sábado, 30 de agosto de 2008

Calor

Faz tanto calor em Paris que não me apetece estar à rua. Até o poema, que estava pronto a sair, ficou derretido, inconseguido de todo. Aproveito a oportunidade para felicitar Os Momentos e dar as boas-vindas a Setembro. Ponho a correspondência em dia: a Televisão da Galicia pretende fazer um filme sobre o naufrágio de Guadalupe IV e sobre a vida de Eugénio Tavares; aceito participar da Semana Cultural Cabo-verdiana em São Paulo; sim, preciso de ar fresco, vou mudar de escritório; gosto do forward sobre as oportunidades empresariais em Dubai; o postal sobre "french kiss" também está giro; Alain Ducasse é uma estravagância; não sei se vou a Canárias falar sobre Cultura y Insularid. Faz muito calor...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Paris



Chega-se a Paris à noite e a Torre Eiffel, agora azulada e com as estrelas da União Europeia, se nos apresenta da vidraça do automóvel. Fala-se da arte em Cabo Verde, por causa da postagem anterior. Em verdade, fala-se da falta dela. Refira-se não à falta-quantidade, mas à carência da sua qualidade. Aliás, nada de complascências: faltará "arte" à Cultura, à Política, à Economia, ao Desporto e à Sociedade. Nelson Évora, Nani, Cesária Évora, Horace Silver, Mayra Andrade, Sara Tavares, Donaldo Macedo e Arménio Vieira, só para citar uns, entre outros, servirão para confirmar a regra.


Pré-orbitário

Pressente-se

Minha dor antiga – de Pessoa, alter-ego desta cidade – pressente-se sempre que me encontro em Lisboa. Entre triste e contente, ressente-se ela de transeuntes olhares e do adjectivado halo da Madragoa. E quando se me ateia certo fogo, que em ti só crepita no vagar destes dias, preciso da minha solidão de Lisboa.


Espero-te no Sal

Na Livraria Bertrand, dou de caras com o livro “Espero-te no Sal, Nina”, de Maria Roma. Um amigo já me havia falado deste romance que tem a Ilha do Sal como pano de fundo, elemento que por si só torna o livro “com interesse”. Mas ele foi avisando que era prosa ligeira, com drama incandescido e narrativa de pouco fôlego. Ao folheá-lo (como bom “browser”, já que sou bibliotecário, para além de bibliófilo), confirmo alguma ingenuidade de alguém que não terá lido “O Retrato de Doris Gray” e o exotismo recorrente a retratar o espaço que, por sinal, precisa de exorcismo a um certo turismo…


Dos sátiros

Recorro a “Satyricon”, de Gaio Petrónio, como livro de viagem. Esse texto, não só relança a tradição literária que lhe era anterior (a de Homero, Virgílio, Sófocles e Plauto), como aponta (e apronta, diga-se em verdade) para o que é hoje a modernidade da prosa discursiva. Tal como a “Bíblia”, “Satyricon” é também uma compilação de textos ou o livro dos livros. Petrónio, cuja façanha de haver “gozado o Imperador Nero” o meu pai contava nos confins da infância, nos ensina a cada momento que, na vida, somos apenas passageiros ocasionais…


Estado da Arte

Contrariamente à Arte do Estado, teríamos de investir no Estado da Arte, conceito nas antípodas da realidade que se vive em Cabo Verde. Igualmente, teríamos de destrinçar os “valores” dos falsos profetas que dormem poetas, sonham pintores e acordam cineastas. O que faz falta (não para animar, mas para educar) à malta é o sentido de, ao cognitivo, ao herdado e ao adquirido, investirmos na qualidade e na consistência. Vamos, pois, todos (não se admitem arrogantes, sobretudo os betinhos) entrar no pré-orbitário…

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Fuligem, riso e vertigem

Na pedra – água que rumoreja.
No gargalo do mar - ali gorjeia:
Ave sem voo, rima e penugem,
Viagem contida num âmbar…

