudo a jeito de “jogar conversa fora”, não é apanágio e muito menos monopólio dos arrogantes da praça. Discorrer sobre a política deve ser direito e dever de todos. Havendo por baliza apenas o cavalheirismo e a elegância. Até porque, como diria alguém que bem conheço: ordi mata ka tem…

A cidadania municipal

Chegou a hora de os cidadãos da Cidade da Praia almejarem mais direitos políticos. O Estatuto Especial não poderá ser meramente administrativo. Ele terá de ter consistência política. Poder de decisão e de barganha, sobretudo. É preciso complementar a democracia representativa, praticada actualmente, com mecanismos de democracia directa. A cidadania municipal deverá vir à ordem do dia. Assim os cidadãos, através de iniciativas populares, teriam direito a fazer petições e a convocar plebiscitos, a embargar realizações lesivas à comunidade. Os cidadãos estariam a intervir directamente em vários aspectos da gestão municipal. As mudanças de nome dos bairros, ruas e logradouros seriam realizadas com o aval e a aprovação prévia da população interessada, através de petições expressivas, por exemplo. Uma inovação e tanto, mas que significaria apenas o cumprimento da Constituição Nacional, a rezar que estes poderes emanam do povo…
Ombudsman para o cidadão
E a mudança poderia ir mais longe. Que tal a Praia passar a contarcom a figura de um Ouvidor Municipal (chamado noutras paragens de Ombudsman) para defender os direitos dos cidadãos municipais, cobrando providências e coerência às autoridades? Um Ouvidor Municipal com voz e vez na Assembleia Municipal. Um Ouvidor Municipal que não estivesse filiado a partido político durante o exercício da função e olhasse tão-somente para a Praia que começa a ganhar velocidade e já não pode parar…


Uma questão de regime

Neste século, ou a democracia é participativa, ou o regime democrático, como nos é servido, será cada vez mais esvaziado, posto que não passa de um jogo formal no qual a cidadania só tem acesso decorativo. Para já é preciso ir além dos partidos e permitir espaço real aos cidadãos. Ademais, mesmo no “framework” dos partidos, precisamos de novas realidades de política activa que não apenas o bipartidarismo instalado, um tanto subliminarmente entre nós. Não que o bipartidarismo não tenha sido testado, com relativo sucesso, noutros lugares e noutras circunstância. Todavia, entre nós ele é empobrecedor. Ele não configura virtudes, nem galvaniza os rudimentos do nosso modelo constitucional que demandariam um mosaico parlamentar mais diverso e colorido, mais compatível com a natureza do regime que se quer…


Boas Festas


Leitores, não seria redundante afirmar quantas felicidades e venturas, quanta saúde, vos desejo a todos neste ano que vem aí a começar?

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

I got you (I feel good)



(...)
I feel nice
Like sugar and spice
(...)

Numa manhã de Natal, morria Charles Chaplin, o Charlot, em 1988. Agora, neste ano de 2006, para mim o mais aziago de todos, faz das suas também no Natal. Morreu James Brown, o pai da soul music. Mister Dynamite. O homem que, sem perder a áurea do gospel e do rhythm and blues, dedicou a sua vida a sonoridades mais energéticas. Se Charlot fazia rir e chorar, Brown fazia cantar e dançar. Ele era considerado o criador do rap, do funk e do “disco”. Mas era sobretudo alegria e movimento. It´s a man´s world. Ou Sex Machine

domingo, 24 de dezembro de 2006

Praia Maria di Speransa bó ki é di meu

Natal na praia

Um Pai Natal com 30 metros de comprimento foi esculpido no areal da praia de Puri,
no estado indiano de Orissa.
Foto: Biswaranjan Rout/AP

sábado, 23 de dezembro de 2006

Santa Claus

Quis Deus
Que este momento
Fosse de ti apartado
E serenamente
Sonho
O dia
De
te olhar de novo
Aqui
, ali ou na morte
Assim
ou doutra forma
Tua
sombra ou fiapos de ti
Algo que me lembre outrora
Quando
Deus também quis e eu
Servo
de ti celebrava o dia soletrado…

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Boston Mood

Natal



Os Sinos de Natal
são cristalinos
testemunhos de Deus
e fazem bem.

