sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Azul ou "the ultimate bridge to nowhere"



Azulando o dia

Meus pássaros (em foreward),

A manhã acordou azul, com um sol redondíssimo entre amarelo e laranja. Apetecia-me lambê-lo, comê-lo. E, à beira-mar, onde religiosamente faço marcha matinal, os madrugadores pareciam mais lindos e mais felizes. As ondas, essas batiam nos rochedos como se não houvesse kasubody, apagão e subprime.

Leio os Blogs, os jornais e os últimos trechos de “O Pecado de Darwin”, de John Darnton. Confirmo a minha ida ao Brasil, como palestrante. Vou também a Itália, ver os frescos de Florença. E, quem sabe, Dubai também, porque o Ramadão acabou e alguém terá de trabalhar…

Plãmanhã, com aroma de romã. Como um poema de Sophia de Melo Breyner Andreson. Ou a música de Princesito.


Piano no espírito

Mito,

O quadro que me ofertaste bateu forte em mim. Como um piano no meu espírito. E é tudo…

Às vezes, não chego lá. A arte livre admite borrões desavindos, experimentação multimédia e absurdos conceptuais. E eu, nem sempre, estou tão Dada assim. Essa coisa livre que Duchamp criou não deve ser apreendida no rompante e no acaso, mas usada com responsabilidade técnica e objectivo estético.

Outras vezes, o quadro chega e bate em mim. Bate fundo em mim. Na arte, sou kantiano. Vou com a obra que me proporciona emoção. A sensação estética como uma espécie de nirvana. Era Kandinsky que dizia que a arte não seria útil nem agradável, mas teria de ter o poder de tocar um piano existente no nosso espírito.


Estranho delírio

Laura,

O meu processo criativo? Loucura e trabalho, se tanto.

A inspiração vem com delirius tremendus, mas a execução é oficinal. Um pouco racionalizada. Rigor quase matemático. Soneto não cai da árvore, por mais que acreditemos no Jardim do Éden.

Eu, por sinal, nem acredito nessa história, embora veja em tal parábola um bom filão de metáforas. Não iria afirmar, mesmo que me desses um doce, que a história do Pecado Original não nos empresta tremenda inspiração poética.

O sair do Paraíso tornou-nos mais livres e melhores poetas…


Zona de sombra

Jeff,

Sim. Acompanhei o debate nesta madrugada. Gostei menos de Palin. Assim como gosto menos de McCain.

Um tal Pascoalino, mormente simpático, me considera de mal com o mundo. Em verdade, estou de bem comigo. Com os meus demónios, inclusive.

Amigo, o risco de contágio do sistema financeiro faz desta crise uma pandemia. E há claramente uma zona de sombra que revela relativa inutilidade da classe política. A economia mundializada (apelidada artificialmente de Globalização) está nas mãos de bonecreiros com a sua lógica invisível e ininteligível.

Não sabemos quem comanda os botões que nos faz dormir ricos e acordar pobres, e vice-versa. Marx dizia que os homens fazem a história, mas não sabem a história que fazem. Por isso, um Deus qualquer, muito mais ganancioso que os evangélicos de Paiol do Coqueiro, quer nos ver aflitos por estes dias e explodir, do seu templo maior quem sabe, uma retumbante gargalhada. Só pode ser brincadeira de mau gosto…

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