sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

JANEIRO/FEVEREIRO

Calendário Philips 1980

Nem só a cav
idade da boca

Nem só a língua

Nem só os dentes
e os lábios

fazem a língua

Ouça
as mãos
tecendo a língua
e sua linguagem

É a língua
têxtil

O texto que sai das
mãos
sem palavras


Décio Pignatari

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Santa's & etc

1.
Gosturdia, era o aniversário do Poeta. Nem toda a gente se lembrou dos seus 48, mas, também, nem toda a gente lhe deu prendas pelo Natal. Santa Claus didan't come to his fuckin' town. Nem toda a gente gosta de poesia, arre. O Poeta, saiba-se, apenas faz versos, mesmo nos reversos da sua conversa aquariana. E não se está aqui a falar de Robert Mugabe, de W. Bush ou do Killer da Holanda. Nem desse habeas corpus da porra. Está-se a discorrer sobre as frutas serenadas. Mas, para que o seu sábado, mau grado a neve, não fosse branco, levaram o Poeta aos aposentos de Calígula e foi aprendendo que a mãe do Nero já era louca e devassa, posto que freudiana terá sido sua Roma incendiada. Grande é Santiago de Compostella. Grandes são os desertos, como Pessoa os pressentiu. Sagradíssimos até mais não. Um lauto jantar no Chinês da Fontana e uns trechos de "Gomorra", de Roberto Saviano, excelente tratado sobre a máfia napolitana. Conversa caudalosa. Na semana passada, o Poeta era o menino dos anos, enfim...
2.
Abraão Vicente, no seu melhor, escreve "Precisamos urgentemente de um mediador. Um mediador entre nós e os nossos egos, entre a banalidade e a arte, entre a mediocridade e a excelência". Subscrevo este discurso indignado, pois estamos fartos, fartíssimos, de falsos poetas, romancistas, pintores, fotógrafos, dramaturgos, actores, compositores, cantores, dançarinos, críticos de arte, estudiosos, mestres e doutores. O discurso crítico, por exemplo, parace o do mudo a falar a surdos. A pretexto da semântica nos dão a consumir textos sem sintaxe, porra. De incompetentes estamos mesmo fartos. Nem sujeito, nem predicado e complemento directo na pqp. Pode? Por supuesto, como arranca cada sentença do meu amigo Hernandez, reina uma enorme mediocridade nas Afortunadas. Estilhaços de um espelho que não vê ninguém, se não um Narciso de merda, masturbante como o raio nestas horas minguadas. Precisamos desse mediador, sim. Entrementes, excelência, cadê você, meu bem?

Arlequim



O Arlequim , persona de pierrot e maskrinha de carnaval, meio maluco y un tanto drogadito, indignado com a sacanagem de no velho ninguém toca e a porra louca de se transformar isto em base militar; o Arlecas, como diria o Pranchinha, ordem do vulcão et satiricom, chateado si com tudo e com todos, a mostrar nhonhozinho às debutantes em plena praça alexandre albuquerque e a unhir deputados à saída da AN; l’Arlequin, mon petit, o dono da via imperial, teatro de Nero starting local actors, trocando a cidade por duas romas e três lisboas ou um paris bem apanhado, tão apartada da bomba fosforescente de gaza, urbe poética de haicai, de haicu, tomar no cu...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009



O Supremo Tribunal de Justiça indeferiu o pedido de ‘habeas corpus’ apresentado por José Varela Barbosa, através do seu advogado Eurico Monteiro. Este solicitara que se desse cumprimento à ordem de soltura emitida pelo juiz conselheiro Raul Querido Varela e ainda não executada pelo Procurador Geral da República. A carochinha, com laivos de cambalacho, de que o processo havia passado do prazo afinal não colou. O assassino da Holanda continuará na choça para a higiene da nossa sociedade. Quanto ao juiz conselheiro Raul Querido Varela consta que há gente que o quer por mais tempo no STJ. Mudando...hoje, ressuscitou-nos cá o Pranchinha, destemido e sem papas na língua, gritou em plena plenária legislativa: "Abaixo a Putaria!"....Esse Pranchinha vale ouro.

Breakfast


Cedo, cedíssimo, ah se os galos cantasem nas cidades grandes como cantam na aldeia do meu coração! ou, então, que nem as varinas do Mindelo eles solfejassem "cavala fresca", assim em meio-tons e dissonantes - cedíssimo, dizia, de orvalhadas vidraças dos automóveis adormecidos e de bocejantes palavras diante de um capuccino, algures repicariam os sinos que a igreja, pedra de Pedro, medra aquém da fé, e alhures seriam teus olhos grandes como se o Poeta os mirasse demoradamente ao espelho. Dos poemas que não se explicam, como dos amores inusitados ou das angústias que nos revisitam, balbucio-te o conto do D dos dados e os versos cabalísticos que, em Arménio Vieira, flor nesse deserto, nos aclama o C da cotovia. E não nos será despicienda quando as horas param e nos mostram o frontispício do Verbo, primeiríssimo de tudo, antes até do pensamento. Onde para ti não eram moínhos, posto que monstros e mastadontes, para os outros, confrades de Sancho Pança, moínhos tão-somente, pachorrentos e cartesianos como uma equação mais simples. Cedo é o rio, o frio, o cio, o ciciar das cigarras, silentes quando as perscruto nas gretas, e o silvo do vento, por cá glaciar, mas brisante nas ilhas...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Catacumbas


Catacumbas

De tanta saudade e em terra estranha (onde até neva em seus cumes), deu-me a matutar o feito de São Calisto I, antes escravo de Aurelius Carpoforus, e , depois, aclamado em Roma, como Papa. Apreende-se disto que o ser humano, mais que grandeza nos pergaminhos da toga, é profundo no seu rito de existir. De bandido e arrivista, Calisto tornou-se santo e defensor da fé comunal, a mais amiga dos deserdados, que é a essência da Igreja Primitiva. Assumiu o trono pontífice com graça e humildade, simples missionário afinal, como atestam as Catacumbas da Via Ápice, exemplo que, a meu ver , deveria extrapolar o templo e o tempo e assentar, cá entre nós e nesta altura, uma jurisprudência circundante. Os nossos deuses descalços, ocos e vetustos, narcisistas, mas cegos ao engodo dos espelhos, alheios franciscanos deste labirinto, deveriam tomar tento ao feito de Calisto, sucessor de São Zeferino...

