quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
NAS COLINAS DO DESTERRO
(APÓCRIFO DE MAHMOUD DARWICH
DIRIGINDO-SE A UM POETA JUDEU)
Matam e morrem — desde as alturas
de guedá que sabem que só o sangue
cheira a sangue. Mesmo com voz exangue,
louvam o porvir. Mesmo se pelas agruras
feridos. Mas porque nenhum destino se tece
com apenas uma meada, matam e morrem.
O fim dos tempos não temem, mas correm
com leves pés de potro ante o dia que fenece.
A rosa e o aço conhecem. A lisa geometria
e a áspera desmesura. Tão distantes do grego
legado, porém — aprender pelo sofrimento.
Do tempo conhecem o sulco e a estria.
E porque irmãos humanos essoutros, digo-
-lhe: nosso também o horror e o lamento.
JOSÉ LUIZ TAVARES
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