quarta-feira, 31 de maio de 2006

Esse mar revisitado



(A palavra mar morreu há muito.
Esse mar, quem sentiu mar?
Mas tu, de acreditares em fénix e
nas cinzas dos caminhos, profanas.
Impiamente, profanas esta quietude)


Quando pronuncias a palavra mar
Este ilhéu diante de ti se liquefaz
E vira ele próprio metáfora e parte
Como onda para o abraço das terras…

Só de o teres mentado, os peixes
Saltitam no assombro das pedras
E as sereias saem, loucas das lendas,
E aproximam-se ao cio das marés…

As algas, limos, areias, espumas -, tudo
Soletra-lhe ali em maresia e de tão longe
Estará ele navio na solidão do mundo…

Nesse surrealismo tão bizarro e vão
Quão poemas de longe e de saudade
De repente, substantivos de quem os ouve…

segunda-feira, 29 de maio de 2006

ku vazulina



Zero

No intervalo da escola, estou sempre na biblioteca. Aproveito para recolher a bibliografia sobre a estratégia da internacionalização das empresas. E para ler uma crítica coerente sobre io pensamento de Micheal Porter. Os gurus do neoliberalismo não gostariam de aceitar esse afrontamento à estratégia das vantagens competitivas. Teclando no chat, descubro que há gente que não lê o Horizonte, por causa das minhas crónicas. Não deixo de me sentir na pele da pessoa. Mas, fazer o quê? Continuarei a escrever neste meu território livre, que é a minha coluna. Ouvindo, obviamente, no discman, Lura a cantar Pantera: “ku penti di féru kenti, ku vazulina”. Sem surra…

Um

O barco “Djon Dade” regressa de Dakar com o grosso dos imigrantes ilegais, resgatados no barco “Awid 2”. Parece de facto a nave dos loucos. E transcende ao mero patrulhamento das águas e à deportação dos detectados. A questão dos “boat people” é séria e merece a atenção responsável de todos. Antes de mais, é um problema humanitário. Depois, é um problema de soberanias. E, finalmente, de tráfico internacional. Fazer face aos seus desafios não é fácil e exige dos cabo-verdianos medidas complexas. Em prol da humanidade, da estabilidade nacional e do combate esse ilícito global. As nossas preocupações humanitárias não significam depreciar as correctas posições do governo cabo-verdiano…

Dois

Manuel Delgado escreveu há dias sobre a problemática dos hidrocarbonetos na África Ocidental. A questão do petróleo e do gás natural, em Cabo Verde ou dele próximo, é uma grande oportunidade de desenvolvimento, sugeriu o nosso confrade. A inserção na dinâmica da percepção dos hidrocarbonetos já é de si geradora de negócios. Como é que se insere no mercado mundial? Obviamente que de forma incrementada e estrategizada. Uma postura simultaneamente global e local. Com uma estratégia glocalizada. E com a noção geoestratégica. Surge petróleo a rodos na Mauritânia. Eis uma grande oportunidade de negócios. O decisivo é desenharmos uma estrutura flexível que permita ir também à «caça» dessa oportunidade. Em cooperação e em competição – em co-opitição. Os ingleses já viram isso, com os grandes investimentos imobiliários em Cabo Verde. Os americanos estão despertíssimos e o Millenniun Challenge Account, bem como os exercícios Steadfast Jaguar, da OTAN, são disso prova. Os brasileiros não estão adormecidos. E nós…tão pertos desse petróleo.


Três

A Copa do Mundo já movimenta tudo e todos. Não só na Alemanha, mas em todo o mundo. O nosso sentimento lusófono (não confundir com o freyriano luso-tropicalismo) leva-nos a eleger três equipas: Brasil, Angola e Portugal. Com as chances, o Brasil, que é super-potência de futebol. A Angola e Portugal - queremos que façam bonito e nos emprestem emoções fortes. Mas ganhe o melhor. Não para o gáudio da indústria que, segundo Eduardo Galeano (leiam “Futebol – sol e sombra”), factura tanto como a droga e o tráfico de armas. Mas para a felicidade dos que amam a bola, que não passa de uma recriação do globo. Goooooolo….

Quatro

A desandar da escola (de autocarro, naturalmente), vou balbuciando o “Polonkon”, de Ramiro Mendes, que agora toca no discman, e pareço uma ave rara. Uma mulher, compenetrada em sua leitura, olha-me de soslaio. Desço na Abolição e percorro a Avenida paralela ao oceano. Vez por outra páro numa banca de revista. A “História Hoje” ainda não saiu e a desta edição tem assunto que me interessa. Passo diante do Pão de Açucar, mas em fim de tarde o supermercado é pior lugar do mundo. No barzinho do Seu Xico, a CNN é 24/24. Um sanduba de frango com catupiry e um suco de cajá. : “ku penti di féru kenti, ku vazulina”. O resto pode acontecer…

Livro da semana

sábado, 27 de maio de 2006

Luaandino!

Todo aquele que escreve, em língua portuguesa, sonha com o Prémio Camões. Uns, assumem que sonham. Outros, fingem que não gostam do galardão e dos cem mil euros. Mas poucos, pouquíssimos, são Luandino Vieira. Eu li coisas de Luandino Vieira, ao tempo em que essas coisas eram proibidas. Eu sabia de Luandino Vieira, ao tempo em que ele era preso político no Campo de Concentração do Tarrafal. Eu acompanhava Luandino Vieira, ao tempo das independências, quando os colonialistas zarparam e deixaram os oportunistas a tratar da saúde do povo. Eu compreendo a sua recusa. Viva Luandino Vieira. Só pela recusa, eu lhe dava mais um prémio – o da Dignidade! Luaanda…

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Lendo Porter e Kotler, os deportados e ficções