Renascimento

A tomada de posse do Presidente Barack Obama, a 20 de Janeiro, foi para mim um renascimento florescente. Não que eu veja isso com ilusões e utopia. O mundo não continuará aberrante e paradoxal. O centro abastado e a periferia abastardada. Mas se o novo Presidente reduzir a exclusão e assimetrias, a pobreza e a doença; se Obama fechar Guantánamo e assinar o Protocolo de Quioto; se aumentar a autoestima dos deserdados da Terra...valerá afinal a pena renascer!

Janeiro

Janeiro, venerando rio, mas de sina, deságua em mim. Mar acima. Tanto que fiz anos em Janeiro. Quarenta e oito anos, bem contados e assumidos, ora com riso, ora com siso. Igualmente, fez-me pensar na vida e na morte. Na luz e na sombra. E aproveito, já que me é dado o “dom” (sem tremeliques) da escrita e o jus do escriba, para pedir desculpas ao leitor (ao leitorado, como diria Dimas Macedo, iconoclasta, meu amigo de peito) pela dita viragem (ou terá sido viagem?) dos meus textos. É que os caminhos têm suas encruzilhadas. Percorro-os sem bússola. E, valha-me o verbo, que pontos alguns são cardeais para a escrita. Janeiro é assim...

Dia Solene da República

A República tem datas importantes. O 13 de Janeiro, Dia da Democracia (dizê-lo da Liberdade seria baralhar a semântica da História), e o 20 de Janeiro, Dia dos Heróis Nacionais (igualmente tê-lo como da Nacionalidade, ao invés de Pátrio, me complicaria os conceitos) são efemérides interiorizadas pela cidadania cabo-verdiana. Estas duas datas não estão indexadas aos partidos políticos, que não podem ter por elas ares de patronos. São datas republicanas em toda a linha e devem ser celebradas pela gramática constitucional vigente. Dito isto, queria, no mais pleno respeito por outras opiniões, afirmar que o Dia Solene da República, por sentido e alma, corpo e forma, é 5 de Julho, Dia da Independência Nacional. Temos de tratar a República, com a ponderação histórica das suas datas e efemérides...


Carta abierta a Cesária Évora, la diva de los pies descalzos





Querida Cesária,


Le escribo esta carta mientras escucho “Sodade” [1]. Como admirador de su voz y sus pies descalzos, me quedé perplejo al saber que, ni un mes después de la masacre de Israel, cuyas imágenes han recorrido todo el mundo, va a dar un concierto en Tel Aviv y otro en Jerusalén a finales del mes de enero. Entiendo que estos conciertos quizá ya estuviesen contratados con bastante antelación. Sin embargo, no entiendo cómo, después de lo sucedido, va a continuar cumpliendo su agenda y a cantar en Israel. En poco más de tres semanas, 1.300 palestinos han muerto en manos del ejército israelí, entre ellos más de 300 niños y 400 mujeres y ancianos. Lo más triste de todo esto es que, lamentablemente, la gran mayoría de la población de Israel, ya sea por ignorancia, por represión o por pura convicción, después de lo sucedido, continúa a favor de la ofensiva militar que ejecutó su gobierno. Además, el bloqueo en los pasos fronterizos continúa, dejando a la población palestina en condiciones infrahumanas.


Perdone, Cesária, pero no la consigo imaginar cantando “Sodade” mientras que en el otro lado del muro aún huele a sangre y fósforo blanco. Cuando en sus mornas canta el aislamiento y la diáspora de Cabo Verde, ¿también piensa en países como Palestina?


Por todo lo dicho, me gustaría que usted, a quien tanto admiro sin idolatraría, se pronuncie sobre los dos conciertos que va a dar en Israel. Y, en el caso de que el rígido programa de conciertos valga más que la masacre, me gustaría que, cuando cante el tema “Sodade” en Tel Aviv y Jerusalén, además de pensar en las víctimas caboverdianas e israelíes, piense en Palestina, en los palestinos de ahora y en los de antes de 1948.


Me despido de usted oyéndola cantar “Flor di Nha Esperança”:


Se m’sabia
K’gente novo ta morrê
M’ka tava ama
Ninguem
Ness mundo…[2]



Atentamente,




Àlex Tarradellas, en nombre de Tlaxcala




Notas:


[1] Sodade (en criollo) o Saudade (en portugués) significan morriña, añoranza.
[2] Si hubiera sabido / que la gente joven también moría / no habría amado / a nadie / en este mundo.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Aqui. Hoje

Já somos o esquecimento que seremos.
A poeira elementar que nos ignora
e que foi o ruivo Adão e que é agora
todos os homens e que não veremos.
Já somos na tumba as duas datas
do princípio e do término, o esquife,
a obscena corrupção e a mortalha,
os ritos da morte e as elegias.
Não sou o insensato que se aferra
ao mágico sonido de teu nome:
penso com esperança naquele homem
que não saberá que fui sobre a Terra.
Embaixo do indiferente azul do céu
esta meditação é um consolo.

