sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Entre pedras, palavras...
O sangue fez-se para ter dois olhos,
um lépido pé, um braço agente,
uma industriosa mão tocante.
Que estupidez o sangue entre as palavras!
O sangue fez-se para outras flores
menos fáceis de dizer que estas
agora derramadas.
Alexandre O´Neill
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
De como era Kate
Fastos
quando tu me apareceste,
o Verão cantava afastado de nós
que éramos silêncio,
simpatia,
liberdade triste,
mar
mais ainda do que o mar,
cuja enorme comporta azul
brincava aos nossos pés.
O Verão cantava
e o teu coração nadava longe dele.
Eu beijava a tua coragem,
entendia a tua perturbação.
Estrada através do absoluto das vagas
em direcção a esses altos picos de escuma
onde navegam virtudes assassinas
para as mãos que seguram as nossas casas.
Não éramos crédulos.
Éramos rodeados.
Os anos passaram.
As tempestades morreram.
O mundo partiu.
Sofria
por sentir que era o teu coração que já não me conhecia.
Eu amava-te.
Na minha ausência de rosto e no meu vazio de felicidade.
Eu amava-te,
mudando em tudo,
fiel a ti.
René Char
Sketches IV
Under the Big Sky
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Sketches III
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Sketches II
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Segunda-feira
Recebo a foto (gentileza de Rita Pires…da plástica fina, logo se vê) de um grafitti numa das esquinas do Bairro Alto, em Lisboa. Eu não comento. Até porque Obama, "arco-irisado" que é, vai além do preto-e-branco. O Mito comenta que o stencil parece bem recente, pois tal esquina fora desgrafittada em campanha recente. Obama é fenómeno transbordante…
2.
Quer os opositores, quer os governantes mais esclarecidos certamente perceberão a crise que grassa pelo mundo e que, não tarda, passa por Cabo Verde. Em consequência, esse surto de crispação e de balcanização das razões partidárias não poderá permanecer por mais tempo. Que não se derrame, ingloriamente, a oportunidade de alguns consensos que o País aguarda.
3.
Leio uma dúzia de documentos para prestar consultoria a um programa jornalistíco, desta feita, sobre a Diáspora. Leio discursos, fluxos bancários e outros dados/testemunhos da problemática. Cabo Verde ainda continua a ser incapaz de maximizar as relações com a sua Diáspora. Persiste em nós uma visão folclórica, romântica e empobrecida da emigração…
4.
Quase como os codornizes fritos que tu fazes. Ou o bacalhau com natas, com segredinhos de não sei que fruta. Ovas de cavala fritas a alho, com cebolada. Vou “caprichar” mais nessa receita (tomate, coentro e rosmaninho para encorporar o molho agridoce). Vale inventar um novo prato. Para deixar Alain Ducasse no chinelo…
sábado, 25 de outubro de 2008
Argila
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
On The Pulse Of Morning
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Corpo Presente
2.
3.
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Broche
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Mão invisível
Novas da Campanha
Uma Barbie em Filadélfia, horrorosa como todas as Barbies, distribui um panfleto que mente: Obama não nasceu no solo americano. E esta? Pior só aquela língua de fora que um Blog crioulo intitulou de “Fi de Cadon”. Enquanto isso, um homem, nascido para falar com os cidadãos olhos nos olhos, continua a rodar a América a espalhar esperança…
Acerca da Crise
A mão invisível do mercado estava suja. Tão suja quanto aquele que traficava droga, armas e pessoas. Entre uma mão e outra apenas uma fronteira duvidosa da legalidade. O capitalismo especulativo e desenfreado, que fazia encolher o Estado e projectar o imperialismo dos “donos” do dinheiro, é o responsável por este enorme rombo (ou roubo, como já dissemos aqui). A crise é ambiental, energética, financeira, económica, social e ética. Tem mais impacto que a queda do Muro de Berlim que apenas reconfigurou as oligarquias e reconstruiu outro muro entre o Norte e o Sul – entre a riqueza e a pobreza. A mão invisível e suja do mercado guardava esse novo muro com ordem para matar. Mão tão suja que já nem se pode lavar. Amputá-la seria o remédio santo…
Da Arte
A questão é elevar a política à Arte e não reduzir esta a aquela. De resto, não gostamos de ver discursos políticos nas Galas Musicais. Em nenhuma gala. A palhaçada das apresentações, redundante como seria, também já basta. Os espectáculos devem manter a lógica da produção artística tout court. Deveria ser apenas um profissional de comunicação, comedido, gracioso e shrap, a anunciar os artistas e, em breve sinopse, o busílis de estarmos ali sentados em hora nobre. Os viscerais na bancada. Sem intelectrocratas, nem intelectualóides. Todos para fora do stage. E música…Maestro!