1. As vantagens competitivas


Nas minhas leituras, deparo-me (não como leitura recreativa, diga-se) com as teses de Micheal Porter e os seus contrapontos. As vantagens competitivas em questão. Lendo “O Marketing das Nações”, de Philip Kotler et all, navego nas causas sobre o enrequecimento das nações, mesmo as pequenas e as insulares, como parece ser o caso de Cabo Verde. O que faz com que o nosso país, em relativamente tão pouco tempo e sem recursos físicos, tangíveis e estáticos, esteja a vencer o desafio do desenvolvimento? Obviamente que não há uma causa, nem uma razão estanque. Nem a explicação ou a tentativa de o fazer se deve resumir a uma perspectiva meramente científica. Uma certa complexidade exigiria um olhar multidisciplinar (de interdisciplinaridade, queria dizer) para se abordar a problemática. Em Cabo Verde, os factores fixos seriam (se tanto, mas nem por isso) o posicionamento geoestratégico. Quais seriam os outros? Dou um doce. E os factores móveis (estes sim mais determinantes) seriam a liderança política, a governança, a paz social e a estrutura educativa…

2. Tirando a pequena política

É de se acompanhar, com interesse e responsabilidade, esta fase transformacional de Cabo Verde. Hora em que nos confronta a problemática das vantagens competitivas (mas quais seriam?) à la Micheal Porter. A cultura capaz de atrair investimentos e de ampliar a indústria, comércio e serviços. Quais os elementos críticos e de crise? E aqueles alavancadores do crescimento sustentável? Tirando a pequena política, mais distractiva que impactante, começa a surgir o “mainstrean do desenvolvimento” (visivelmente trnaspartidário, quando não apartidário), a partir da ética competitiva. Há líderes que são “visionários gerenciais”, capazes de entender que a contribuição do capital humano para o desenvolvimento é directa. Esta nova visão, que não encara a política pela política, mas pelo desenvolvimento, pela cultura e pela governança, parece explicar em parte o relativo sucesso de Cabo Verde.

3. O insólito do Dia da África

Dia da África: quando o barco atraca em Dakar, atulhado de seres humanos em deportação, as autoridades locaiss só recebarm os de passarporte senegalês. Há ali um impasse tão dantesco quão shakesperiano. Em alguns gabinetes, distantes do impacto bizarro, há gente que desgota que se denuncie tal situação desumana. A opinião pública ficaria mais bem servida se ovacionasse os natos e as natas pela marinal do Mindelo. Ou fingisse que tudo não passa de atroz ficção do mau jornalismo crioulo. E o barco parece a nave dos loucos. Diante de tamanha loucura, de seres humanos transportados como cargas perigosas e transladados como escravos, uma pausa sobre a reflexão e a dignidade!

4. A Nave dos Loucos

No livro “A Nave dos Loucos”, de Katherine Anne Porter, a nebulosa torna-se ridícula e desumana. A autora remata assim, às tantas: “Detesto as coisas que ficam em meio, as indecisões, as estúpidas situações falsas, os sentimentos inventados, os amores de encomenda e os ódios ornamentados à mão. Quero tudo claro e definido, ou pelo menos ser capaz de distinguir as coisas pouco claras e confusas. Tudo o mais é repulsivo, e aí está porque a minha vida é repulsiva e me envergonho dela”. No tanto que a ficção tem a ver com a realidade!

5. O Belo de tão grotesco

Estava Alonjo Quijano, meio à-toa na vida e de triste figura, ladeado por Sancho Pança, seu mui fiel amo, quando Cervantes resolveu botar aqueles moínhos na beirada do caminho e aí complicou tudo, fazendo de “Dom Quixote de La Mancha” uma belíssima obra, entretanto.

Rock in Rio - Lisboa


Para espantar os maus fluídos e os maus agoiros. Música, qualquer música…

quarta-feira, 24 de maio de 2006

Face ao Leviatã



Das coisas e das causas cabo-verdianas

Li, com gosto, entusiasmo e espírito aberto, o livro de David Hopffer Almada – “Pela Cultura e Pela Identidade: EM DEFESA DA CABOVERDIANIDADE” - e, acto contínuo, a respectiva recensão crítica de António Correia e Silva – “Defesa da cabo-verdianidade, segundo David Hopffer Almada”. A obra e a sua apreciação crítica, binómio que fundamenta qualquer ambiente científico, abordam questões candentes e prementes – todas de interesse nacional. A oficialização da língua cabo-verdiana, por exemplo, é desiderato a que Cabo Verde não se pode furtar. A adesão de Cabo Verde à União Europeia (e, quem sabe, a outras alianças) também é assunto quente, a merecer exaustivo debate. Além do valor dos dois trabalhos, importaria realçar que o acasalamento entre a acção e a reacção intelectual, coisa rara numa terra onde a tese só de raro suscita a antítese, deitando por terra a necessária dialéctica que faz rodar a História, se tornou mister e imperioso. Não só de bons autores e criadores precisamos. Os críticos que balaçam os paradigmas e fazem jus à razão hegeliana são por cá mais do que necessários…

A África e os Objectivos do Milénio

A escrever um texto para a palestra sobre a África e os Objectivos do Milénio, tema que me coube no evento que a Universidade Federal do Ceará organiza, dou comigo a pensar na força da História. Os ODM seriam alcançáveis, se houvesse um esforço crítico dos próprios africanos em relação ao apropriar do seu processo histórico. Não se trata apenas da independência, da democracia, do estado de direito e do empreendedorismo. Trata-se de emponderar o africano em face da sua História e seu destino. Trata-se do resgate da autoestima, de autoconfiança e da motivação para mudar o mundo. Devo à professora Margarida Fragoso, nos tempos do secundário, o gosto pela História da África. Ela levava-nos, em primeira mão, a História da África Negra, de Joseph Ki-Zorba. Falava-nos, com entusiasmo e admiração, do Egípto Antigo e do Império Núbio. Explicava-nos, sem óculos coloniais, a civilização dos Almorávidas, dos impérios do Gana, do Mali, do Gao, do Songai e dos Haussas. Aprendíamos, em beleza e propriedade, a grandeza dos Iourubás e do Benin. Naquelas aulas, sabíamos descer pelo território dos bantus e ancorar no reino do Congo, do Zimbabwe e do Monomotapa. Precisamos descolonizar não apenas a nossa economia, mas a nossa história, tanto a do Continente Africano como a dos afro-descendentes, a vasta Diáspora Africana. A história constitui assim, segundo Joseph Ki-Zerbo, a alavanca fundamental para a nossa tomada de consciência em relação ao nosso destino, visão comungada por grandes pensadores do W. Dubois, Nkrumah, Lumumba e Amilcar Cabral.

