segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Praia, Natal & Naomi de presente



Ouso sair-te pelas ruas e vejo as pessoas na ferocidade das compras. Penso na bomba termo-nuclear dos versos de Arménio Vieira, poeta que joga xadrês no antigo Flor de Liz. Sou suspeito quando falo da Praia de Santa Maria, que a quero com amor uterino. Que lhe quero pessoanamente como "o rio que passa pela minha aldeia". E, repetindo à exaustão desejo-lhe "maior que o Tejo". Mas a cidade está feia e desfeita. Um Natal a cair aos pedaços e umas lojas chinesas a facturarem algum. Os ambulantes foram acontonados no largo dos rabidantes, mas o Plateau continua asfaltadamente absurdo: com menos árvores, com os mesmos lixos e, nesse reverso, os mesmos luxos. Este Plateau asfixiante, mas viciante que só! Habito-lhe todos os recônditos. Preencho-lhe os buracos todos. Acaricio-lhe a face, faço-lhe poemas, metaforizo-lhe realidades de pura pedra (vou ao ponto de amar suas ruas sem sentido). Às vezes, canto-lhe a partida, ou dela quero ser uma nau enlouquecida. Incendeio-lhe seus pequenos deuses. E, no começo das noites, esqueço-lhe as mágoas. Outras vezes, odeio-lhe o tempo monocórdico, o Cronos que devora seus filhos e limpa os beiços com guardanapos de cetim, o relógio que nos é interior neste lugar. Odeio-lhe o tempo e o vento, e onde pára este e quando acaba aquele. Tudo isso porque é Natal. Faz Natal na minha alma. E na tua , cidade. Querias Naomi Campbel de presente? Estás-te a rir, que eu te conheço. PRAIA. Por favor, não partas, deixa-te estar ao meu lado.

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