Tornar – algo sem azo, zoeira,
Poeira que, suspensa, se esvai
Do cimo do monte, e nas dunas
Ínsula de areia, broa da ilha…

O Tempo - ruinoso e tão à-toa,
Longínquo no travo e na treva,
Réstias de cacimba, névoa e griso…

De vide, fuligem, sendo verso
Dessa margem, riso e vertigem
Ou fonema virando poema…

FILINTO ELÍSIO

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Meses...a contragosto

Agosto

Augusto mês de Agosto. Quente, meio chuvoso e completamente difuso. Não se consegue fazer poemas em desgosto, já que a mãe morreu neste mês aziago. Em beleza, pois não me quereria ela mortificado e penitente, reincarnando, nas antípodas, Mersault. Não me sói matar ninguém, ainda que me sinta “O Estrangeiro”. Mas este é um Agosto obtuso, sem absurdo, nem (des) ordem filosófica. Que não me permite dispor da solidão. Tão pouco me admite olhar ao espelho. Por onde andará a minha alegria?

Setembro

Quando Agosto caminha para o fim, começo a desabrochar-me para Setembro. Pode até parecer, aos vossos olhos, que estou fazendo prosa com esta minha fase existencial. Acontece que, para o gáudio dos invejosos, Agosto me tira do sério. Fica, por isso, a promessa de entregar os poemas inéditos para a antologia de José Luis Tavares e as crónicas para Sílvio Baptista, não sem antes acertar as fotos com Omar Camilo. Em Setembro já estarei melhor, isto é, caso ainda tenha estrutura emocional para ver a passarinha de pena azul. Fui…

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

El Ausente

I.
Dios insaciable que mi insomnio alimenta; Dios sediento que refrescas tu eterna sed en mis lágrimas, Dios vacío que golpeas mi pecho con un puño de piedra, con un puño de humo, Dios que me deshabitas, Dios desierto, peña que mi súplica baña, Dios que al silencio del hombre que pregunta contestas com un silencio más grande, Dios hueco, Dios de nada, mi Dios: sangre, tu sangre, la sangre, me guía.
La sangre de la tierra, la de los animales y la del vegetal somnoliento, la sangre petrificada de los minerales y la del fuego que dormita en la tierra, tu sangre, la del vino frenético que canta en primavera, Dios esbelto y solar, Dios de ressurrección, estrella hiriente, insomne flauta que alza su dulce llama entre sombras caídas, oh Dios que en las fiestas convocas a las mujeres delirantes y haces girar sus vientres planetarios y sus nalgas salvajes, los pechos inmóviles y eléctricos, atravesando el universo enloquecido y desnudo y la sedienta extensión de la noche desplomada.
Sangre, sangre que todavía te mancha con resplandores bárbaros, la sangre derramada en la noche del sacrificio, la de los inocentes y la de los impíos, la de tus enemigos y la de tus justos, la sangre tuya, la de tu sacrificio.

I I.
Por ti asciendo, desciendo, a través de mi estirpe, hasta el pozo del polvo donde mi semen se deshace en otros, más antíguos, sin nombre, ciegos ríos por llanos de ceniza.
Te he buscado, te busco, en la árida vigilia, escarabajo de la razón giratoria: en los sueños henchidos de presagios equívocos y en los torrentes negros que el delirio desata: el pensamiento es una espada que ilumina y destruye y luego del relámpago no hay nada sino un correr por el sinfín y encontrarse uno mismo frente al muro.
Te he buscado, te busco, en la cólera pura de los desesperados, allí donde los hombres se juntan para morir sin ti, entre una maldición y una flor degollada. No, no estabas en ese rostro roto en mil rostros iguales.
Te he buscado, te busco, entre los restos de la noche en ruinas, en los despojos de la luz que deserta, en el niño mendigo que sueña en el asfalto con arena e olas, junto a perros nocturnos, rostros de niebla y cuchillada y desiertas pisadas de tacones sonámbulos.
En mí te busco: ¿eres mi rostro en el momento de borrarse, mi nombre que, al decirlo, se dispersa, eres mi desvanecimiento?