Discordando do meu amigo Casimiro

Das raras vezes em que tive o prazer de conversar com Casimiro de Pina, de quem sou amigo, guardei as melhores impressões. Arguto e culto, comentara com José Filomeno, promotor de tais encontros. Casimiro de Pina é um estudioso e um cavalheiro. Aprecio trocar ideias com ele, mesmo quando as nossas opiniões se divergem de molde irreconciliável. Prevalece entre nós o respeito mútuo, diga-se. Ambos somos apreciadores de Alexis de Tocqueville e de Max Weber, sobretudo no entendimento que ambos tiveram da Revolução Americana e da Ética fundadora da espiritualidade capitalista. Mas creio que não temos a mesma leitura crítica do mundo, mormente o “mundinho crioulo”. Pessoalmente, não me posiciono em trincheiras – desta banda os bons e os santos, doutra banda os maus e os demónios -, razão por que não me engajo nas capelas políticas. Sou S/Cem Margens face ao Leviatã, seja ele qual for. Et pour cause, os grevistas de fome (ou doutra estratégia, pois de estratégia se trata) não estão imunes ao crivo crítico da sociedade. Assim como tiveram apoiantes, têm tido acérrimos críticos, porque a nossa sociedade (e ainda bem) não se satisfaz com a unanimidade. Germano Almeida, pela natureza do homem e pela sua trajectória, jamais seria um intelectual orgânico. De nada. Ele é irreverente, homem! Casimiro de Pina precisaria participar dos encontros de sexta-feira, na Praia do Norte, em São Vicente. É longe. Mas o bom vinho (que Germano Almeida conhece, como poucos) justificaria o encontro…


terça-feira, 23 de maio de 2006

Subsaharianos


Las Islas Afortunadas están a punto de perder su nombre. Canarias es la puerta a Europa de miles de subsaharianos que tratan de alcanzar una vida que creen mejor. Muchos mueren en el intento y todos nos muestras una visión del ser humano que debía hacernos bajar la vista de vergüenza. El Cabildo ya no se sabe qué hacer y al Gobierno parecen habérsele acabado las ideas útiles que pongan freno a esta dramática avalancha. Mientras tanto, Europa todavía mira para otro lado.
“El Gobierno no ha tenido la previsión, ni los reflejos para actuar en África” con esta lapidaria frase encabeza ABC una entrevista realizada al presidente de Coalición Canaria, Paulino Rivero. Desde la serenidad, este representante político del archipiélago se queja de la situación de desamparo que han sentido en aquella latitud en los últimos días. Una avalancha de más de mil inmigrantes procedentes de África. Arriesgan su vida para buscar un futuro mejor en el "viejo continente".
La prensa internacional, en general se ha preocupado en demasía de esta tragedia humanitaria en la que los dos Gobierno, autonómico y central, se encuentran algo desamparados mientras Europa todavía mira hacia a otro lado.
De este fin de semana sólo cabe destacar dos menciones en peridódicos señeros de habla no hispana. En rotativo británico
Daily Telegraph se publica un interesante análisis del problema que tiene España con sus fronteras al ser la puerta natural de entrada al continene.
Neil Ferguson explica en su artículo como, además de las personas procedentes de la región subsahariana, el importante crecimiento demográfico en Marruecos puede derivar en serios problemas. Y es que la población del país alauita crece siete veces más rápido que en España con lo cual la presión sobre Ceuta y Melilla parece ineludible.
Si a esto le sumamos la situación que se vive en ciudades como El Ejido, continúa Ferguson, estamos ante un ejemplo claro de lo que algunos ya denominan Eurasia.
Canarias solicitan la presencia de la Armada
Las Islas Afortunadas sufren el empuje de una crisis humanitaria que no tiene precedentes en sus costas. En sólo dos semanas han llegado el 10% de los sin papeles que recibió en Canarias a los largo los tres últimos años. 2000 maltrechos indocumentados a bordo de cientos de cayucos. En la mencionada entrevista, Rivero señalaba que
La falta de una política clara hacia este continente ha traído como consecuencia la inmigración de una parte de los 850 millones de habitantes de África.
Al Gobierno de Adán Martín se le están acabando las ideas para ayudar los inigrantes pero a la vez proteger su Comunidad Autónoma de un aluvión humano al que no puede hacer frente. De este modo el Parlamento canario en un pleno monográfico sobre este asunto a aprobado pedir al
Gobierno Central la intervención de la Armada.
Quieren blindar el litoral y esperan disuadir a nuevas incursiones que puedan provenir del continente vecino. Asimismo, en el mencionado pleno se ha acordado también las críticas y quejas formales al Ejecutivo de Zapatero por su "lenta respuesta" y a la UE por su "poca sensibilidad".
Si bien, ya la pasada semana, un cada vez más angustiado presidente autonómico pedía sin cesar que el problema de la inmigración fuese tratado como un asunto de Estado. Incluso llegó a decir que si no recibía una pronta respuesta, acudiría ante el mismo rey Don Juan Carlos. El Cabildo justificó estas peticiones en el hecho patente de que
Don Juan Carlos interviene
El Rey de España no esperó, sin embargo, a que materializase la “amenaza” del presidente canario. Prefirió ser el mismo es que descolgase el teléfono para interesarse por la situación que se vive en las islas.
Un portavoz de zarzuela trató de quitarle hierro al asunto al afirmar que Don Juan Carlos mantiene contacto habituales con presidentes autonómicos. Bien es cierto que lo hace, aclararon estas fuentes, que ante situaciones puntuales estas conversaciones se aceleran. En este caso, más que puntual, era una situación dramática.
Porque lo que empezaba a quedar más en evidencia es que no sólo Canarias estaba siendo desbordada, toda la maquinaria del Estado Estaba cada vez más desbordada. Así a todo el ejecutivo realizó un último movimiento de efecto en el pasado Consejo de Ministros.
El Gobierno tiene un plan
El pasado viernes la vicepresidenta del Gobierno, María Teresa Fernández de la Vega, explicó hacía iban a ser diseccionados los esfuerzos de España para atajar el mal que sufren miles personas. Entre las acciones de infraestructura más destacadas encontramos un intento de reformar lazos con el continente vecino.
Este
Plan África 2006-2008
Crea tres nuevas embajadas, Malí, Sudán y Cabo Verde para completar el despliegue diplomático en la zona, así como nuevas oficinas técnicas de cooperación en Cabo Verde, Etiopía y Malí, y oficinas comerciales en Angola, Kenia, Nigeria, Senegal y Sudáfrica.
Asimismo, De la Vega puso mucho hincapié en los cuatro ejes sobre los que el Ejecutivo sustenta su plan.
Más seguridad y control en las fronteras
Más cooperación diplomática
Más ayuda humanitaria
Más Europa
La vicepresidenta remachó que son
Cuatro ejes en un solo plan, el que marca nuestra política de inmigración. A veces es más visible especialmente como cuando ahora lleve el buen tiempo y el mar es menos peligroso.
Primer destino: la Península
Canarias sufre la primera oleada, eso nadie lo duda. Pero una vez que miles de inmigrantes ilegales asedian el territorio de las islas por cuestiones humanitarias y/o médicas, estas personas son llevadas a la península para permanecer en las mejores condiciones posibles hasta que se aclare su situación y su destino.
Y es que en lo que va de 2006, unos 4.300 han sido trasladados. Una cifra superior a la del año pasado. El problema es que existe un problema al estar indocumentados ya que no pueden ser expulsados.
En este sentido, Paulino Rivero en ABC, subraya que lo más negativo de esta incidencia es que
Consiguen el éxito, y eso funciona como un auténtico reclamo.
Llamando al Viejo Continente
Si la UE no se implica a lo mejor lo que hay que plantear es la derivación de los inmigrantes a Europa. Entre otras cosas porque los que vienen lo hacen buscando Europa.
Con esta sentencia tan clara, Paulino Rivero, lanza la pelota sobre el tejado europeo. En el caso de que los ejes de “Más Europa” y “Más diplomacia” anunciados por De la Vega no funcionan, Canarias quieren tener las fronteras bien cubiertas.
Pero la vicepresidente tiene todavía ese margen de cortesía que el Gobierno Canario parece estar dispuesto a darle y ella a aprovecharlo. Por eso mismo, se entrevistará en Bruselas con el presidente de la Comisión Europea, así como con comisarios de la UE, para acelerar las medidas del Plan África 2006-2008
María Teresa Fernández de la Vega, ha explicado que el Gobierno ha decidido
Pedir apoyo a la Unión Europea (UE), en concreto la creación de una delegación en Canarias de coordinación, seguridad y control, así como apoyo logístico, que espera se conceda de manera inmediata, para que se coordine el despliegue de medios marítimos y aéreos.
Dispositivo naval y diplomático
Un satélite es lo más destacado que el Gobierno pondrá en marcha para vigilar de cerca de los cayucos que se acerquen a las costas canarias. Bajo la batuta del ministerio de Defensa con este aparato se podrá realizar un seguimiento de los movimientos de los flujos migratorios. Además patrulleras y helicópteros reforzarán la dotación actual.
Por otro lado según De la Vega, el Gobierno potenciará la cooperación con los países emisores de inmigrantes. Claro que los países implicados han visto la oportunidad de negocio.
Según lo publicado en ABC,
El presidente de Senegal pide pantanos a cambio de aceptar las repatriaciones de inmigrantes. El País, en otro editorial, dice que intuía lo que está pasando, y pide mejorar la vida de África, con dinero de toda Europa y no sólo esos 400 millones que prometió Zapatero.
El Periodista Digital