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
D-versos
Obama
Temos momentos sem neutralidade. Nem isenção, inclusive. No dia 4 de Novembro, queremos, desta arquibancada do mundo, que Obama seja o 44º Presidente dos EUA. Queremo-lo com fé, confiança e resolução. Pela América e pelo Mundo. Não podemos deixar de ser românticos em relação à América, cuja revolução, mais interessante que a francesa, a inglesa e a russa, declinou o poder como o exercício da vontade dos cidadãos. Apesar dos vícios do Império (de todos os impérios, note-se), a América guarda a distância do indivíduo em relação à causa e à coisa pública. E tem capacidade de se reinventar sempre que os falcões invadem o domínio das águias. Terra de Thomas Jefferson e de Martin Luther King Jr.. Ganhando Obama será a refundação da América…e não só.
Crise
Vivemos uma crise complexa. Múltipla, porque financeira, económica e ecológica. De confiança no capitalismo que se tornou globalizado e, até há dias, a panaceia dos nossos males. Vivemos uma crise globalizada, apanhando uns mais que os outros. Ou melhor: uns antes dos outros. O tempo, antes inexorável, tornou-se implacável com todos. O tempo da crise mundial, bem entendido. É uma questão de mais ou menos conectividade. De repente, os campeões do neoliberalismo lembram-se das virtudes do Estado e querem-no forte, intenso e interventivo. Um Estado capaz de transformar os impostos dos cidadãos em activos e em capitais para refinanciar a mega “irresponsabilidade” financeira dos capitalistas. Um Estado que reconheça, às pressas, que é hora de injectar dinheiro no network interbancário e salve, não só as finanças, mas todo o resto que ficou baralhado e que, a descuido, poderá transformar o mundo numa tremenda desgraça. O pânico dos ricos, que está longe do cenário dos pobres, é que nos tem nesta grande aflição por estes dias. E, com perdão pelos sabichões da nossa praça (praceta, diga-se de passagem), de cuja lição de sapiência estamos fartos, o cronista começa a ter desgosto do Estado. Em verdade, é o Estado que começou já a entrar na complexidade desta crise…
Ildo Lobo
Nenhuma voz cabo-verdiana me tocou tanto quanto a de Ildo Lobo. Naturalmente que não sou indiferente à toada de Cesária Évora, de Bana e de Mayra Andrade. Ouço o timbre de Sara Tavares, de Zeca di nha Reinalda e de Tcheka Andrade, e caio logo “na gandaia”. Isa Pereira, Dudu Araújo e Lura tiram-me do sério. Gosto das vozes cabo-verdianas, o skating da crioulidade musical do canto cabo-verdiano. Mas nenhuma voz me apanhou quanto a de Ildo Lobo. Talvez por dele ter ouvido “Labanta Brasu” e “Djonsinhu Kabral” no tempo certo de as ouvir. Não posso pensar em Cabo Verde, independente, livre e democrático, estas ilhas desabridas e afortunadas, sem que, na trilha, me ressurja o trecho da voz de Ildo Lobo. Não sou telúrico, nem visceral no apreender a Arte, diz-me o Poeta. Mas marca-me cá dentro, como uma cadência de mim próprio, essa clave com fonema. Voz que me é, como nenhuma, existencial…
A MAIS ALTA VOZ / ILDO LOBO
sábado, 18 de outubro de 2008
Uma letra veio
(De onda em onda aonde
Um lume-olho novo luxo
Coisa Amar
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.
Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.E mar.
Amar: as coisas perigosas.
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi
desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.
Manuel Alegre
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Chove!
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
José Gomes Ferreira
Da tristeza feia de uma realidade descrita quase com raiva para a paz optimista de quem ouve para lá dos pingos da chuva
- 1.
0.
Leio-te um trecho de “Os Lusíadas”:
Tu, só tu puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
1.