Os Sinos de Natal
nas Torres de Belém
tocam matinas de luz
para um menino.

Nos Sinos de Natal
bronzes divinos
se fundem
e fazem hinos de amor
ao Santo Graal.

Nos Sinos de Natal
a minha infância adolesce
e em seus badalos de ouro
eu ponho a minha prece.

Ouço Jesus falando
em suas partituras.

Teço escrituras de luz
às notas musicais
dos Sinos de Belém.
Dimas Macedo

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Faltou luz em casa


Fotografia de Hélder Paz Monteiro
Mostra na Reitoria da Universidade de Cabo Verde
Dezembro de 2006

Notas soltas de Natal


0.
Em ocasião natalícia, o pessoal não devia fazer greve por tempo indeterminado. Há momentos que são de trégua. Há outros que são de paz e concórdia. Venham todos, familiares, amigos, afectos e desafectos, para a cristandade do momento. A Cidade da Praia já está cheia de luzes. O frenético das lojas, para o gáudio dos comerciantes, revela a dinâmica da hora. Ninguém ficará indiferente. E que ninguém leve as minhas coisas a mal. Sou sempre, mesmo na incapacidade, um ser de boa vontade. Mas estou triste, triste, triste…

1.
Este é um Natal onde não estás. A vida continuará, frenética e festiva, mas a tua ausência é triste e eterna. Jamais haverá Natal no meu coração, ainda que os feitos, tais como as orgias, reguem do melhor vinho outros encontros. As crianças brincam ruidosas. Os Natais têm a ver com elas de facto. E tu ficarás sempre ali, nas coisas que nunca digo, a velar por todos. Cada detalhe, és tu. Cada pequeno nada deste Natal onde não estás, é o teu desmedido amor…

2.
Herdei da minha mãe a ternura de ver as coisas. Com o meu pai, aprendi a duvidar do Verbo ser o primeiro acto. Soube que a Poesia é o Criador, a palavra, morfológica e concreta, é sua pura criatura. Com os meus filhos, vou aprendendo as malhas do mundo e vou deixando neles a minha marca indelével. Pressinto-os no latejar das minhas veias e queria que, um dia, me cerrassem os olhos. Sem liturgias, mas com perfumada poesia…

3.
Ajudei a organizar um Fórum. Falava-se ali sobre o Desenvolvimento Regional da Ilha de Santiago. Era uma coisa generosa, inclusiva e aberta. Era mais Cabo Verde. Tão diferente do sentido hegemónico de certos desacertos, que, ao longo dos anos, nos têm imposto elitezinhas levianas, desesperadas e bairristas. Tão à margem das conspirações regionalistas, e seus lobbies assombrosos, que desviam mundos e fundos para que não se desencravem os moradores de Santiago nos seus rincões e cutelos, achadas e fajãs, nossas leiras de terra enfim, sonho incisivo e visionário do poeta António Nunes. O Fórum de todos os cidadãos ciosos desta ilha maior e matricial, onde nasceu e tomou corpo a aventura crioula. Santiago, meu santo de todas as sementeiras, aqui me encontro. Estamos aqui. Por Cabo Verde…

4.
Com estas palavras vou sendo eu perante o mundo. Escrever, para mim, é deixar vestígios do pensamento e das andanças. É mostrar-vos as minhas máscaras, umas que levo aos bailes, outras que apresento nos velórios. Outrora, poeta pela contestação. Agora, contestatário ainda, mas pelas mais poéticas razões. Escrever, na alvura deste linha, é trazer pontos especiais do azul. E nesta solidão de mágoa sem cura, o azul da eterna idade é o que aqui desejo…