segunda-feira, 22 de maio de 2006

África



Por Eduardo Dámaso, DN


O aumento do número de imigrantes africanos que todos os dias chegam mortos ou famintos ao litoral mediterrânico e atlântico de Espanha é brutal. A vigilância mais apertada das autoridades espanholas no estreito de Gibraltar desencadeada a partir do êxodo de 2004 tem vindo a empurrar os imigrantes para as rotas do Atlântico e, nos últimos dias, as ilhas Canárias têm sido palco de relatos e imagens dramáticas que, no entanto, pousam por brevíssimos segundos no nosso olhar, como que alheado de uma realidade encarada como distante ou mesmo já muito banalizada. É como se fosse mais um problema do nosso vizinho espanhol do que nosso.
O problema da imigração ilegal oriunda de África e dominada por mafias transnacionais é todos os dias agravado pela indiferença desse olhar bem instalado na vida. Quando países como Portugal não têm estratégias nem políticas de abordagem de um problema com tal dimensão para o mundo, não são protagonistas no debate, ou na pressão para que ele se faça de forma consequente, quando a própria União Europeia não acerta o passo no desenvolvimento de uma política que ataque a questão na sua origem, então a realidade torna-se iniludível: África, ela própria, não é uma prioridade para o resto do mundo. As consciências do Norte mais desenvolvido repousam nas respostas puramente policiais.
Quando as rotas partiam da Argélia ou de Marrocos deu-se a necessária resposta policial no Mediterrâneo. Agora que se concentram milhares de ilegais na Mauritânia, de onde partem verdadeiras urnas funerárias em busca do eldorado, as políticas de repressão exigem a colaboração das autoridades locais. Tem sido essa mutação das estratégias das redes o único factor de marcação do ritmo das políticas de ataque ao problema, exceptuando os esforços mais recentes de Zapatero, que procura fortalecer laços com os países magrebinos, depois dos fracassos do PP.
O problema, porém, não é espanhol. É um problema do mundo que exige mais e melhor política, que exige um verdadeiro plano para África - o de Blair é um bom ponto de partida -, exige um verdadeiro compromisso dos países mais ricos integrados no G-8 e da União Europeia. Exige que mesmo países com menor influência, como Portugal, saiam da sua tradicional visão paroquial do mundo. O rasto das mortes que vamos deixando para trás é demasiado gigantesco para que tudo fique como está.

