segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mamã África


Mamã África*

Myriam Makeba, a cantora sul-africana que queria estar no palco até aos 90 anos, faleceu esta segunda-feira, vítima de uma parada cardíaca. Makeba tinha 76 anos e estava em plena estrada, cantando a “alma de toda a África” e defendendo as grandes causas humanas. Ainda ontem, pouco antes de falecer, esteve num palco em Castel Volturno, na Itália, a cantar contra o Racismo, a Xenofobia e a Máfia. Eu tive o privilégio de assistir a um concerto de Myriam Makeba, aqui nesta cidade da Praia, oportunidade que só a Independência Nacional permitiria. Ela cantara “Malaika”, música preferida da minha saudosa mãe, dançara “Pata Pata”, com inédita sensualidade, e falara de Nelson Mandela, então encarcerado. E continua, em clave, chave e melodia, a me bater cá dentro Cabo Verde: a luta continua, a luta continua, continua

Yes, he could

Acompanhei, com algum sentido crítico, a festarola que se fez no Continente Africano devido à eleição de Baraka Obama a Presidente dos Estados Unidos da América. Enquanto, em todo o mundo, há círculos de reflexão e de debate sobre uma eventual “nova política americana” que, naturalmente, impactará o Mundo, em certos países africanos (não todos, felizmente), a questão deriva em festa, feriado e regabofe. Países como o Congo (onde o genocídio corre solto), a Nigéria (onde a corrupção fala mais alto), o Zimbabué (onde o abuso do poder é prato do dia), o Sudão (onde a fome e o racismo grassam) e o Quénia (onde o tribalismo se tornou letal), entre vários outros, precisavam de facto de abordagens mais críticas, assertivas e incisivas. Sem as orgias de uma carnavaleira alegria…

We really can

Igualmente, alguns, um pouco pelo planeta, perguntam “para quando o nosso Obama?”, como se isso, para além da enorme carga simbólica, fosse a panaceia das soluções reais para todo o lugar, inclusive a panaceia contra o racismo e a segregação. Obama nos parece ser uma história feliz, corolário de um processo histórico dramático e doloroso do povo americano, sobretudo do afroamericano. Os outros países devem construir os seus próprios percursos e buscar as suas próprias soluções, como, aliás, fez a África do Sul em determinado momento histórico. O parasitismo, que mais não é que andar na História como passivo ao invés de activo, só conta que nos falta entender que cada povo domina o seu próprio destino e que, como dizia Amilcar Cabral (um dos maiores líderes africanos de todos os tempos), temos de pensar com as nossas próprias cabeças

Palmas para JLT

O Poeta José Luís Tavares figura entre os nove premiados no II Concurso Literatura para Todos, do Ministério da Educação, no Brasil. A pré-selecção desse interessante concurso literário contou com mais de 600 obras, o que denota não apenas a qualidade da proposta do Poeta José Luís Tavares, como revela que o Brasil definitivamente “dá as cartas” no que toca à Arte da Educação (e vice-versa). Da minha parte, estou orgulhoso e contente…

Momentos

Dias atrás, escrevi um post sobre os meus “momentos existenciais” e uma dezena de amigos, dos quatro cantos do mundo, ripostou, revelando preocupação com o meu “estado de espírito". Cheguei a ficar comovido. Em verdade, não atravesso nenhuma cavada depressão, nem ando bem à míngua de colo nesta fase da minha vida. Preciso sim, como todos aliás, de mãos demoradas do afecto e de sentir a crepitação do fogareiro da amizade. Ao fim e ao cabo, neste lado da rosa, somos todos uns frágeis…

*Discografia de Myriam Makeba:

"Pata Pata", "The many voices of Miriam Makeba" (1962), "Miriam Makeba live in Africa" (1967), "The word of Miriam Makeba" (1968), "Miriam Makeba and Harry Belafonte" (1972), "Sangoma" (1988), "Welela" (1989), "Skylarks" (1992) e "Sing me a song" (1994).

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