Jorge Luis Borges

Soneto da Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinicius de Moraes

Gosto quando te calas

Gosto quando te calas
porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Break

Estou num Cyber. Da vidraça, a rua está tão fria. De fazer respeito a qualquer urso polar. E, ainda por cima, chove. Barack Obama começou por decretar o fim da prisão em Guantánamo. Eis a diferença: há presidentes que defendem o "poder de não torturar" prisioneiros. Aliás, torturar é apanágio dos facínoras e estou pronto a apedrejar os torturadores. Leio que os cientistas brasileiros descobrem o plástico parecível. Viva a Ciência! Ainda há bocado acompanhei, pela CNN, uma reportagem sobre o degêlo do Ártico. Fiquei com pena do urso polar. Em verdade, fiquei com pena de nós. Estou num Cyber. O aquecimento global é realmente uma calamidade. Será que Obama dará um jeito nisso? Pleaaaaaase...a rua, entretanto, continua fria.

Cronicarrrrrrrrrrrrr




Cronicarrrrrrrrrrrrr

Às vezes, escrever é não ficar nas meias tintas que agradam a gregos e a troianos. Tampouco é paparicar cabo-verdianos: badios e sampadjudos. Outras vezes, é baralhar o jogo da esquerda e da direita. É jogar um petardo em cima da pasmaceira parlamentar e gritar para que, de borco, se acordem os porcos (aqueles que sons, arre). Com imunidades, água Caramulo e tempo de antena…

Hussein Obama

Tomou posse na terça-feira o 44º Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Hussein Obama. O que se espera de Obama? Que não tenha medo de fazer rupturas, de abalar o ‘status quo’, de agitar as águas. O mundo precisa de mudança como pão para a boca. Entre as principais promessas do novo Presidente dos EUA estão a retirada das tropas norte-americanas do Iraque nos próximos 16 meses, o início do diálogo com o conjunto de países que George W. Bush apelidou de «eixo do mal», as reformas do sistema de saúde norte-americano e o apoio aos mais desfavorecidos nas suas políticas fiscais. O que se espera de Obama é que seja um grande humanista e jamais um “imperador”…

Revisão Constitucional

Somos 100% pela oficialização da língua cabo-verdiana. O pleno reconhecimento das Línguas da República: o cabo-verdiano, como língua materna e o português, ambos patrimónios culturais do país e veículos de comunicação determinantes para a nossa identidade e inserção no mundo. Doravante, aprenderemos a escrever e a falar melhor o português como 2ª Língua e alfabetizaremos as nossas crianças na primeira língua, aquela da emotividade ulterior…

Boa Governação

Não nos contaminamos pelo pessimismo de alguns opositores. Este Governo, com muitos problemas ainda por resolver, é o melhor da história de Cabo Verde. Deploramos umas coisas e saudamos outras coisas. Fiquemos pelas boas causas. Saudamos o programa “Casa para todos”, moradias sociais e económicas, prioritariamente destinadas às camadas de menor rendimento e aos jovens que precisam de habitação. Saudamos também o programa “Cada Professor, Cada Aluno um Computador”, facilitando acesso fácil as Tecnologias de Informação e Comunicação, através de 150 mil computadores à disposição dos diferentes níveis de ensino. Boa Governação…

Justiça

O sector que mais nos preocupa é a Justiça. Incompetência e laxismo. Morosidade e irresponsabilidade. A incapacidade de julgar os juízes. Deploramos compartilhar a liberdade com criminosos confessos e condenados julgados. Jamais seriamos abjectos justiceiros. A linha que nos distingue dos bárbaros é não nos deixarmos levar pela vontade de esganar certos criminosos, mas pagarmos para que os juízes façam Justiça. O problema é quando estes, metendo os pés pelas mãos, escusam-se de condenar criminosos e não se importam os libertar por estes dias…










segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Amilcar Cabral


Make a joyful noise


AP Photo/Jae C. Hong

Sibilo


Sibilo me lembra serpente
Serpente me lembra bote
Bote me lembra picada
Picada me lembra veneno
Veneno me lembra teu beijo
Teu beijo me lembra desejo
Desejo me lembra amor
Amor me lembra prazer
Prazer me lembra teu corpo
Teu corpo me lembra sonhar
Sonhar me lembra te amar
Te amar lembra
Morrer de paixão



Rômulo do Amaral Filho

Notas lisboetas

Estou em Lisboa. Lisboaaaaaaaa. Chuvosa e fria. Mas acolhedora. Lá no fundo Lisboa aquece sempre. Refiro-me à alma. Uma coisa, sei lá, da infância. Ninguém entenderia. E ainda bem que assim é. Um turbilhão de coisas invade o meu pensamento: o cessar-fogo em Gaza, o dia de Martin Luther King Jr., o feriado em homenagem a Amilcar Cabral e a posse de Barack Obama, amanhã. Penso noutras coisas que não escrevo. Não porque tenha receio ou pudor. Mas, porque são minhas, património da minha solidão existencial. Penso poemas que resguardo. Penso, logo existo, poemas que trespasso. Daqui a nada tenho encontros profissionais. Do irrepreensível salão, onde os administradores começam a chegar e se descortina Lisboa do Marquês ao Tejo, nós, consultores, posicionamo-nos com tabelas estatísticas, gráficos e mapas, que nem tudo nesta vida é poesia. Há as crianças calcinadas em Gaza. Não consigo ser feliz. Qualquer forma de nazismo me dá asco. Ai, este estômago de passarinho. Ai, isto e aquilo, este purismo de pensar que a vida se resume, como vaticinaria Conde de Silvenius, à metaforização do discurso. O pensamento está condenado. Existencialmente condenado. Estou em Lisboa. Lisboaaaaaaaa...