sábado, 20 de maio de 2006

Divagações



Return To Forever

A barra na cidade de Boston. Nessa cidade, nasceram os meus filhos – Denzel e Pablo. Mentalmente, ainda faço compras no mercado italiano do South End, vou ao gospel na 1st Baptist Church e frequento o clube Wally´s, onde o jazz é mais “animal”. Nunca se parte da cidade de Boston. Nunca…

Alguma coisa acontece no meu coração

Depois de muita violência (entre o crime organizado e o estado desorganizado), São Paulo entra numa virada. Cultural, claro. O melhor de Sampa é o paulista. Uma cidade de 20 milhões de habitantes dispostos a viver. Mau grado a violência…

O Código Da Vinci

O filme O Código Da Vinci não chega a ser mau. Com tanta promoção, fica-nos aquém das expectativas. Mas tem bom rítmo, boa trama e boa apresentação. Ademais, Tom Hanks dignifica qualquer filme. O livro atingiu uma celebridade extraodinária, pois cumpre todas as regras da promoção e do marketing. E o público médio é afoito à cultura de massa. É um alto consumível como a Coca Cola, o BigMac ou a Pizza Hut. Tirando os complexos todos (incluindo os intelectuais), o filme é aceitável. Se o cinema é confortável, com capuccino bem quente…

Copa 06

A Copa 06 está à porta e todos preparam-se para o grande certame. Pessoalmente, não estando Cabo Verde na disputa, tenho já à cabeça três equipas (por ordem de preferência): Brasil, Angola e Portugal. Estará a funcionar o meu lado lusófono? Esta é a Copa mais global de todos os tempos. Ocasião interessante para gritar contra o tráfico ilegal de pessoas. Toda a imprensa reunida, a opinião pública mundial diante da televisão e os decisores atentos às grandes questões. É aproveitar, minha gente…

Dia da África


Entra-se na semana do Dia da África. A programação, com palestras, exposições, futsal e baile, concentra na Universidade Federal do Ceará. Fui convidado a apresentar o seguinte tema: África: Desafios e Metas do Milénio. Cabo Verde terá, pois, algum destaque, não apenas pela minha palestra, mas pela exposição do artesanato crioulo. Era para se ter o Mário Lúcio, mas não foi possível por desencontro de agenda. Conta-se com um DJ brasileiro que tentarei influenciar para caprichar no melhor do continente africano: Baaba Maal, Youssou Ndour, Salif Keita, Tcheka Andrade, Hugh Masakela, Ceasária Évora, Angelique Kidjo, Myriam Makeba, Lokua Kanza, Johnny Clegg e Manu Dibango, entre outros possíveis de arranjar no mercado.


quinta-feira, 18 de maio de 2006

E por uma cidadania global

Por uma nova Abolição

Das frutas noite e dia

8.


(Reabre-se o pano: Eis que frutal e louco,
ele entra em cena para fazer o madrigal.
Imagina-se o diálogo das frutas entrelaçadas no cesto.
Mais arfantes do que plásticas, elas se permitem à fala)


Solfejo no gosto de pitanga o acordar contigo
O arfar fruído, quando não tão-só flutuante
- e há de o sol descrever seu arco no diurno -,
Em que as horas soluçantes se perdem…

Dou graças ao cajá e à fruta-do-conde, a terra,
O vento, a água, o ar e o arfante deste animal,
Medusa, como dizes, que petrificas de olhar,
Para além das cobras do teu “dread”…

Cai a noite e, de brumosa tocatina, dançam
Os pés que, embebidos no teu pântano, és tu
Virada pelo avesso, manga rosa e seu reverso…

E quando, em carnuda, me mordem os lábios,
desfeito em rosa manga, de laço e de caroço, eu
amanheço, resinado e pura fruta, nesse leito…

terça-feira, 16 de maio de 2006

Leonardo



Leonardo

Nao é de hoje que mexe comigo o quadro Mona Lisa de Gioconda, do artista e pensador renacentista italiano, Leonado Da Vinci. Uma das mais brilhantes mentes de que se tem notícia, Da Vinci foi ao tempo tão polémico quão talentoso. O olhar que Mona Lisa lança às pessoas que miram o quadro permanece ainda hoje enigmático. Eis a função da Estética: perpetuar o enigma da humanidade. Instaurar o inexplicável e restaurar o sentir. Nao espanta que o quadro tenha sofrido um atentado à faca, hipnotizado ficara um dos seus aficionados. Homossexual assumido e iconoclasta num tempo em que a religião barbarizava a humanidade, Da Vinci será sempre o símbolo dos caminhos da liberdade.

O Código Da Vinci, o filme

Na sexta-feira, vou assistir O Código Da Vinci, filme de Howard fadado para ter o sucesso de vendas do livro de Dan Brown. O que me desgosta desse livro não é a falta de rigor histórico, até porque a História, mesmo ao se pretender ciência, não é rigorosa. Para uns, Júlio Cesar era um filho da puta. Para outros, era um herói. Idem para os outros personagens, factos e feitos. Mas, dizia, não me atinei ao mau texto de Dan Brown, habituado que estava a tramas densas e inteligentes da coisa religiosa em leituras dos grandes Umberto Eco e José Saramago. Dan Brown não passa de um híper Paulo Coelho. Não gosto...

Agora, lembrei-me do Mona Lisa de bigodes

Quando Marcel Duchamp pintou Mona Lisa de bigodes, marcando a sua contribuição incontornável ao dadaísmo e rompendo com as tradições sociais e artísticas, muita gente ficou chocada. Hoje, continua-se a lembrar de Duchamp e das suas "interferências" na Arte. Dos guardiões do templo ninguém se lembra. É que a própria memória é anarquista e niilista...

Praia.Mov

Talvez não vejam conexão nesta escrita, mas anda tudo ligado. Desde o barco com cadávares à Nato inciando os seus exercícios, passando por três artistas na Praça Alexandre Albuquerque, apresentarem o Praia.Mov. É de saudar os artistas e a Arte. Eles hão de permanecer. Os guardiões...Moving out!