The Untouchables
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Ambrósia
Não lhe adivinho, de pãs, faunos e sátiros,
Outra natura sua senão que do ébrio néctar
Todo âmbar nos seja o falecido Ampelos…
E se a longrina vinha, tua ou minha, trágica
De ninfas e de Sileno, nada lhe é como nudez
Que é, pois, temida sobre o Eufrates e gemida
Se ergueria a ponte que lhe aponta o Ganges…
Ali, aprendem-se lua, estrela e Kama Sutra
Sorvem-se, no oco das mãos, a água de mel
E o orvalho de Baco em espumas purpurinas…
Sabe-se, nas cercanias do Monte, o sal da poesia
Com que, aos perfumes, se amansam guerreiros,
Embriagados com turmalina, sol e melodia…
Filinto Elísio
Ofício Poético
escreva no corpo dela
faça um poema
goze no ponto final.
Minha Vernissage
Vernissage só de mim
Chega-se a uma idade em que somos mais impacientes e mais selectivos. Estamos chatos e não se fala mais nisso. Três minutos seguidos a ouvir zouk crioulo, nem pensar. Dez minutos contadinhos de tecnocrata consultor, trabalhador soooooooofre. Uma hora de comício, nem merda. Seminários semanais, workshops das ONGs, exposições apressadas, coffee breaks e debate arranjado de jornal, não brinquem comigo. É da idade ou da cidade tudo a nos virar rápido, digital e virtual. Arranjo geral. Making ups. Mas a ti, minha lua nua (que a rima é chula), te queria lenta, tangível e real. Enluadíssima. Kama Sutra. Vernissage só de mim …
Bolsa & Poesia
As bolsas, ora em alta, ora em queda, já fazem parte das minhas preocupações. De todos nós, suponho. Preferia usar esse “tempo de antena” a apreciar Leonard Cohen, mas fazer o quê? Não porque fosse outrora corretor, nem porque ora almeje ter bolso na bolsa. Estou mas é vocacionado e alvitrado para viver de outro corre-corre e a depender tão-somente da vida e saúde (inclusive, a mental). Falando nisso, fechei já o meu livro de poemas "Li Cores & Ad Vinho" e, doravante, só me restam as agruras do editor, gráfico, gráfica, lançamento, essas coisas…
The last dance
Nas eleições americanas de 4 de Novembro, mesmo não sendo americano e muito menos eleitor americano, estou com Baraka Obama. Vi-o, ontem, a dar um grande baile a McCain. The last dance. O debate (este sim, foi debate, com gosto a biscoito fino). A malta toda assoberbada e desviada para o desaire financeiro e para o “regresso keynesiano” do Estado, quase a deixar passar em branco o maior fenómeno político da década. Quem não se lembra de Martin Luther King Jr.? I have a dream…
Coisas de Rubem Fonseca
É o que vem escrito no conto “Ela e outras mulheres”: Perguntei, não está bom assim? Cada um no seu canto, nos encontramos para ir ao cinema, passear no Jardim Botânico, comer salada com salmão, ler poesia um para o outro, ver filmes, foder. Acordar todo dia, todo dia, todo dia juntos na mesma cama é mortal. Os livros de Rubem Fonseca e os discos de Leonard Cohen não saem de casa…
Reactivos
Há pessoas que confundem alhos com bugalhos. Diante de um asno e de uma besta querem ver nos gajos duas ovelhas. O Albatroz tem cara de eco-ponto, oooooops, perdão, contentor de lixo? O post anterior teve dezenas de reacções, entre as quais uma trintena de lamúrias, umas conventuais, outras mordidas…putis!
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
O Escorpião
Não-coisa
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?
Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?
A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes
só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,
um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos
No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:
subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisas
em permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa é fechada
à humana consciência.
O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.
Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.
Ferreira Goular
Debate
O debate, bem urdido como terá sido, fez mais estória que História. Há enigmas e incógnitas que ficam no ar. Primeiro, as máscaras usadas não se adaptam aos rostos. Segundo, se o debate era confrontar os primeiros-ministros da II República, faltou Gualberto Rosário no painel. Se o mesmo era confrontar a governação e a contra-governação (à guisa de situação-oposição), a sociedade queria ver José Maria Neves e Jorge Santos. E se a ideia (de uma subjectividade que não se explica) fosse o interface dos próximos presidenciáveis (por sinal, jamais providenciáveis), na minha modesta opinião, estaria a faltar pelo menos mais três respeitáveis cidadãos com assaz ambição. Quanto ao conteúdo do debate, convenhamos que os dois cidadãos estão à altura de governar ou de presidir esta República. Competência é que não lhes falta. Mas já que há fumo (a nos sufocar até), passemos a procurar o fogo dessa História. Aliás, estória, diga-se em abono da frontalidade!