domingo, 18 de janeiro de 2009

freedom, o sofrimento injusto da Palestina e o nossos fascistazinhos



1.
Enquanto George W. Bush parte para a solidão do seu rancho no Texas, verdadeiro "Sequestrado de Altona" é o que me parece, Barack Obama promete olhar em frente e garantir ao mundo "a new birth of freedom". Esta mudança, que se quer além de simbólica, poderá ser a inversão da ideologia e das ideias egoístas, dos preconceitos e da discriminação, do neoliberalismo selvático e globalitário. Do neoconservadorismo criminoso à escala mundial. Um novo mundo é possível. Estamos aqui, atentos, com eyes of beholders...
2.
Boaventura Sousa Santos escreveu: Está a ocorrer na Palestina o mais recente e brutal massacre do povo palestiniano cometido pelas forças ocupantes de Israel com a cumplicidade do Ocidente, uma cumplicidade feita de silêncio, hipocrisia e manipulação grotesca da informação, que trivializa o horror e o sofrimento injusto e transforma ocupantes em ocupados, agressores em vítimas, provocação ofensiva em legítima defesa.
3.
Em Cabo Verde, as coisas estão mais hilariantes que nunca. Os homens da inJustiça, tanto da motherboard como dos periféricos, passando pelos advogadinhos da desOrdem, deixaram cair a máscara e ficou-nos a face inDigna e desAgradável da cretinice. Ponham-nos todos cá fora, ponham-nos todos em liberdade, com ou sem habeas corpus, jurisprudência, doutrina, essas merdas que, de repente, nos dão a impressão que tudo não passa de uma maquiavélica brincadeira.
4.
A proposta de revisão constitucional dos gajos admite base militar estrangeira? Não acredito. Se calhar, está-se a pensar numa alternativa a Guantanamo. O pessoal é cá de uma inteligência! Depois dizem que os nossos fascistazinhos não são capazes de rasgos interessantes! Depois dizem que não temos ainda palhaços PDM! Agora a sério: a imbecilidade tem limites, companheiros...


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Inn & Out...off-line

Putaria geral

Não quero acreditar. O juiz conselheiro Raúl Varela, do STJ, emitiu um despacho a autorizar a soltura de José Barbosa, condenado em primeira instância a 25 anos de prisão por envolvimento em crime hediondo no bar Inn & Out, da cidade de Roterdão, na Holanda, a 19 de Setembro de 2005. Preso em Cabo Verde, o criminoso fora acusado de três homicídios agravados, três de assassinato na forma tentada, dez de roubos e dez de sequestro. Para além desse diabólico quadro, sobre ele pesaram ainda outros crimes, quais eram os de roubo de veículos, porte e utilização de armas proibidas, incêndio, ameaça de morte, uso continuado de documentos falsificados - um total de 36 crimes.
Templo Maior
A Justiça Federal brasileira decidiu, há dois dias, investir contra a TV Record e a Igreja Universal do Reino de Deus, em consequência de um processo crime aberto pelo Ministério Público do Brasil. Na sequência das últimas investigações criminais, foi emitida uma ordem de prisão contra Edir Macedo, “bispo” daquela igreja e contra seis directores da TV Record. Recorde-se que a TV Record está licenciada em Cabo Verde. Pode?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

UNDI KI N DEXA NHA KURASON

(NA SON DI NHU SANTU AMARU)

Sintinela di madrugada
é ka strela é ka galu
é bu kurason ta da stalu
ondias di mar ta subi txada

ta konta stória di enkantada
sonbra di noibus ta kore kabalu
riba di bu kosta dja kria kalu
skalabradu onti na fiu di spada

seru kubri berdi na talu
lágua di séu nen un pitada
dja N xinti bu alma ta da abalu
boka fitxadu ka ta fla nada

agu ta kore tudu labada
dja é ka vos ta faze koru
múzika bu boka kré bira txoru
bu formozura kaba na nada

nhos da-m nha gaita ku nha inxada
pa N ba invoka nhu sant' amaru
pa bu spritu ser más ki baru
ô puera lebi ta kubri txada


JOSÉ LUIZ TAVARES

January 16th, 1832



Tide, nome de pia e de cartório Aristides Monteiro, parece-me certo e no-lo diz: "dia da liberdade e da democracia" soa-me desonesto, enviesante e uma nítida tentativa de se reescrever a história. E João Branco - em verdade lhe digo nem sempre gosto, nem sempre desgosto, ora faz mal aos nervos o café, ora ajuda este coração, que nem o chocolate, quando margoso - pergunta como baptizar o laptop crioulo. De primeiro, esse laptop, contrariamente à tecnonolgia do Magalhães, não seria crioulo, mas sim a sua aplicação massiva e universal pelo vasto campo educacional cabo-verdiano, iniciativa que aplaudo aqui de pé - boa, zemaria, vai nessa que é bom à beça! - esta sim, será crioulíssima da silva. Cá por mim, se me é dado sugerir, seria FANDATA, que, em crioulo fundo e ancestral, proto alupekianu até, significa procurar e vasculhar, e aparenta a FIND OUT, em língua de Shakespeare, com semântica afim, carago. FANDATA também foi nome de um motor de busca, esboçado por Ginho Elias, irmão de Mito, em nossos tempos idos de Boston, quanto todos vós, ainda analógicos, chuchavam nos dedos. E Margarida Fontes tem razão. A atribuição de nomes a ruas, praças e estátuas, independentemente das vontades partidárias, políticas, ou de grupo é uma questão sensível e deve sempre partir de argumentos claros e consensuais de ordem histórica, geográfica, cultural ou mesmo simbólica. Dose essa de trocar a rua da Capela pela rua de Eusébio, não pondo eu em causa o mérito futebolístico do Pantera Negra. A toponímia tem de ter muita causa e não menos consequência. Desse modo, e por modo de sabe Deus como, terá sido acto provinciano. Já o celebrar Darwin aplaudimos. H.M.S. Beagle arrived at the Cape Verde Islands on 16 January and anchored at Porto Praya, on the island of Santiago (spelled St. Jago, in Darwin's narrative). Darwin went ashore with two officers and rode to the village of Ribeira Grande, a few miles east of Porto Praya, to visit some Spanish ruins there, and returned to Porto Praya the next morning. On another day Darwin headed for St. Domingo, but became lost along the way and ended up at the village of Fuentes before heading back to the Beagle. Ide, agora, mesmo que sem maratonices, in celebration of Charles Darwin, colocar uma placa na Praia Negra. Canta, irmão, canta, meu irmão, tralalá, etc & tal...Entrementes, os deuses (e seus acéclas) devem estar loucos...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O prazer de viajar bem