5.
Ficam, aqui e agora, os meus votos de Boas Festas. Aos familiares, amigos, afectos e desafectos…


sábado, 16 de dezembro de 2006

NATAL



Dou dos dados metáforas que tenho,
Até dava a larva que a vida trava,
Tudo soletrado em soneto, palavra
E o que me encrava, desde o antanho…

Dou também, como daria, verbos,
Interstícios e garbos, só vícios de mim,
Misérias sim, natalícios desencontros,
Outrora eras Musa, agora solstícios assim…

Se desse, já que algures darei, o corpo
À terra de estar contigo, Senhor permita
Que tramita em lacre meu pensamento…

E de tudo dado, e desse dar ali sobrasse,
Contentamento e, por ti, doce momento,
Errante nuvem, e eu aqui em viagem…


Filinto Elísio

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

D I Á R I O




Na agitação dos dias
e nos dias que são gastos
a vida esvai-se
e a vida se faz tudo.
E a morte se fez medo
onde lancei os dados
e ofertei os dedos
e afaguei
o tecido polido destas rugas.
E a sensibilidade da vida se fez surda
e a metafísica do mundo se fez mágica
e a magia do sonho em mim se fez abstração
porque a expressão do corpo é a verdade
e a claridade da alma é a paixão.
O sentido da vida: a liberdade.
A arte: minha suprema realização.
Dimas Macedo

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

O Fórum da hora

O Fórum da hora

Chegou a hora de reflectir e debater Santiago. Sem complexos, mas com complexidade. Ver Santiago em números e pensá-lo à luz das suas potencialidades. Pressentir Santiago em História e projectá-lo para um futuro de desenvolvimento. Amar Santiago em perspectiva e levá-lo para o ponto (mais que necessário, ó céus) da regionalização. Chegou a hora de dar um passo em frente e esquecer os fantasmas do quotidiano. De fazer a catarse essencial, para não dizer a exorcização necessária. Um problema tão complexo não deve ser encarado com simplismo para não resultar em complicação. Por isso, o Fórum é mister. É must. É hora...


Praia imparável

Falando, mais de perto e mais frequente, com Felisberto Vieira (Filú), Presidente da Câmara Municipal da Praia, entendo a razão de haver optado pela Praia ao invés da liderança partidária. Em verdade, pouco tempo depois desse recuo temporário, mas estratégico, Filú apresenta uma nova dinâmica, aliás prontamente reconhecida pela imprensa. A Praia começa a ganhar pinta e velocidade. Uns aplaudem, outros reclamam. Estes e aqueles são necessários para aquecer a locomotiva, diga-se. A dialéctica é o tónico para avançar as coisas. E as prioridades parecem estar definidas. A prioridade das prioridades, é o Estatuto Especial, esperando que desta feita a classe política não venha apoucar, por tão poucas razões, a capital de Cabo Verde. E, almejando que a edilidade até então morna e apática face aos desafios autárquicos ora surpreenda a todos pela positiva, pergunto: Significa que vamos desengatilhar todos os projectos e fazer a Praia entrar na rampa do desenvolvimento? A expectativa é que 2007 seja o ano em que muita coisa saia do papel. Queremos, com sentido de causa e de consequência, uma Praia moderna, competitiva e imparável…

Paixão Atlântica

Prestes a deflagrar o que pretende seja um sistema municipal de excelência, Filú terá que conciliar a busca da modernização com a superação de alguns atrasos estruturais da Praia (e de Santiago) que beiram o descaso e o escândalo. Uma realidade incompatível com o século XXI, e que não cabe numa capital que se quer Paixão Atlântica.