Boat people e o copo meio cheio ou meio vazio




0.
A crónica desta semana não será sobre o 19 de Maio, como havíamos prometido a um velho amigo que também comunga um desmedido amor pela cidade da Praia. Desmedido e incondicional, nas antípodas daqueles que a desamam e projectam nela frustrações cabeludas e agouros também peludos. A crónica desta feita incide sobre os ‘boat people” e o sistemático tráfico de seres humanos que cruza os nossos mares e, por vezes, ronda as nossas costas.

1.
Para contextualizar melhor os leitores, deitamos mão à premissa das Nações Unidas que consideram o tráfico de seres humanos como um dos grandes crimes contra a humanidade, ilícito que ombreia com o tráfico de armas e o tráfico de drogas. Em relação a isso, não se pode excluir que estes os três hediondos “movimentos” não estejam a utilizar, com mais frequência do que pensamos, as águas de Cabo Verde.

De vez em quando, um navio é interceptado, prova que as nossas autoridades, apesar da escassez de meios e recursos, estão empenhados na luta contra tais ilícitos transnacionais. A meio do caminho das rotas atlânticas, Cabo Verde também é geoestratégico para os grandes tráficos. Ultimamente, o tráfico de seres humanos nos parece mais incidental pelas nossas águas. Será que estamos preparados para lidar com isso?

Líamos, há dias, e ficámos caídos de mágoa, sobre um barco à deriva com onze cadáveres a bordo. Nas águas de Cabo Verde. O barco terá sido descoberto a boiar no oceano por um pesqueiro. As autoridades foram notificadas e, dois dias depois (fazer o quê) a guarda-costeira vai tentar interceptar o barco, entretanto já desaparecido. O facto, noticiado marginalmente pela Comunicação Social, não moveu tanto a opinião pública cabo-verdiana. Entretanto, a situação era diabólica. Mais do que greves em fome, pelo menos. Era uma cena dantesca que transcende a soberania, a fronteira e o Estado. Tem a ver com os seres humanos. Com os Direitos Humanos. Com a Humanidade…

2.
Cabo Verde teve outrora a tristíssima glória de ser o grande entreposto dos escravos no Atlântico Médio. A Europa mercantilista se fez graças ao tráfico humano. A grande riqueza do Ocidente tem fundamentos sangrentos. E Cabo Verde, mercê da sua posição geoestratégica, foi uma base avançada e crucial para a transposição dos seres humanos, em mão-de-obra forçada. A cena repete-se. Infelizmente… Os seres humanos transportados nas balsas e botes não passam de vítimas e de desesperados à procura de alimento para os seus filhos. Não passam de escravos modernos, em condições piores e mais vergonhosas do que a dos escravos antigos.

Desde a abolição da escravatura, o tráfico e o comércio internacional de seres humanos voltou-se para fins de exploração e prostituição. Sabe-se também de outras actividades lucrativas, como a mutilação de crianças para sua utilização como mendigos, ou a extirpação de seus órgãos para bancos de transplante clínico. Este comércio tem um padrão visível: os escravos são provenientes de regiões pobres e levados para as regiões ricas.

Quanto não morrem, como outrora, na travessia. Os corpos mumificados à deriva no Atlântico, ei-los. Gente morta pela fome e sede, na desesperada tentativa de um norte qualquer. Estes seres humanos não saem para o largo oceano por razões prazeirosas, mas por razões de sobrevivência. Se permanecem, morrem à fome, doença ou guerra. A saída é inexorável e implacável. Com as suas consequências…

Naturalmente que entendemos as razoes do Estado e o estado da Razão. Apoiamos a posição de mão dura para com o tráfico dos seres humanos. Mas o combate ao tráfico tem a ver com a destruição implacável dos traficantes e suas conexões, e não com a falta de solidariedade humana com as vítimas. A abordagem de Cabo Verde tem de ser cuidadosa, delicada e humana.

3.
De repente, há gente que olha a segurança colectiva do Estado e da sociedade como Sancho Pança via os moínhos. Apenas pela sua externalidade. Pelos seus significantes. E esse olhar pode ser perigoso e irresponsável, pois não exige uma análise de conjuntura e muito menos de profundidade. Qual o papel de Cabo Verde em face do surto dos “boat people”? Qual a melhor abordagem em face de um problema que ora nos ultrapassa e nos interpela de molde recorrente?

A geopolítica não exige de nós um olhar apenas Atlântico, mas aquele interatlântico e quiçá mesmo transaltlântico. Mas a existência nos obriga a um olhar humano e humanista. Contra a hedionda escravatura moderna. E quem está na linha média, charneira e divisória, de muitos universos (geoestratégicos, económicos, outros), no Atlântico Médio diríamos, terá de reformular o seu olhar no que toca ao papel a desempenhar. A vulnerabilidade dos pequenos estados insulares também reside em ficarem a meio dos tráficos (armas, drogas, minérios, seres humanos). E essa vulnerabilidade pode ser pensada, isto é estrategizada. Em prol dos nossos interesses e princípios. A conceptualização dependerá da lógica de mirar: ou o copo meio cheio ou o copo meio vazio…

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Belle Époque (revisitada) e lodoso




Lodoso

Sob as grotas e gretas, as águas que rolam
Aqui como sonatas, quando ali lentas
Valsas pelas curvas das pedras redondas, ora luas
Reflectidas nos cursos dos meus pensamentos…

Vai-se com as águas, aos saltos e trombolhos
Caem-se volumosas em cascatas, toneladas
De alcalinas e límpidas hidras, sobejantes
Entranças e enseadas, teus buracos e grutas…

Musgos e trepadeiras, algas e limos, sumos
De nascentes parideiras como as frutas
Aquantes todas de bocas em ácidas salivas…

No dentro e no fora, de fome e de sede, de tudo
Que mergulha e embebe, quão em leito embriaga,
O tão-só estar assim lodoso no teu corpo…

quarta-feira, 10 de maio de 2006

Exercícios nada poéticos

Um olhar
Igual
E desigual
Quase teleguiado
Dado ali
Em Nashua Park…

As montanhas
As escumas
Os penedos
A morna
Da cor
Do blues…

O Charles River
Anos esquecidos
Sentado em transe
Onde Borges sentara
A escrever
Borges e eu…

E tu eternamente
Água
Pedra
Ar
Nada
Eu…

Geneva Blues N° 2

Nas ruas da cidade






CONSOLAÇÃO

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco importa aonde vai no tempo dividido. Já não é meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se recorda. Quem de fato o amou?