Demokracia


Na macropolítica, é o blá-blá-blá que a gente estudou e termos saco para alinhar com Churchill em Demo, Demo, Demo, Demoka o menos indecente dos regimes conhecidos. Poderíamos, por exemplo, estar a aturar Robert Mugabe ou Nino Vieira, arre. Por isso, damos graças à Iemanjá e aos gaiatos do templomaior pelos déspotas de baixa intensidade que nos povoam as esquinas e que nos fazem pequenos abusos de trazer por casa. Na micropolítica, já nos bastaria que o vizinho não ouvisse zouk à 1 da madrugada, nem soltasse o doberman para cagar à nossa soleira. Igualmente já seria de bom tamanho se a Electra não nos cobrasse a energia e a água através das estimativas. E, já agora, que a TACV tivesse a decência de nos tratar como clientes. Há dias, viajei nessa companhia entre São Vicente e Praiamaria e...isso não é democracia!


sábado, 10 de janeiro de 2009

Terminador, Pessoa & anos a cumprir



Justiceiro em Cena Mix


Ides ao programa "da Rosana" lavar más consciências e paleios defensivos que o vosso legalismo (oxalá escola não faça) impõe à sociedade. A saciedade, que faz de nós cobaias de uma justiça de chacha, chega a ser letal. Prudente foi o meliante que, ciente de ser linchado num dos blackouts da Electra, se entregou à choça, lúgubre de onde não deveria ter saído. Podeis escrever crónicas doutas, de pseudointelectocracia e estranha jurisprudência, que não me convenceis da democratura de estarmos a comer pincho & churrasco, à cervejaria estupidamente gelada, entre facínoras, thugs & violadores. Nisso não tendes poesia. Surrealismo fora da Arte denota uma cloaca mental. Naturalmente que gostaria de ver a justiça cabo-verdiana em 3D, mesmo depois do fugaz encontro entre José Maria Neves e Jorge Santos. Ou a animação em vídeo, com versão para Playstation 3.



Outra pessoa


Há um poema de Fernando Pessoa que mexe comigo. O nosso existencialismo, por ser infernal o outro, será sempre relacional. São estes versos:


Como é por dentro outra pessoa

Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo

Com que não há comunicação possível,

Com que não há verdadeiro entendimento.


Nada sabemos da alma

Senão da nossa;

As dos outros são olhares,

São gestos, são palavras,

Com a suposição de qualquer semelhança

No fundo.



Anos a cumprir


Regressando a Praia, cidade que me abraça como nenhuma, dou de caras com o aniversário da minha irmã Benilde Filomena Correia e Silva. Na intersecção entre o corpo e a alma, em cuja rama o verbo se me revela sempre poético, só sei que a Eternidade nos beija a fronte e, em dias de frio e de vento, nos promete paz, muita paz, nestes anos a cumprir...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Cena Mix

Suhaib Salem / Reuters

Não vou aqui contar da cena mix do ponto G. Nem vou dizer sobre o high dos diabos que o bom joint permite. Cada um tem de comer a sua maçã (permitida ou proibida, não importa) e se apartar do seu próprio paraíso. No meio destas reflexões, que perfeitamente abonariam os termos de referência para a revisão constitucional, uma fotografia mostra a cabeça ensanguentada de Kaukab Al Dayah, uma menina de 4 anos, entre os escombros da sua casa. Pelo menos 257 crianças morreram e 1.080 ficaram feridas - um terço das vítimas registadas desde 27 de Dezembro - segundo dados divulgados pela ONU ontem. Mas falava aqui do ponto G e não de Gaza...


P.S. - Cena mix, porque, nesta confusão toda, nos aquietamos Eros, Ludus, Estorge, Ágape, Pragma e Mania. Aí, aparece Zeus a nos separar em duas metades, temendo Ele a nossa completude. Fazer o quê? Zeus é foda...