I I I.
Viva palabra obscura, palabra del principio, principio sin palabra, piedra y piedra, sequía, verdor súbito, fuego que no se acaba, agua que brilla en una cueva: no existes, pero vives, en nuestra angustia habitas, en el fondo vacío del instante — oh aburrimiento —, en el trabajo y el sudor, su fruto, en el sueño que engendra y el muro que prohibe.
Dios vacío, Dios sordo, Dios mío, lágrima nuestra, blasfemia, palabra y silencio del hombre, signo del llanto, cifra de sangre, forma terrible de la nada, araña del miedo, reverso del tiempo, gracia del mundo, secreto indecible, muestra tu faz que aniquila, que al polvo voy, al fuego impuro.


Octavio Paz

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Toada

Margem terceira

Aproveito as férias pagas do pessoal para lembrar aos meus parcos leitores que não poderia escrever sobre o Estado da Nação. Disse ao editor, aos leitores e, sobretudo, a mim próprio que me andava a mancar engenho e arte para tanto. Fiz um genuíno esforço para ir à sessão da Assembleia Nacional e parei um bocado, do anel em que se assiste ao espectáculo do mundo, concluindo saber o que não seria para mim. Andei pelas ruas, vasculhando na face dos transeuntes, mas pude testemunhar um assalto e um acidente. Arre, que te fadaste a escrever estados da alma. Arre, que estás condenado a escrever outras loisas e novas glosas. Crónicas da terceira margem…

Cronos deste quotidiano

E há um cronista de serviço que divide o mundo entre ele, Deus e César. Inclusive, redefine a antologia dos poetas cabo-verdianos. Manda no onírico alheio. Ufana-se dono da República. Classifica os cartáveis e os descartáveis. E, em textos rascas e pequenos, desenha um pequeno Olimpo, onde os deuses da esquina masturbam seus egos. Faz pouco dos substantivos e delicia-se dos adjectivos, e faz, como o desvairado Narciso, de tudo seu espelho. Malhas nos vates e nos bacamartes. Até esse Estado da Nação esvai-se-lhe do próprio umbigo. Adivinhem que dou um doce. Ele é o abade dessa confraria. Procissão dos velhacos, só poderia. Às tantas, quero estar desavindo. Às tantas, quero outros caminhos…

Em dias de alma

Não é que o meu psiquismo interesse a alguém. Tão pouco o nexo dos meus dias se torna coisa pública. Provavelmente, o Estado da Nação suscite mais leituras que os meus interstícios. Os meus desassossegos são só meus e de mais ninguém. Neste Agosto, é o 2º aniversário do falecimento da minha mãe. Por isso, se me permitem, estou em dias de alma. As crónicas reflectem os meus dias, afinal. Mesmo quanto dou gargalhadas efusivas. Fernando Pessoa, numa “depressão sem fundo”, escrevera assim: Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça.

Se bastasse

Tu, como ninguém, soubeste porque eu lia (e lia-te silenciosamente também) os versos de Sophia de Mello Breyner Andreson. Soubeste-o e os meus dias passavam, de tão iguais e à mesma, lentamente. Versos que diziam: Cada dia é mais evidente que partimos/ Sem nenhum possível regresso no que fomos/ Cada dia as horas se despem mais do alimento:/ Não há saudades nem terror que baste…Tu, como ninguém, soubeste ser outra a minha toada. A outra minha estrada (só tu, que me ausentas, nesta margem terceira)…