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Amor Bastante
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
Paulo Liminski
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
O Des (o) Culto
O baile
A sociedade é um baile de máscaras. O cronista gosta de metáforas faits-divers e à la Palisse. É forçoso que estejas no baile mascarados, mas a ninguém a obrigação de dançar todas as músicas. Máscaras, porque haverá rostos. Se não, outras coisas quaisquer, tão vazias quão atrozes, pois prenhes de absoluto, infinito e eternidade. Em verdade, não há respostas à vista. Há, se tanto, aproximações. Inconformidades. Por conseguinte, máscaras e rostos que as determinam. E o cronista continua iconoclasta…
O fenómeno blogueiro
O fenómeno blogueiro em Cabo Verde é relativamente novo e carece de um olhar mais crítico e mais sapiente. Há quantidade e, dela derivada, alguma qualidade. Pessoalmente, não sendo especialista, mas blogueiro bissexto, só tenho a dizer que, às vezes, gosto e que, outras vezes, desgosto. Uns parecem carregar preocupações mais exegéticas que outros. Mas não virá o mundo abaixo por isso. Somos todos aprendizes de feiticeiros. O Blog pode também ser uma parafernália tecnológica, de múltiplas escolhas e possibilidades mediáticas, mas, em essência, puro brinquedo de quem o programa e o edita. Há Blogs de toda a sorte, uns melhores que outros, na proporção dos blogueiros (ainda bem) diferenciados…
O Poeta
Não falo desse restaurante de onde se vê a baía e o Ilhéu de Santa Maria. Falo do Poeta, conditio, a que Rilke referia como “sono de ninguém/sobre tanta pálpera”. E há aqueles versos de Maria do Rosário Pereira em que “num poema, mesmo manchado/de café, a chávena é certamente a/concha de uma mão – por onde eu/bebo o mundo, em maravilha, se tu,/bem entendido, fores o poeta”. O poema vai mais longe, mas este cheirinho já diz desta opção assumida pela metáfora. É só continuar a habitar o interior de tal texto.
A coruja de Ateneia
Derrubem os deuses. Rasguem, sem medo, nem piedade, suas túnicas. Amortalhem seus corpos. Esquartejem-nos. E fiquem depois nesse silêncio da liberdade. Só o silêncio poderá gritar dentro de nós a emergência de olharmos para as coisas. Esse silêncio profundo e mais integral. Filosofal, direi. Antes que a coruja de Ateneia levante o voo e, de partida, deixe sobre nós as sombras sem panaceia da vida. Antes que o prenúncio dos nimbos se abata sobre as nossas almas…
sábado, 11 de outubro de 2008
Obra pública
Lisboa, Lixboa, Luboa
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Busy...mente
Os deuses não existem, senão quando, por excesso de loucura ou de lucidez, inventamos coisas tangíveis e/ou intangíveis para divinizar. Marx falou em ópio do povo. Mas, em verdade, certas coisas chegam a ser piores que ópio...
2.
Receitas para um bom Blog? Não subscrevo essa. Conheço receita de Molho de São Nicolau (bem caprichada na farinha de mandioca, cabrito do tenrinho e inhame) e de Djagacida (com feijão seco, xerém do fininho e manteiga da terra), mas de Blog, convenhamos, ó rapaziada. É cada um a fazer o seu sem compromissos com gregos e com troianos. Sem dar cavaco aos berdianos. Eu só exigiria que a malta fosse menos “copy and paste” e isso já seria muito bom para se fazer um Blog. Fuck...
3.
Quando me é Lisboa
Máscara Negra
Ela dorme e repousa sobre a candura da areia
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
En passant
Debate presidencial
Piadinha
A "piada" do telemóvel não era para ninguém em particular. Era apenas um rasgo de humor entre os convivas. Quem esteve fora, esteve absolutamente fora. É o que dá em estarmos a brincar muito neste Blog, com tantos livros de Edgar Morin, Norberto Bobbio, Umberto Eco e Jean Ziegler ainda por ler...