Procura o seu igual no voto dos olhares. O espaço que percorre é a minha fidelidade. Ele desenha a esperança e ligeiro despede-a. Ele é preponderante sem tomar parte em nada.

Vivo no seu abismo como um feliz destroço. Sem que ele saiba, a minha solidão é o seu tesouro. No grande meridiano onde inscreve o seu curso é a minha liberdade que o escava.

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco importa onde vai no tempo dividido. Já não é meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se recorda. Quem de fato o amou e de longe o ilumina para que não caia?

René Char

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Ad vinho (de um Frangelico)


De repente, és tu
À beira-rio
de mim;

Trago-te
(de um Frangelico)
Taça
Inteira como um
Ponto…

Olho-te
de novo
- frutal
e floral
esse vinho.

Teu corpo
De um trago…

Navega


Eu sempre fui fã de Mayra Andrade, de modo que sou suspeito. Desde a primeira vez que a ouvi, ainda pupila do malogrado Orlando Pantera, o mais inovador dos modernos músicos cabo-verdianos, apercebi-me diante de uma estrela em ascenção. Tempos depois, em 2001, ela ganhava a Medalha de Ouro nos Jogos da Francofonia, no Canadá. E ganhara com a composição “Lua”, de Princesito, de certa forma descoberto por mim no Programa Cultural Summer Stravaganza, na cidade da Praia. De então a esta parte, Mayra tem sido sempre a boa nova que amplia o nome de Cabo Verde e a sua música. Em várias paragens, onde não sei se por sorte tenho ancorado, a fama de uma menina linda e inteligente, com voz de rouxinol, ecoa nos lugares. Ora, cantando mornas à boa maneira de Cesária Évora, ora interpretando batuques qual Tcheka Andrade em transe, quando não recriando poética como Mário Lúcio no terreiro. Ela acaba de lançar um álbum. Em verdade, o primeiro álbum. Com uma plêide de gente boa e calibrada. Desejo-lhe sorte e ventura, pois no showbizz talento não é tudo. Que tenha sucessos e que continue a afirmar, mesmo que a força bruta diga o contrário, que Cabo Verde está na moda. Viva Mayra! Navegando. Eh, pá…sou suspeito!

domingo, 7 de maio de 2006

A Peste, Bebop no sampa e Fumaça Da Best





Só ponho be-bop no meu samba
Quando o Tio Sam pegar no tamborim…
Gilberto Gil



Intro

Ao tempo que gostávamos dos filmes americanos, os feios, os anões, os vesgos, os fanhos, os pobres, os índios, os negros, os mexicanos, os russos e tantos outros eram os maus. E esses filmes, depois de os matar, serenavam com o hapy-ending de ocidentalíssimos e brancos beijos, que a meninada, do balcão ao geral do Cine-Teatro Municipal da Praia, aplaudia em uníssono. A cidade do nosso Cinema Paradiso era pequena, tacanha, ainda não dilacerada pela peste do dito desenvolvimento. Paradoxalmente, defensor que sou do crescimento e da metropolização da nossa cidade, acordei hoje meio nostálgico. O ufanismo e o triunfalismo me irritam. Enfim, não me é fácil entender que o samba não é rumba, como reza a música de Gilberto Gil. Nunca…


Fumaça Da Best

Releio A Peste, de Albert Camus, e o branco que me invadiu desde a alva se dissipa. Exilado por conta própria, dou largas à saudade e repenso a peste que nos sobe pelas paredes. Cercados pela peste, a nossa burguesia mantém a farsa para o inglês ver. Os jornais vendem “cada vez mais tanto”, os empreendedores movimentam-se e não será desta que a cidade morre de tédio. A peste camuniana existe, sim. Ela nos dilacera vagarosamente. Como um cancro. Casino no ilhéu de Santa Maria, Copacabana no mar da Lajinha e sucupira-se quem puder. Entrementes, Mito apresenta Li-Sim-Sim aos ascendentes de Nho Mateus de Tchaina e Mano mostra Na Ri Ná em Macau. Coisas boas. Mas no mais, mundo é bemba. Quase Denda. Tudo muda. E vira-mundo travestido. Tamanho absurdo só me é lembrado aquele de Fumaça, o imortal da nossa infância, que atirava pedras ao sentinela para o prenderem também aos domingos, dia que os algozes davam grão-de-bico ao almoço na Frigideira. Distantes dias, como os hoje da NATO e seus sonares, dos britânicos e os seus solares, e dos traficantes e seus jeeps-em-pó + advogados políticos & família internacional, etc, coisa e tal. Nesta Ode Triunfal, uma homenagem ao Fumaça…Da Best!

Sejam pois salazes, fasceninos e satânicos

Ainda aturdido (pela imprensa) com a greve de fome – de Anthony Garotinho (político do Rio de Janeiro), não me confundam -, leio, com gozo, a crónica de João Ubaldo Ribeiro (este sim, escritor de vera) discorrendo sobre hamburguers salazes, quibes fasceninos e empadinhas satânicas. A boa escrita está também na irreverência contra mártires antigos e aqueles feitos a toque de caixa. Lembro-me também do filme de Marco Ferreri – a Comilança, em tradução brasileira. A pornografia de comer, em oposição à pornografia de não comer. A gula nas antípodas do jejum. Melhor representação das baixezas humanas impossível. Os moralistas de serviço, patrulheiros da fina medíocridade, hão de buscar semelhanças com as coisas e loisas da Tapadinha. Quaisquer semelhanças, são coincidências e já estava a escapar-me, aqui e agora, um palavrão…