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Rir

1.O pai da Malu Mader é o Malu Fader
2.. Eu não matei, mandei o Mauricio Mattar
3.. Você não tem, mas o Frankstein
4.. Eu não vou furar. O Juca Kfouri
5.. Aquilo todo mundo vê... Até o Clodovil
6.. Todo mundo só morre uma vez, mas a Alanis Morissete
7.. Eu pulo do barranco. O Luciano do Valle
8.. Você já morou nos EUA? A Marylin Monroe
9.. Você faria papel de trouxa? A Betty Faria
10.. Eu acordo mais tarde. E o Edir Macedo
11.. Ninguém queria pagar a conta. A Cassia Kiss
12.. Eu pinto paredes. E o Jânio Quadros
13.. O marido da Hilda Furacão é o Tony Tornado
14.. O Pateta usa o teclado. E o Mickey Mouse
15.. Eu escovo os dentes 4 vezes ao dia. E o Joãozinho Trinta
16.. Você já esteve na Europa? A Adriana Esteves
17.. Eu fumo. E o Celso, Pitta
18.. Eu gosto de chá gelado. E o Clark Kent
19.. Eu fujo. O Chiquinho Scarpa
20.. Você riu dessas piadas? NÃO? O Damon Hill

NOTA: Estas frases ilárias, que me chegaram em encaminhamento electrónico, servem para rir. É que o stress se tornou uma das principais causas de morte, ultimamente. Por isso...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Equador

Vera Cruz, artista com voz, gesto e atitude (fina flor da Geração Pantera), vai participar no Brasil, como actriz, do filme “Equador”, adaptação do romance homónimo de Miguel Sousa Tavares. Para além do cinema, ela estará também em estúdio a gravar o seu primeiro álbum. Creio que se afirma mais uma estrela na bonita constelação que já é a música cabo-verdiana. Fico contente, em alvíssaras que a minha amiga merece. E nesta co-produção da NBP/PLANO 6 para a TVI, Vera Cruz fará o papel de Eduarda e mais não digo para que o livro seja lido e o filme seja aguardado, bem como o álbum ansiado. Com expectativa…

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Escrever tão-somente



Escrever tão-somente

Há momentos em que escrever é como deambular, sem norte e à sorte. Jogar a bússola na falésia e voar no improvável. Escrever tão-somente com ímpeto. Vela ao vento. Cata-vento. Espavento. Escrever, mesmo sem arte. Com o alarde de nada…

Pôr-do-sol

Pôr-do-sol oblíquo, a puxar para o triste. Chegado ao fim dos poemas, sem remorsos, nem estranhos arrependimentos: os dias afinal sempre foram passados. Cores, sons, gostos, sexos, aromas, corpos, estátuas de cera, as coisas foram passando como num filme. Houve beijos em nuvens e acenos em viagens. Encantos e desencantos. Coisas também vis e negligentes, com que se envergonhar, mesmo a só, no corredor da sorte. Baixinho, aqui entre nós, a balbuciar: o sol a pôr-se…

Palavras

As palavras são coisas, (i) matérias que pesam e ocupam o espaço da intenção. As palavras são gestos ou, quando envoltas de metáforas, gestas. Pronunciadas, até se balbuciadas, elas são pessoas que as dizem e que as escutam. Que as pensam no silêncio. Assim, relendo o Génesis, está o verbo no começo de tudo. O Aleph, como nos indica Jorge Luis Borges. Para que, doravante, nada fosse desimaginado…

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Soljenitzyne

Soljenitzyne

Em tempos, li "Arquipélago de Gulag", de Alexandre Soljenitzyne, com causa e consequência. Li-o em tenra idade, quando, até nestas paragens, uns eram estalinistas, outros eram trotskistas, faces reversas da mesma barbárie. Li-o, como acto formativo humanístico, para que diante de certas verdades eu permanecesse a dúvida e sob certos caminhos cartesianos eu ficasse desavindo. Ao longo da minha vida, balbuciei citações de Soljenitzyne, não só as tiradas no "Arquipélago de Gulag", mas também nos romances "Um Dia na Vida de Ivan Desissovitch"e "O Primeiro Círculo". Há novos gulags e novos muros de Berlim, outras barbáries e outros infernos. Soljenitzyne, ao sentenciar «a morte tecnológica não será calamidade menor do que a guerra», deixa um grande legado para a Humanidade. Também para estas paragens…ainda. Paz à sua alma…