Viaggo
Estou no Sal, a caminho de Lisboa. Um italiano afirma que a demanda turística caiu drasticamente na ilha. Em verdade, tive essa impressão da última vez que cá estive. Alguma prostituição, muito lixo e visível insegurança, para além de atendimento medíocre. O problema somos nós a ficar na mesma, a não concorrer à altura e a fazer preços deus-nos-acude. Vamos repensar tudo de forma mais radicalizada que a tese propalada por certos operadores associados. O buraco é mais em baixo...
À Beira de Água
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado.
(Porque o amor, perdoa dizê-lo,dói tanto!
Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.)
Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.
Eugénio de Andrade
Os Sulcos da Sede
Convívio
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Cinema: W, Z & etc
Oliver Stone, um dos meus cineastas dilectos, apresenta-nos por estes dias o filme W, sobre George W. Bush, o senhor que finalmente deixa a presidência dos EUA. O filme retrata-nos também Dick, Condoleeza e Donald. All the gang. Deve ser para maiores de 21 anos. Ou, como propõe Stone, para todas as idades. Não gostei de Nixon, o único filme de Stone que não me apanhou fundo. Achei-o “forçado” e chato, com mania de Costa Gravas. Esse, ao menos, fez Z. Para filme chato, já agora, revejo os de Micheal Moore. Mas prometo não perder W. Que não só remete para Bush, como para Wall Street, afinal a grande comédia destes dias…
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Pila ku nha boi
Coda
Não que seja um vício interessante, embora dele sejamos dependentes, mas mal começa a matina, depois do jogging, nos vemos na obrigação de ler os Blogs, procurando incrementar o nosso entendimento do mundo ou suplicar aos deuses da esquina alguma luz (da Electra não, pleaaaaaaaaaaase) para a nossa burrice. Como metaforizaria um poeta, somos eternos aprendizes. Por isso, somos também humildes, cientes de ainda nada sabermos, mas, gozões ainda, curiosos de trazer esse tourozito (um novilho, se nos parece) para a nossa tourada.
Homo urbanus
A chegada do “Homo urbanus” deveria ser matéria de comemoração, já que, pela primeira vez na História, a metade da humanidade vive em zonas urbanas. Mas, dos seus 3 biliões de habitantes, 1 bilhão vive em bairros marginalizados. O que é a cidade, ao fim e ao cabo? A Ética, a Estética e a Qualidade de Vida, dirá Maukie. O futuro, que é a condição mental e ontológica da felicidade.
Futuro
Saudade do futuro, disse-o há dias alguém. Não é uma frase de arromba, nem um To Be or Not To Be, mas vinha com alguma pinta. Em verdade, nós almejamos o futuro. Não conseguimos ficar betinhos e embevecidos (Ó que sabe na munde!) com isto a cheirar à merda e o forasteiro a mijar nos becos. Há questionamentos a fazerem-se, companheiro. Em que cidade topamos tanto ladrão, thug e salafrário num ai de apagão da Electra? Em que cidade moram menos artistas a sério e há tantos pseudo-intelectuas na praceta, por metro quadrado? Em que cidade os bêbados se embriagam assim de quatro por metros cúbicos de álcool? Saudade do futuro, sem dúvida…
Conselho
Pessoa diria: Para ser grande, sê inteiro. Mas a minha avó, que também tinha os seus rasgos de boa verve, aconselhava: Louvor em boca própria é vitupério…
domingo, 5 de outubro de 2008
Águas tão-somente
Que, tais como as rumorosas, ali
Descem em veias de montanhas
E, invés de ao mar, se tornam lagos…
Dirás também que Ródano, primo,
Desprende de fio gelado, ciciante
Quando se torna rio em vasto vale,
E ardente cio verde aqui de margens…
Mais azul que o até ao horizonte
Te desenharei como vejo o longe
Que a navegar me servem lágrimas…
E o que não caberia em tal fábula
- Escopo de peixes nesse aquário –,
És banho de chuva como te desejo…
sábado, 4 de outubro de 2008
Convívio
Alguns amigos (apenas oito, pois vai ser à mesa) estão convidados lá em casa para:
Declamarmos poesia (como em Porto Madeira);
Comermos tempura ou sushi de atum (serei eu o Chef);
Bebermos vinho branco da Chã (geladíssimo)
Homenagearmos José Cunha (entre nós por estes dias);
Ouvirmos música de Leonard Cohen (com letra imprimida)
Comentarmos dos badios, demasiados matinais, que exercitam seus corpos no jogging (enquanto as vacas, loucas, dormem)
In: Palavra Mágica
Onda
Praia é linda. Bonita. Bitori di nha Bibinha repetiu-o, com estribilho e exaustão, naquele funaná com clave de baião. Falta-lhe, entretanto, um pensamento inteligente. Algo que lhe seja mais colectivo e mais coerente. Em termos de Monumenta, Documenta e Anima. Uma cidade vai mais do que casas empilhadas, artérias de sangue só venoso e becos sem saída. Uma cidade, para ser bela, tem de projectar estética dentro e fora das pessoas. Mas ver este mar, lindão de morrer, para além do horizonte, é bucólico…sem dúvida.