P.P.S. - Escrevo com vista para a Baía do Porto Grande, no Mindelo. Albatroz agradece de coração ao Inspirado que criou esta paisagem. Uma cidade outwear. Fashion. Por isso, fugaz. Como esta minha rápida passagem...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Inútil filosofia

Inútil filosofia de trazer por casa

Que a vida se reparta em beijos, leite e pão, como diria Pablo Neruda, é tudo que pedimos ao Deus dos judeus. E não perderemos completamente as esperanças num mundo melhor e, à segunda taça de um bom tinto, achamos a porta que se abre a cada uma que se fecha. O nosso dilecto Dimitri Túlio vaticina: PORQUE FOMOS DESMENINADOS, crescemos achando que somos melhores que um jumento ou um sabiá. Quando há pôr-do-sol, esquecemos o estado da (in) justiça cabo-verdiana, Gaza, Mugabe e outras merdas, e imaginamos os teus olhos de haver madrugada. Apetece dizer-te, assim em Joint: Tarte della nona, amore...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Homenagem à Trégua


Hay que endureserse...
Che Guevara

Kumunikadu...rsssssssssssssssssss


John Noanesing
O Conselho Superior da Magistratura Judicial, reunido em sessão extraordinária no dia 06 de Janeiro de 2009, para apreciar os últimos acontecimentos relacionados com a Administração da Justiça, nomeadamente a soltura de um arguido condenado já em primeira instância por crime violento, dado o excesso de prisão preventiva no Supremo Tribunal de Justiça, e a reacção que esses factos suscitaram junto da opinião pública, decidiu tornar público o seguinte pronunciamento:

A soltura de qualquer arguido por inobservância pelos tribunais dos prazos de prisão preventiva constitui sempre factor que concorre para o descrédito do sistema judicial, revestindo-se de superior gravidade quando a sua ocorrência é atribuída à omissão do Supremo Tribunal de Justiça.

Importa, porém, ter presente que a controvérsia à volta dos prazos da prisão preventiva surge num contexto de reformas legislativas introduzidas com a melhor das intenções no sistema, mas desacompanhadas de qualquer elemento doutrinário capaz de explicitar o sentido e o alcance das disposições, sobretudo daquelas rodeadas de uma grau de ambiguidade, perfeitamente evitável, e que só serve para facilitar a sua futura exploração junto dos tribunais, com intuitos meramente dilatórios e de clara obstrução da realização da Justiça.

Convém notar que os Tribunais em Cabo Verde foram nos últimos anos confrontados com desafios sem precedentes em matéria da sucessão das leis. Em 2004 e 2005 foram introduzidos de uma assentada um Novo Código Penal e um Novo Código de Processo Penal. Contudo, contrariamente às legítimas expectativas dos operadores judiciários, à semelhança do que se passa nos restantes países mais avançados, nenhum manual, nenhum comentário doutrinário às novas leis, nenhum auxiliar de interpretação foi publicado até hoje para explicitar o sentido das mesmas sobretudo na parte em que pretendem constituir soluções inovadoras.

É a jurisprudência dos tribunais que se tem encarregado de tentar fazer a interpretação casuística das novas leis e decifrar o seu verdadeiro sentido. Trata-se, porém, de uma tarefa que, no contexto descrito, não deixa de comportar dificuldades e riscos de monta.

A questão dos prazos da prisão preventiva, que esteve na origem dos "habeas corpus", é exemplo paradigmático do que se acaba de dizer.É manifesto que se formaram no interior do Supremo Tribunal Justiça duas correntes ou sensibilidades jurisprudenciais:

a) uma sustenta que, uma vez o processo declarado de especial complexidade, e elevado o prazo da prisão preventiva, os prazos subsequentes são automaticamente alargados, sem necessidade de qualquer outro despacho judicial.
b) a segunda corrente jurisprudencial, que se deu a conhecer nestes últimos dias, no âmbito da apreciação dos pedidos de "habeas corpus", rejeita a tese da prorrogação automática dos prazos, baseando-se naquilo que considera serem as especificidade s da legislação cabo-verdiana.

Essa divergência jurisprudencial no seio de um Supremo Tribunal é perfeitamente natural e, apesar dos resultados a que possa conduzir, não pode dar azo a qualquer iniciativa de responsabilização disciplinar sob pena de se violar o princípio constitucional da independência dos juízes.

Ciente da delicada natureza da questão e do risco de um potencial conflito de jurisprudência com efeitos nefastos para a segurança jurídica e a credibilidade do sistema, o Conselho Superior da Magistratura não pode concluir este pronunciamento sem instar os órgãos de soberania, com competência na matéria, para a necessidade imperiosa das reformas para o sector da Justiça, insistentemente reclamadas por este Conselho, nomeadamente a reestruturação do STJ num novo figurino, com um número de juízes suficiente para as sua necessidades e condições adequadas a harmonizar as divergências interpretativas que naturalmente possam surgir no seu seio.
Albatroz: rsssssssssssssssssss...

...shall not perish from the earth!



Não é que Barack Obama continue calado enquanto Israel despeja bombas em Gaza. Há bombas despejadas também no Iraque, no Afeganistão, no Congo, no Sudão e, em mais baixa intensidade, mas em igual desumanidade, em várias partes do Planeta, e Barack Obama continua calado. Que Obama seja um apoiante do Estado de Israel, tudo bem. Não é Israel, nem o povo judaico (a Palestina e o povo palestiniano também não o são), o busílis da questão, mas a carnificina humana (desumana, queria eu dizer) que ocorre neste momento em Gaza. Uma pornografia. A mesma chacina espalhada um pouco por todo o mundo. Entrementes, não havendo no mundo dono ou polícia, não reconhecendo ao Império a obrigação de se pronunciar (ou de intervir), quase sempre desastrosamente, sobre os conflitos, até porque estaríamos a admitir implicitamente um novo colonialismo globalizado e unipolar, teríamos de questionar o nosso silêncio sobre a barbárie e os novos holocaustos, e a nossa apatia enquanto Golias sodomiza vergonhosamente David. Deixemos, noblesse oblige, que Barack Obama seja empossado e que o Estado, a que tem direito e responsabilidade, se cumpra. Apesar da desgraça humana, mister que o homem tenha, de todos nós, inclusive os da Bloga (quanta honra!ahahahaha) o seu período de graça. Queiramos que o government of the people, by the people, for the people, shall not perish from the earth, conforme o vatícinio de Abraham Lincoln, em Gettysburg, se realize. Enquanto isso, sejamos consequentemente em prol dos Direitos Humanos...não se riam, pleaaaaaaaaaaaaaaase!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