O Atentado

Li, neste fim-de-semana, "O Atentado", de Yasmina Khadra (pseudónimo do escritor argelino Mohamed Moulessehoul). Comprei-o na livraria Nhô Eugénio, em Achada de Santo António. Há muita coisa boa nessa livraria, diga-se de passagem. "O Atentado" é o escritor, ciente que a vida é um grande poliedro, a se posicionar em todos o lados. O conflito israelo-árabe contado de uma perspectiva mais complexa e humanística. As várias razões e motivações, sob o pano de fundo da guerra, ela própria injusta. A guerra, em caleidoscópio, com os seus terrorismos aos ínfimos detalhes. Há muito tempo um livro não me envolvia de tal forma.

Horário Único

Não quero me aventurar muito numa área que desconheço, mas tenho as minhas reservas sobre o Horário Único, a vigorar no país inteiro, até ao dia 31 de Agosto, data, por sinal, de triste memória. Isso cheira-me a mais uma "importação acrítica" de modelos administrativos que, de modo algum, encaixa na "demanda" produtiva cabo-verdiana. O funcionalismo que, mau grado a reforma e as novas tecnologias, continua pesada, desengonçada e pouco produtiva, não irá funcionar melhor nestes dias de "defeso". O horário compacto, mas com folgas e brechas pelos cafés, bem como fugas domiciliares, não me parece beneficiar ninguém. A não ser aqueles que defendem cumprir a "fase transformacional" estirados (e esturrados, passe a expressão) nas praias de Quebra Canela, Laginha ou Santa Maria, às 3H00 da tarde. Mas, enfim, fico pelo descaso daquele que jura poupar a Res Pública ter os funcionários em casa, longe do telefone, do ar condicionado, da água mineral, da luz e da água, da tinta e do papel do Estado de Cabo Verde. Quem sabe…

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Comme Si De Rien N'Etait



No intervalo de trabalho, escuto o último disco de Carla Bruni, Comme Si De Rien N'Etait. Trata-se de uma esteta. Quando desfilava como modelo já o era. Quando posou nua para o fotógrafo Michel Compte, em referência ao belíssimo quadro Les Poseuses, de George Seurat, estava tudo dito. Agora, na música, compondo e cantando (na voz de Mayra Andrade, diz-me alguém) com raro bom-gosto. Irreverente, culta e coerente, Carla Bruni me encanta...Comme Si De Rien N'Etait.


Hometown


Enquanto não nos assumirmos antropofágicos. Ou antropófagos, como queiram. Enquanto a inércia nos impede esse lado canibal. Sou Hanibal, diria, tudo que esta cidade nos merece. E nos impende: “é pá, tá quieto, que os dados estão lançados”. Podem aviltá-la. Violá-la e estripá-la. Podem até enterrá-la viva. Torne-se ela vosso escárnio, meus algozes e detractores. Silenciem-na. Qualifiquem seus filhos com os piores adjectivos do léxico. Ilegalizem-nos o verbo e o gesto, o canto e a alma. Colonizem-na. Neocolonizem-na. Autocolonizem-na. Invadam-na aos poucos. Às vezes, com Cavalo de Tróia. Outras vezes, tirem o vosso cavalinho da chuva, nada de anestesias, meus imbecis. Instaurem a lei seca, a do Fim da História e a da Pena Capital. E contem em plena praça que esta paz é eterna. A tal bomba termonuclear para a Esplanada, porra. Acabem de vez com essa cor azul de camaleão. Aviltem-na com a pseudointelectualidade dos betinhos apressados, nesses bares merdosos, sem poetas que valham, nem metáforas que medram…