Livros

O bom livro é aquele que me agrada. Não me interessa se é de consagrado ou de novato, literatura clássica ou contemporânea, prosa ou poesia, texto definitivo ou descartável. Estes predicados somente têm importância em relação à ocasião, com espírito de o degustar, folha por folha e a cada momento. Caetano Veloso diria amar os livros com amor táctil. Gostar de tocá-los, na fímbria com que se devota tocar nos maços de cigarros. Cada escrita tem a sua hora certa e quando isso é verdade, como agora que leio Zadie Smith, os livros são momentos inesquecíveis.

Discos

O que é válido para livro, também o é para disco. De repente, em surpreendente e positivo espanto, escuto em primeira-mão o disco de Frederico Hopffer Almada, arquitecto que responde aos amigos e conhecidos por Nhonhó Hopffer. Antes de mais, prevalece aqui o bom gosto das músicas seleccionadas (e dos compositores da mais fina estampa nacional). Depois, o arranjo impecável de Kim Alves que extravasa na música, o que não afirma no discurso (e nem tem de o fazer, diga-se de passagem). Finalmente, o próprio Nhonhó, afinadíssimo da silva, a introduzir uma toada rouca e lamentosa, dolência de um certo cantar nas profundezas de Santiago, ilha maternal e matricial. Sinceramente, gostei. E recomendo o disco a todos. Este foi o ano do “Navega”, de Mayra Andrade, “Ao vivo e aos outros”, de Mário Lúcio, “Traz di Son”, de Ângelo Barbosa, “Dança das Ilhas”, de Kim Alves, e “Fragmentos”, de Ricardo de Deus. Será que entrámos na espiral do bom gosto? Quem dera…

domingo, 10 de dezembro de 2006

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Beijo

Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.


Jorge de Sena

O Beijo...de Picasso

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Liberalização

A liberalização não se faz assim. Chegar com o mínimo e entrar no ar? Não devia ser assim, mas às vezes é. Não ponho em causa o mérito das televisões concorrentes. Todavia, estranhei que o processo se ajeite numa entrega de alvará a todas as proponentes, cabendo ao mercado fazer a regulamentação do sector televisivo. Parece-me haver alguma confusão nos espíritos, meus senhores. Uma meia dúzia de concorrentes alinha-se para a atribuição de licenças de televisão em sinal aberto, nomeadamente TV Record Cabo Verde, RTI, Media Press, Tiver, Nôs TV e TV Lacacan. Aparentemente é boa nova. Mas, pensando crítica e analiticamente, a liberalização deve ser mais processual e mais criteriosa. O concurso devia limitar, antes de mais, uma quota de entrada gradual e faseada, tendo como parâmetros as “máximas” e não as “mínimas” condições para operar. Assim como está sendo feito, prevaleceram todos, pois “Não deparámos com nenhuma irregularidade no processo. Todos cumpriram com os requisitos mínimos”. Ademais, democracia não é quantidade, mas qualidade. Ora, isto é empobrecedor e sub nivelado, deixando a impressão de que, em breve, haverá arrependimento por tanta pressa e alguma demagogia…

sábado, 2 de dezembro de 2006

Tamareira



Tristeza, minha Tamareira? Assim como “os frutos dos coqueiros não são só cocos”, o amor vai para lá das tâmaras. Não direi aqui das coisas veladas. Nem mostrarei o fio de Ariana no labirinto em que te encontras. Olha-te ao espelho, meu tudo. Acaricia-te até que o Narciso quede ali de quatro. Sacia-te da fome e sede, das coisas por dizer e por fazer. Lambuza-te das flores e dos frutos. Broas, vinhos, uvas, azeitonas e alcaparras. O pão saloio das mesas de vime e crepitem no pensamento os teus imortais pecados. Solta-te, do âmago, das profundezas de ti. Pródiga festa de ti própria. Fica nas dunas, em beleza tão-somente. Tu és bela, Tamareira. E fique tudo em melindre, inclusive as coisas que não digo. Inclusive, as noites de lua. As noites sem os dias indexados. E agora é Música…