Pura amizade
Eurídice (Eury, para os mais chegados) ganhou uma bolsa de estudo (aliás, duas bolsas) para prosseguir um doutoramento. Parabéns, menina! Pela Eury, tenho uma genuína e saudável (e apenas) amizade, não me importando com os “trémolos” ao som do zouk-love e dos anónimos I, II e III, do Ombudsman das Bagatelas, o tanas. Vou ao Blog dela, mais para saber de Calheta de São Miguel que para me alinhar nas causas feministas, embora delas não me aparte totalmente. Calheta é uma ínsula íntima e interior como a quis Valentinous Velhinho nos seus poemas. E, para além disso, é onde fica o umbigo do meu pai e de muita gente minha. Antes de mim, já esse destino portuense…
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Bem hajam
Bashô do Ricardo (Silvestrin...para vosotros)
Uma música não precisa mais que três minutos.
Um haicai, alguns segundos.
Mas podem durar a vida inteira.
Um filme, duas horas no escuro.
Um romance, muitas noites em claro.
Um quadro o tempo todo.
Até que se canse,
ponha outro em seu lugar.
Uma escultura numa praça,
mesmo com chuva,
mesmo que se mude de cidade,
ela está lá
sol no seu rosto
Ricardo Silvestrin
Azul ou "the ultimate bridge to nowhere"
Azulando o dia
Meus pássaros (em foreward),
A manhã acordou azul, com um sol redondíssimo entre amarelo e laranja. Apetecia-me lambê-lo, comê-lo. E, à beira-mar, onde religiosamente faço marcha matinal, os madrugadores pareciam mais lindos e mais felizes. As ondas, essas batiam nos rochedos como se não houvesse kasubody, apagão e subprime.
Leio os Blogs, os jornais e os últimos trechos de “O Pecado de Darwin”, de John Darnton. Confirmo a minha ida ao Brasil, como palestrante. Vou também a Itália, ver os frescos de Florença. E, quem sabe, Dubai também, porque o Ramadão acabou e alguém terá de trabalhar…
Plãmanhã, com aroma de romã. Como um poema de Sophia de Melo Breyner Andreson. Ou a música de Princesito.
Mito,
O quadro que me ofertaste bateu forte em mim. Como um piano no meu espírito. E é tudo…
Às vezes, não chego lá. A arte livre admite borrões desavindos, experimentação multimédia e absurdos conceptuais. E eu, nem sempre, estou tão Dada assim. Essa coisa livre que Duchamp criou não deve ser apreendida no rompante e no acaso, mas usada com responsabilidade técnica e objectivo estético.
Outras vezes, o quadro chega e bate em mim. Bate fundo em mim. Na arte, sou kantiano. Vou com a obra que me proporciona emoção. A sensação estética como uma espécie de nirvana. Era Kandinsky que dizia que a arte não seria útil nem agradável, mas teria de ter o poder de tocar um piano existente no nosso espírito.
Estranho delírio
Laura,
O meu processo criativo? Loucura e trabalho, se tanto.
A inspiração vem com delirius tremendus, mas a execução é oficinal. Um pouco racionalizada. Rigor quase matemático. Soneto não cai da árvore, por mais que acreditemos no Jardim do Éden.
Eu, por sinal, nem acredito nessa história, embora veja em tal parábola um bom filão de metáforas. Não iria afirmar, mesmo que me desses um doce, que a história do Pecado Original não nos empresta tremenda inspiração poética.
O sair do Paraíso tornou-nos mais livres e melhores poetas…
Zona de sombra
Jeff,
Sim. Acompanhei o debate nesta madrugada. Gostei menos de Palin. Assim como gosto menos de McCain.
Um tal Pascoalino, mormente simpático, me considera de mal com o mundo. Em verdade, estou de bem comigo. Com os meus demónios, inclusive.
