quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

SALVADOR DA BAÍA — VISTA AÉREA




(Esboço de um poema a vir)


E vi um soluçante rio buscando o mar

— prodigioso mundo onde um homem

pudesse descansar por sobre as suas

intermináveis atribulações — e alimárias

ruminando na tarde de verde e calma.


E fui então altivo escravo na eira do pelourinho,

mercadejado para engenhos e cobrições,

e forro nos terreiros enlouquecidos

já a cidade se acendia em seu rumor de febre&farra.


E, como numa tela de Caribé,

baianas de rotundo porte também vi

em requebros que enlanguesciam tanto

o sol-pôr, e longe adivinhei o olor

de sonhadas áfricas no mercado que não vi

quando a rouca vibração

das turbinas era já música que me dessem

na tarde com deliberação de cinzas.


E fui assim aéreo sofrível cronista

de um morno dezembro arroteado à mão da bruma,

baixando desde um vago céu azul estreme

por sobre campos avenidas, e arrabaldes de fumo

denso tão para sempre escutados na voz desse

negro cantor, adorador das antigas divindades.



José Luis Tavares

Salvador da Baía, 9 de Dezembro de 2008

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