quinta-feira, 26 de abril de 2007

Kenyatta



Na fundu´l kadiâ
Kenyatta xintadu.
Kenyatta prezu;
Liberdade é pensamentu,
Terá é korason!

Na txada di Inglaterra,
Nha Rainha ta fazi festa,
Teremodi sabi ta matxika;
Manda é poderis,
Goberna é grandesa!

Fidju´l liberdadi,
Bu ta luta na bariga´l bu mai,
Bu frutxi-frutxi pa odja Mundu;
Ó ki bu sai
Lembra mal ki bu pasa:

Matxika branku, oru, rei, grandesa!
Na sangui, na duzusperu
- spada skontra spada,
Sangui skontra sangui:
Jomo Kenyatta – Liberdadi di Kénya!


Kaoberdiano Dambará

quarta-feira, 25 de abril de 2007


O Circo III

O Circo III

Há muitos anos, por altura da Expo Sevilla 92, escrevera uma crónica no Jornal A Semana, intitulada O Circo I. e, porque um governante deplorara o texto, fizera (bem de calote) a reprise com O Circo II. Agora, é O Circo III. Porque abro a Enciclopédia Cabo-verdiana (obra ainda por fazer) e imagino os grandes nomes – Eugénio Tavares, Luis Loff de Vasconcelos, Pedro Duarte Silva, Abílio Macedo, Baltazar Lopes da Silva, Jaime de Figueiredo, Jorge Barbosa, Amílcar Cabral, Manuel Lopes, Simão de Barros, Manuel Duarte, Abílio Duarte, António Carreira e Henrique Teixeira de Sousa, entre outros. Esta plêiade de imortais não excluirá os mais contemporâneos. A Cultura, felizmente, não é excludente e deverá ser perspectivada nessa dialéctica permanente entre a tradição e a inovação, no interseccionismo de matrizes, muitas vezes, ontológicas, retrospectivas e prospectivas…

Literatura 1

O melhor da literatura cabo-verdiana, com respeito pelo cronograma das coisas, é aqui e agora. Se estou a dizer uma heresia, peço desculpas e aguardo, humildemente, que me provem do contrário. A literatura, tal como a música, não parou no tempo. Ela continua dinâmica, viva e dengosa. Os escritores, de pés fincados na terra, querem hoje ter mãos soltas no mundo. Uma das grandes virtudes deste momento é podermos re-significar a teia da Cultura. Refazer caminhos, ousar novas e outras experiências, mantendo respeito pela espiral da História, conscientes de não termos sido (nem os outros foram) especialmente originais. O olhar na direcção do passado leva-nos a perceber o enorme legado dos Claridosos e a reconhecer que o conceito da Claridade (livre de preconceitos, mistificações e falsas supremacias) permanece até hoje como matriz e motriz da nossa contemporaneidade…

Literatura 2

Trouxe, para ler em Cabo Verde, O Caçador das Pipas, do afegão Khaled Hosseini. O último romance que me fizera vibrar assim: Diário de Mis Putas Tristes, de Gabriel Garcia Marquez. O pano de fundo é a sociedade hermética, aprisionada pela política e pela religião. As crianças caçam suas pipas coloridas, mesmo proibidas pelas ordens instituídas. O resto é as belas letras. Estas são um valor universal…

Claridade 1

Na Ribeira Brava, Ilha de São Nicolau, um evento muito bem organizado comemora o centenário de nascimento de Baltazar Lopes da Silva. Palmas para a Câmara Municipal da Ribeira Brava. Nho Baltas é um dos filhos mais ilustres de Cabo Verde e a modernidade da literatura cabo-verdiana deve-o muito. Professor de várias gerações, prosador, poeta e ensaísta do melhor quilate, advogado do povo e activista social, Baltazar Lopes da Silva continua entre nós a suscitar interesse, curiosidade, estudo e pesquisa. Claro que ninguém é o maior, nem é o melhor, dos cabo-verdianos, como alguém, esquecido da ciência e da história, quis propalar em tese. Pequena política a quanto obrigas! Quanta infantilidade! Tenho a certeza de que Baltazar Lopes da Silva foi um dos grandes. E que, passando essa poeira de seu laivo provinciano, ele será um imortal…