Amigo, o risco de contágio do sistema financeiro faz desta crise uma pandemia. E há claramente uma zona de sombra que revela relativa inutilidade da classe política. A economia mundializada (apelidada artificialmente de Globalização) está nas mãos de bonecreiros com a sua lógica invisível e ininteligível.
Não sabemos quem comanda os botões que nos faz dormir ricos e acordar pobres, e vice-versa. Marx dizia que os homens fazem a história, mas não sabem a história que fazem. Por isso, um Deus qualquer, muito mais ganancioso que os evangélicos de Paiol do Coqueiro, quer nos ver aflitos por estes dias e explodir, do seu templo maior quem sabe, uma retumbante gargalhada. Só pode ser brincadeira de mau gosto…
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
PA ALBATROS
Ki bu ta korda y bu ta diskansa riba di bus aza spantozu,
(Un tenpestadi rixu rabenta? Bu ta labanta pa riba d’el
y bu ta rapoza na séu, kel skravu ki ta da-u gazadju)
Gosi bu ta parse sima un pontu azul, la lonji, ta mexe divagar na séu,
Y ku lus ki ta surji N ta observa-u di konves
(Mi propi é apenas un pontu, un sinal riba di tamanheza flutuanti
di mundu).
Lonji, lonji na mar, dipos di kes korenti brabu di noti simia praia
di manduxu,
Na nanser di dia, filis y serenu,
Ku antimanxe ilástiku y kor-di-roza, ku sol dislunbranti,
Ku stenson klaru di ar kor di séu ku mar,
Bo tanbé bu ta torna parse.
Bo, ki bu nanse pa bu midi tenpestadi (bo é so aza),
Pa konpiti ku séu ku tera, ku maris y furakon,
Bo naviu di ar ki nunka bu ka reia vela,
Sen kansa, duranti dias y simanas bu pirkore spasus y renus,
ta avansa senpri,
Y na kanbar di sol bu odja Sinegal y Merka bistidu di lutru,
Ta labanta ku forsa na mei di alanpras ku nubris di strubada,
Y nton, na bus spiriensia, bu atxa nha alma,
Alegria txeu! Alegria sen manha kes di-bo!
Walt Whitman
Traduson: José Luiz Tavares
Budget
Di palbessa
That Biden
Pranchinha que, apesar de morto e enterrado, de vez em quando, vem ao Albatroz fazer das suas, antes de se tornar ao além, pergunta como foi possível Baraka Obama escolher o Senador Joe Biden para seu Vice. Um homem que, na tentativa de engraxar Obama, teve esta derrapagem racista: "o primeiro afro-americano limpo e inteligente que conheci". Já por esta afronta, que só os “pretos safados” engolem, Biden não devia entrar “na lista negra” (que agora dá votos e cartazes, diga-se de passagem). Olha, Pranchinha, esses óculos ficam-te bem…
Two times two
Gato Preto (não confundir com Black Cat, naaaauuuuuu dizimola) ficou furibundo com essa Sarah Palin. Conhecem-na? Os americanos também não. A dita cuja não conhece geografia. Os americanos também não. Os próprios republicanos por sinal estão cépticos quanto à sua capacidade de liderar a América. Não porque McCain tenha 72 anos, mas porque Geórgia não fica na África, diachi nho. Maukie (que jamais foi Peter, arre e chispa, ó chavala) manda à dita a seguinte pergunta: Sabe Vossa Senhoria o resultado de 2x2? Os americanos sabem-no, mas os de Walt Street nem por isso.
Império do Meio
Hugo, the fuckin´ bird (hoje, o gajo aparece-me às 5H30), contrapôs: Deixai os americanos reaprenderem economia com esta crise, até porque os chineses, ora donos da metade do dólar, terão de aprender com os japas como fazer harakiri, se a dinheirama continuar nessa podridão. Hugo é fogo. Anda cada vez mais cáustico e mais amargo. A sua frase dilecta: I don´t care. Falando nisso, 31 produtos chineses (quase todos exportados para o mundo) estão contaminados com melamina, substância tóxica utilizada em resinas e colas. E nós que temos melanina, quanto de tais produtos não estará nas prateleiras das lojas por cá? Lá está Hugo a meter-se com o Império do Meio…
OBS: A festa foi boa. O Pablo adorou. Por isso, amo Outubro…a começar.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Pablous
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo...