(Esboço de um poema a vir)
E vi um soluçante rio buscando o mar
— prodigioso mundo onde um homem
pudesse descansar por sobre as suas
intermináveis atribulações — e alimárias
ruminando na tarde de verde e calma.
E fui então altivo escravo na eira do pelourinho,
mercadejado para engenhos e cobrições,
e forro nos terreiros enlouquecidos
já a cidade se acendia em seu rumor de febre&farra.
E, como numa tela de Caribé,
baianas de rotundo porte também vi
em requebros que enlanguesciam tanto
o sol-pôr, e longe adivinhei o olor
de sonhadas áfricas no mercado que não vi
quando a rouca vibração
das turbinas era já música que me dessem
na tarde com deliberação de cinzas.
E fui assim aéreo sofrível cronista
de um morno dezembro arroteado à mão da bruma,
baixando desde um vago céu azul estreme
por sobre campos avenidas, e arrabaldes de fumo
denso tão para sempre escutados na voz desse
negro cantor, adorador das antigas divindades.
José Luis Tavares
Salvador da Baía, 9 de Dezembro de 2008
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