Rábula em epílogo de um Email

Em greve? Já agora (e entre nós)…há também a questão da Electra, da Poupança dos Emigrantes e (nunca é tarde) dos Enacóis & comandita. Vamos a isso, há várias formas de contestar e de impugnar, benzendo nunca o instituído. Enquanto se rabentoliza a vida, A Peste toma conta da nossa cidade…

sábado, 6 de maio de 2006

DAK' ART

Afrique : entendus, sous-entendus et malentendus


Que n’avons-nous pas entendu sur notre compte et que ne disons-nous pas sur nous-mêmes, nos coutumes et nos valeurs ?
Que ne disons-nous pas sur nos voisins proches et lointains qui du reste, nous le rendent bien ?
Dans le domaine social, qu’entendons- nous par exemple par : Hommes et femmes, Adultes et enfants, Aînés et cadets, Blancs et Noirs, et que faisons-nous des métisses et de nos diasporas ? L’Afrique est-elle une ou plurielle ?
Quand nous disons, citoyen, patriote, rebelle, qu’entendons-nous et que sous-entendons-nous ? Un patriote peut-il être un rebelle ? Un rebelle peut-il être un patriote ? Que sous-entendent la prolifération des nouvelles églises et la montée de fondamentalismes musulmans en Afrique ? Que deviennent les religions dites traditionnelles africaines ?
Dans le domaine économique, qu’entendons-nous par développement et sous développement ? Ne sous-entendons-nous par exemple que les pays dits sous-développés le sont en tout point, y compris dans les domaines des arts et de la culture ? Est-ce juste de penser que plus les hommes sont riches, plus ils sont heureux ? Est-ce un malentendu, une erreur, ou tout simplement préférons-nous, à tort ou à raison, le malheur des nantis au bonheur des pauvres ? Pour des Africains, quelle est la pertinence des notions comme « secteur informel », travail des enfants ?
N’avons-nous pas confondu indépendance et libération, et ne confondons-nous pas démocratie et multipartisme, démocratie et élections, pouvoir et richesse, dictature et stabilité politique ? Les guerres et les conflits si nombreux en Afrique procèdent-ils de ce que les protagonistes se connaissent trop bien, ou relèvent-ils de malentendus qu’il suffirait de lever ? L’explication des guerres et conflits par des antagonismes ethniques et religieux relève-t-elle d’un malentendu ?
Dans le domaine des arts, du monde de l’art, qu’entendons-nous par « traditionnel et moderne », par « moderne et contemporain » et que sous-entendons-nous ? Quels sont les entendus du refus de l’appellation « d’artistes africains » par des artistes qui ne renient pas pour autant leur origine africaine ?
Les artistes ne sont pas invités à illustrer ces thèmes. Il suffira que, directement ou indirectement, l’œuvre proposée aborde l’une de ces questions.

Yacouba Konaté, Commissaire général de Dak’art 2006.

Photo : Axel Reuter

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Geneva Blues

Récit de piraterie à Genève

Falando em Genebra, cidade que amo como poucas, tomou conta das festas a Slam Poetry, ali afrancesada de La Slam Poésie. Uma poética viva, lúdica e pública da geração hip pop. Vamos abrir as janelas e as mentes para metáforas mais psicadélicas e mais movimentadas. Uma espécie de versão, em vate metrificado, do graffiti...Qu´importe, c´est l´esprit qui compte!

Lokua Kanza, eu e o Dia da Cultura


Lokua Kanza
Fim de tarde. Horas esquecidas a escutar Lokua Kanza, Arnaldo Antunes e Tcheka Andrade. Gosto de misturas. Um espécie do DJ Maluco que mandava tocar U-2, Bob Marley e Beethoven. A 9ª Sinfonia, imaginem. Lokua Kanza canta agora Shadow Dancer. A primeira vez que escutei Lokua Kanza estava em Genebra, mais precisamente na Gare de Cornavain. Nevava. Agora chove...
Um lauto banquete de sons

Manuel Delgado escreveu, no Paralelo 14, que Lúcia Cardoso nos esmagou com a sua voz bem timbrada, um repertório todo ele brasileiro, mas do fino (Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, Ivan Lins, Ary Barroso), pondo a voz lá onde a queria pôr sem nenhum esforço, como acrobata que treina muitas horas por dia. Lúcia traz ainda para os palcos cabo-verdianos algo que falta até à Cesária: presença em palco. Manel dixit...
Xoo
Hora do lanche. Canja quentíssima. Goiabada, pão de forma, queijo de Minas, catupiry e aipim. É Dia da Cultura da CPLP. Publica-se, diz a imprensa, o livro "Cabo Verde - 30 anos de Cultura". Brinda-se por cá com caipirinha. Outras paragens...

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Papo com a Professora Yoná


1.
Pelo que se vê, a Independência Nacional nem sempre acarreta soberania, na verdadeira acepção da palavra. Há que ressemantizar ou a Independência Nacional ou a própria soberania, em muitos casos. Não falo do caso de Cabo Verde, em particular, mas de muitas independências afins e circundantes, onde o povo continua a morrer (ou a viver) da doença, da guerra ou da miséria. Em alguns casos, as elites traíram literalmente os ideais das independências, inscritos no desempenho dito revolucionário. Ou viraram burocratas de esquerda e de direita. Ou caíram de quatro diante da contra-dança neoliberal. O "suicídio", preconizado por Amílcar Cabral, o grande teorizador sobre as elites africanas, continua a ser um fundamento interessante, se visto de uma perspectiva mais científica do que circunstancial…

2.
A Independência Nacional, diria, configura um momento importante e charneira,senão mesmo refundadora, na vida de qualquer povo. Mas ela não representa o instante matricial absoluto como alguns nacionalistas exacerbados a percebem. As ciências políticas vão a par e passo relativizar todas os fenômenos políticos refundadores, entre os quais a Independência Nacional, e, em conseqüência, destrinçá-los das visões absolutistas que se quer impor. A minha ideia da Independência Nacional, não vá alguém reinterpretar estas palavras erradamente, é que ela representa sempre um meio de autonomização dos cidadãos, num paradigma patriótico e estadista. O resto é política, jogo e sedução do Poder...
P.S. – Tempo apenas para deliciar um café expresso e lembrar um trecho de Edgar Morin sobre a interdisciplinaridade. Os bloguistas me perdoem, mas saí de casa sem reler os quotidianos versos de Fernando Pessoa...arre!