2009: e se o Ambrósio chegasse

Na primeira crónica do ano, queria estar optimista e esperançoso. Embevecido quanto ao futuro. Crente de um Deus que não protege as crianças de Gaza. E zangado com os demónios que não levam de vez Mugabe e os ditadores afins. Queria estar, meio idiota, a achar que este País será um tigre asiático. Suiça da África. Ou a potência dos Rios da Guiné, onde, outrora, como “lançados”, traficávamos escravos e, ora, olhamos de soslaio, com olhos de “parceiro estratégico”, diga-se, os desgraçados da Costa. Na crónica a abrir 2009, queria estar positivo, uma soma algébrica de patriotismo, olhando-nos, de Santo Antão à Brava, passando pelos sampadjudos & badios e roçando pelas lojas chinesas. Talvez aprenda o Hino este ano e consiga ficar hirto e sisudo, em sentido de Estado, na fífia e no flato de uma orquestra que maltrata o incandescido verso. Talvez corra atrás do Carnaval, da tabanka, dos comícios e dos festivais, bem como doutras enchentes, que esta sociedade caudalosa concede. Talvez eu fique à margem de tudo, no miradouro onde o oceano se perde, e navegue com estas ilhas para o Sul. Queria estar acordado para quando chegasse…o Ambrósio.

Constituição da República & não só

A pauta queria que eu escrevesse sobre a Constituição da República, mas retive o rosto contorcido de uma criança em Gaza City e, por mais que tente, não consigo desviar os olhos dessa cena. Uma criança no leito do hospital, ali no Late Edition, da CNN. Outra tragédia trespassa os meus dias. A mulher, de 28 anos, morre de Sida e o marido, também de 28 anos, se suicida. O casal deixa duas crianças à mercê da solidariedade que, felizmente, se faz pronta e pragmática. Naturalmente que eu gostaria de ver a Constituição da República revista. É um desejo que guardo desde 1992, quando a mesma fora aprovada. Ela vinha, embora moderna (ou recente, como corrigira um grande amigo), com os seus desacertos à partida, alguns que se provaram de lesa governabilidade. Respeitámo-la, entretanto. Como se respeita um Hino ou uma Bandeira, de que não se morre de amores. Revisemo-la e toquemos o barco para a frente que “navegar é preciso”. Em verdade, o que me toca a alma são os casos humanos. O rosto contorcido de uma criança em Gaza City…

Ano Novo

Como não tive a ventura de ir ao baile, não sei se a primeira madrugada do ano tenha sido de promessas. Entristecido com 2008, que foi de assaltos, violações & outros crimes, achei por bem ficar em casa. Não para cantar Feliz Ano Velho. Para esconjurá-lo. Para reler um conto de Ruben Fonseca, em que um gang de favelados invade a festa da classe média carioca e faz uma grande fuzilaria. Igualmente, fiquei horas a assistir, pela televisão, o “airstrike” dos israelitas contra o Hamas. Juro-vos que já não podia escutar aquelas músicas de Boas Festas e Recordai, mais chatas que as sessões de um templo maior que uma estação televisiva de duvidosa qualidade anda a nos presentear. Mas Ano, como família, não é para se escolher. É para cultivar. Esperando, aliás formulando votos, que seja melhor, muito melhor que o anterior. Deus tem…

Gaza

By José Saramago

A sigla ONU, toda a gente o sabe, significa Organização das Nações Unidas, isto é, à luz da realidade, nada ou muito pouco. Que o digam os palestinos de Gaza a quem se lhes estão esgotando os alimentos, ou que se esgotaram já, porque assim o impôs o bloqueio israelita, decidido, pelos vistos, a condenar à fome as 750 mil pessoas ali registadas como refugiados. Nem pão têm já, a farinha acabou, e o azeite, as lentilhas e o açúcar vão pelo mesmo caminho. Desde o dia 9 de Dezembro os camiões da agência das Nações Unidas, carregados de alimentos, aguardam que o exército israelita lhes permita a entrada na faixa de Gaza, uma autorização uma vez mais negada ou que será retardada até ao último desespero e à última exasperação dos palestinos famintos. Nações Unidas? Unidas? Contando com a cumplicidade ou a cobardia internacional, Israel ri-se de recomendações, decisões e protestos, faz o que entende, quando o entende e como o entende. Vai ao ponto de impedir a entrada de livros e instrumentos musicais como se se tratasse de produtos que iriam pôr em risco a segurança de Israel. Se o ridículo matasse não restaria de pé um único político ou um único soldado israelita, esses especialistas em crueldade, esses doutorados em desprezo que olham o mundo do alto da insolência que é a base da sua educação. Compreendemos melhor o deus bíblico quando conhecemos os seus seguidores. Jeová, ou Javé, ou como se lhe chame, é um deus rancoroso e feroz que os israelitas mantêm permanentemente actualizado.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Blogtrotters



É como te digo

J'ai fait un tour en ville, rien n'a changé. A mesma pasmaceira. Ei-lo no impoluto jeep: il Padrino della mafia. Ninguém o fuzila. O resto é a cidade a pedir semáforos, tunéis, viadutos, museus, centros culturais, esplanadas, parques, festivais de jazz, adrenalina...


No chat

És das poucas com resolução para 2009. Lá estás tu, minha Sereia: tenho tentado reestruturar-me na busca de tempo para mim... não tem sido fácil estar comigo própria. Se souberes de mim diz-me qualqquer coisa.


Se quiseres o meu aplauso

(...) Estatuto Administrativo Especial para a cidade da Praia, Oficialização da Língua Cabo-verdiana, Salário Mínimo Nacional, Museu Nacional, Comemoração da chegada de Charles Darwin à Praia, cada criança seu computador, essas coisas...
Mamma mia

Todos os meus versos têm gosto à fruta. Somos frutais nesta estação dos instantes...
Joint?
Blogtrotters, uní-vos!

Corporal


Estado da Arte
Eu não falaria da Arte do Estado. Nunca. Da sóbria criatividade com papel passado, queria distância. Tudo o que me lembra Realismo de Praga é um nojo. Até porque vejo o Estado como promotor e jamais podutor da Cultura. Naturalmente que na cadeia cultural o Estado terá sempre um papel importante. Ele tem os recursos e os meios, as nossas contribuições afinal, para facilitar a Arte que nós vamos fazendo.
Estado de Guerra
O exército israelita invade Gaza e inicia o extermínio do Hamas. Os terroristas judeus e os terroristas palestinianos (não confundir com os dois povos, naturalmente) enfrentam-se numa Terra escrita algures como Prometida. Acompanho, pela CNN - não sem o certo sadomasoquismo de todos -, o desenrolar da Guerra. Nem o Talmude, nem a Bíblia, nem o Corão, nem nada. Os demónios estão soltos e incendeiam a Humanidade...
Estado da Bloga
Regressa ao nosso convívio o Blog SoPaFla. Kamia não adiciona apenas quantidade, mas incrementa também qualidade à Blogsfera. Estamos todos em aproximações, roçando, ao de leve, as novas verdades de cada dia, mesmo que estas, para os outros, sejam retumbantes mentiras. Aliás, é tudo fragmentos, pedaços, lapsos de um grito (sem eco) dos deuses. Concedamo-nos à Bloga e ao resto, amén...
Estado do Tempo
De onde estou, o tempo está ventoso, com núvens de pequena vaga, apenas 24 graus centígrados. Já imaginaste o Estado a fazer Arte Corporal? No dia 7, iremos desmontar a árvore natalícia. Já não faz sentido que ela nos carnavalize por mais tempo. Que os Reis Magos retornem às suas cidades. A cuidados que a aviação israelita anda por aí a matar...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

janeiro intravenoso


Há destruições que me parecem certas artes. Tzara e o pessoal Dada, bem como o da Bloga, não teriam tamanha imaginação. Nem intuição. Folclocre revertido, borrado de poesia e de pintura, mas devagar. Fazeres poemas alexandruscos como as telas de cadamostos feiosos, compreende-se. Agora, reduzir Gaza a escombros! Fez-me lembrar o bombordeamento massivo do Iraque. Os artistas de tal morte estavam a destruir o Jardim do Éden. Os neofascistas, mesmo quando mascarados, são antropófagos. Têm mandíbulas sangrentas. Bombas e mísseis sobre o paraíso dos diabos. A guerra dos titãs. Abjecta fotografia esta. Tendes medo de chamar o nome aos bois? Sabeis dos bois que voam. O Conde Nassau quis que a gente visse seu boi a voar sobre a ponte de Recife. Estou aqui a ouvir Chico Buarque: É fora, é fora, é fora/É fora da lei, é fora do ar/É fora, é fora, é fora/Segura esse boi/Proibido voar. É janeiro intravenoso, qual sangue das crianças de Gaza, numa transfusão que me embriaga. Se calhar, me torno homem de certas artes. Se calhar é tudo pesadêlo, o boi nem voa e a Capela Sistina seja puro alarde. Se calhar, esse lacre derretido sou eu. Talvez sejas tu. E a 2 de janeiro...de um ano amiúde guedelhudo e insolvente. Vão por mim: este é um ano impróprio para consumo...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Para que não fique em acta


Neste re-starting point, o albatroz vem descansar ao galho de janeiro. Reveillon, passei-o em banho de espuma e de sais. Horas esquecidas entre o caleidescópio do pensamento e o sabonete de pétales de rosa. Olho as pessoas do Ano Velho. As que me frequentaram - umas, com caririnho, outras com animosidade -, antes do champanhe de ontem à noite. Oiço-lhes a voz e sinto-lhes o silêncio. Sejam felizes neste Ano de Boi, deixem-se estar no tictac das horas. Embora não pareça, mas o albatroz ama as pessoas do Ano Velho. E era do re-starting point este post. Eis o mastodonte: disforme & transbordante. O ano que começa. Enquanto dançavas, algures num clube da cidade, a aviação israelita continuava a bombordear a Faixa de Gaza. Entre um zouk-love e um house, no desenfreio que não poupava os teus cabelos desfrizados, nem fazia vénia ao teu vestido com madrepérola (falsa que fosse, ora), Mugabe cometia o pecado de continuar vivo e a incompetência da justiça cabo-verdiana nos dejectava uns assassinos fdp nesta cloaca pdm. E balouçavas o corpo, de olhos fechados, que a ruidosa música não te contava dos ditadores e as suas honras de Estado. A Constituição Nacional é uma espécie de bula de xarope. Às vezes, passa do prazo. Outras vezes, excesso da Magna é overdose. Letal como da heroína. Não pretendo ser imortal, não pretendo ser filósofo, não pretendo ser numerário na blogsfera: estou a respirar e Deus há de me facturar por isso. O escritor António Lobo Antunes é que retrata bem o albatroz. Umas vezes estou redondo, outras quadrado, outras cheio de picos, outras liquefeito, outras não estou sequer: deslizo por aí armado em nuvem...