Claridade 2

Estive no Sal a acompanhar as filmagens do documentário Claridade Incandescente, da jornalista Margarida Fontes, produzido pela Televisão de Cabo Verde. O Programa nº 4 será dedicado a Jorge Barbosa, o percursor do Movimento Claridoso, conforme disse, outrora, Félix Monteiro e diz, agora, Fátima Bettencourt. Não apenas pelos ditos do investigador e da escritora, respectivamente, mas também pelo que prova o manancial de estudos, estará patente a figura matricial de Jorge Barbosa. Fomos confirmar pelos traços e pelos rastros que ele fora um poeta complexo por detrás das mascaras poéticas que utilizava. Itinerante, ambientalista e zen, umas vezes; denunciador, activista e localista, outras vezes, Jorge Barbosa será também um imortal…
Claridade 3

É já na sexta-feira, dia 26, o início do Simpósio sobre o 1º Centenário de Nascimento da Geração do Movimento Claridoso, algo que se inscreve num vasto e diverso programa comemorativo, por todo o Arquipélago. Os conferencistas já estão a postos. O Simpósio na Praia faz sentido, sim senhor. O naipe dos fundadores também irá abordar Manuel Lopes. Esse que escreveu Chuva Braba, o grande romance cabo-verdiano. Esse imortal…

Escrita 1 (para Abrãao Vicente)

Meu amigo, as vacas seriam, se tanto, todas profanas. E as que se afirmam sagradas, não passam de levianas. Desmistifiquemos, pois, essa coisa bovina que se arma em totalitária. E recusemos de seguir o cherne, conforme a alegoria do grande Alexandre O´Neill. Escreve, sim, com mais irreverência. Sobre tudo e sobre nada. Eu também não me arrependo de nenhuma escrita. Devo ter feito pessoas rirem e chorarem. Fi-las pensar, disso tenho a certeza. Tenho recebido cartas e telefonemas de muita gente. Uns a louvarem, outros a deplorarem. Nenhuma indiferença, pois esta seria a morte do artista. Todas as palavras aqui foram medidas, ponderadas e posicionadas. Este autor jamais seria, de nada ou de ninguém, uma vítima inocente. Continuarei, sem lenço, nem documento, mas lúcido. Cada vez mais lúcido…

terça-feira, 3 de abril de 2007

Diversos



Imprensa

1.
Quando tenho tempo, coisa cada vez mais remota, escuto a RCV, pela Internet. Igualmente, releio a imprensa electrónica. É uma forma de não estar tão longe dos filhos da pátria. Estar perto hoje tornou-se mais fácil. E a saudade ficou relativizada. Às tantas, larga-se tudo para saber das novas da terra. Inclusive pela TCV, versão digitalizada. Mas queria algo mais

2.
A queda do desemprego em mais de 6%, anunciada pelo INE, não foi amplamente divulgada pela Comunicação Social, que antes preferiu propalar a baixaria da linguagem da última sessão parlamentar. A questão era a droga. Os narcos e os seus capangas devem ter rido à brava. Quanta bizantinice, companheiros. Os nossos imunes e impunes continuam no top, pelos vistos. Às nossas custas, carago, às nossas custas…


João Lopes Filho dixit

1.
Segundo João Lopes Filho, a história do Movimento Claridoso precisa ser reescrita. O ilustre professor afirma que o acto inaugural acontece em 1922, no Mindelo, pelas mãos de João Lopes, Adriano Duarte Silva e Jorge Barbosa. Depois, o grande sopro teria acontecido na cidade da Praia, com Jaime de Figueiredo, João Lopes e Manuel Velosa, em fins dos anos vinte e começo dos anos trinta. Em 1936, Baltasar Lopes da Silva, Manuel Lopes e Jorge Barbosa fundam a Revista Claridade. Esta reafirmação cronológica do modernismo cabo-verdiano, afinal contemporâneo à Semana de Arte Moderna, em São Paulo, reclama por séria e aprofundada pesquisa.

