quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Profunda Reflexão

O Pensador
Auguste Rodin
1.
Terá chegado a hora de os produtores culturais, principalmente os artistas, não serem olhados nesta terra como pobretanas, marginais e pedintes. Tão pouco como românticos vagabundos e penitentes nestas ilhas, onde o medíocre burocrata já vai conseguindo uma razoável conta bancária. Terá chegado a vez do produto cultural, sem pejos, nem complexos, entrar no mercado e mensurar o seu activo no cômputo de outros produtos. Hora de uma nova economia que se adiciona aos restantes – a “economia da cultura” – não só para adoçar a alma e reforçar os vínculos da identidade, mas para alicerçar um novo “campo” de acção conducente à criação da riqueza e à melhor distribuição social do rendimento…

2.
E se tal hora terá chegado, como nos indicia o Fórum Internacional sobre a Economia da Cultura, organizado pelo Ministro da Cultura de Cabo Verde, teremos de nos preparar, com sentido de causa e consequência, para os debates sobre a cultura, que não dizem unicamente respeito à defesa das identidades (regional, nacional, histórica) e à formação do capital humano (colectivo, individual), mas também (e de igual modo) abordam a dimensão económica da problemática. Os debates que transbordem e transcendam o espaço e o tempo deste Fórum Internacional, instalando-se, doravante, no quotidiano e nos vasos capilares das ilhas e da Diáspora…

3.
Em verdade, nem teríamos de inventar a roda. Teremos de reinventá-la à luz da nossa (ir) realidade. Os dados estão lançados, como diria Jean-Paul Sartre. Mas, diante dos dados (que precisam de novos levantamentos e outras análises), comecemos a questionar o conjunto das actividades culturais que tenham eventualmente algum impacto económico. O sector cultural e criativo gera rendimentos? Fá-lo de forma proporcionada e suficiente? Ele sustenta ou é sustentado pela Economia de Cabo Verde? As políticas públicas para a Cultura subsidiam as actividades culturais e criativas de forma emancipadora e autonomizante ou fazem-no de forma precária, assistencial não reembolsável? O mercado empresarial tem tido capacidade, mesmo com as leis de renúncia fiscal, para patrocinar e remunerar o trabalho criativo, inovativo e intelectual da nossa sociedade? Estas perguntas implicariam respostas a serem dadas, não apenas pelo Poder Político, mas por toda a Sociedade Cabo-verdiana, diga-se em abono da verdade.

4.
Segundo o “Global Entertainment & Media Outlook 2006-2010”, da Price Waterhouse Coopers, a “economia da cultura” passou de 1,3 triliões de dólares em 2005 e se aponta, apesar da crise financeira internacional, para 1,8 triliões de dólares em 2010, crescendo 6,6% ao ano, bem acima da média da economia mundial (5%). Em outros termos, a “economia da cultura” tornou-se o sector que mais cresce, gera renda, exporta e emprega, e aquele que melhor remunera. É ainda o que mais impacto tem sobre outros sectores igualmente vitais. E produz maior valor adicionado. Ademais, é uma “economia” baseada em recursos inesgotáveis (como a criatividade e a inovação) e que activa de forma “competitiva” os países que nela investem.

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