2.
A confirmarem as posições de João Lopes Filho, expressas num entrevista de fundo conduzida por António Monteiro, do jornal Expresso das Ilhas, alguma verdade terá de ser reconfigurada. Para que não nos contem estórias, em vez de História…

Honoris nosso de cada dia

1.
Caríssimo De Pina, paladino da liberdade e figura já castiça, meu bom amigo. Nem vou debater o âmago da questão, apresentada por ti, de forma um tanto deficitária e deprimida, apenas para “animar a malta”. Queria aqui dizer-te que estou tranquilo e sereno, consciente de ter contribuído para um honoris causa em prol de Cabo Verde, numa proposta preliminar que levava nomes ilustres da política, cultura e economia. A triagem, reconhecendo o mérito de todos os “meus candidatos”, escolheu Pedro Pires, por unanimidade.

2.
Noutra pauta, as tuas recorrentes posições sobre Frei Betto e Noam Chomsky são conhecidíssimas e a forma como as expressas tem provocado alguma estranheza. Pode-se discordar, contestar e opor, mas sem fanatismos, nem sentimentos primários. Muitos conteúdos interessantes às vezes perdem-se diante de formas vociferantes e exacerbadas de os expressar.

3.
Entretanto, estamos até de acordo sobre Robert Mugabe. Este de facto já saiu da moldura, quase à maneira de um falso patronato democrático, que a gente conheceu nesta terrinha de Deus. Aproveita e lê “A Tirania da Maioria”, de Lani Guinier, meu caro. Se quiseres debate ou tertúlia, vamos a isso, mas o nível do verbo terá de ser mais elevado, nada a ver com o Sado-masoquismo e a aleivosa de certas companhias, esses “conselheiros populares”, de triste memória…


domingo, 1 de abril de 2007

Para que nada fique na mesma

Para que nada fique na mesma

Saravá, mantenhas & boa nova, meu caro leitorado. Nesta lenta agonia de haver jornal, vamos escrevendo o tempo da ilha e do mundo, cientes de que daqui a dez, cem, mil anos, um terráqueo qualquer há de querer saber destes cumprimentos. Quanto mais não seja pela cultura arqueológica de continuar a haver futuro. Estou entre Fortaleza e Praia, com Bóston atravessado no pensamento, da minha escrita, quer criativa, quer utilitária. Não dou mais detalhes de querer Frei Betto apresentar o livro de Felisberto Vieira, saído da forja e entrado no prelo, com prefácio de Jorge Sampaio. Nem digo aqui do recital de boa música de Fhátima Santos, no Centro Cultural Oboé. Tom Jobin celebrado por uma intérprete da primeiríssima água. Outra novidade, mas só cheirinho, de quem regressa por uns dias. Para que nada fique na mesma…

No Clube do Bode

No Clube do Bode, confraria de intelectuais que se reúne aos sábados sob o comando do livreiro Sérgio Braga, no Florida Bar, acontecem sempre coisas inusitadas. Desta feita, uma princesa vinda das terras helvéticas, entrementes tornada “cabrita”. Outrossim, Filinto Elísio acaba de ingressar o Clube, numa festejada e pantagruélica entronização. A aguardente de Santo Antão, mãe da cachaça como foi ali baptizada, fez boa muito boa figura. Saudada por Sérgio Braga, Audifax Rios, José Tarcísio e Dimas Macedo, entre outros ilustres, essa aguardente fez autêntica diplomacia crioula entre os intelectuais cearenses. Gente conhecidíssima, mas simples mortais, sem as nove-horas dos nossos generais de palanque. O almoço era uma manta de carneiro, com baião-de-dois. Depois, uma feijoada completa, para amanhar o sábado. Como diria o poeta Carlos Augusto Viana, nem só de pão vive o homem. Há também vinhos e finos queijos…

Tricas & futricas

Da Tapadinha, só poderia isto. O cronista apareceu à porta, zangado e sabichão, a mandar vir sobre a carneirada obtusa, hoje pecadora por votar deste e não daquele lado. Escreveu loas e laudas, arrotando sua sapiência em leis e em política, neo-liberal entretanto na sua entortada boca, bem como no seu verbo à-toa. Mercê desse magistério arruinado falou mal do mundo. O Carmo e a Trindade. O fim dos tempos. Vaticinou os ciclos políticos de dez anos. Amaldiçoou os jovens e os aprendizes. Destilou sobre as águas, a sua enormíssima arrogância. E, depois, qual lobisomem no limiar da noite, comeu as mentes ensonadas, à falta das virgens que as lendas rezam. E acordou, apaziguado e sereno, como quem dormisse o sono dos justos. Onde estarão os inocentes e os patuscos em delírio?