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Mito
Hoje, amanheci nesta loucura: nave de alabastros, teus cerâmicos rostos e fulgentes olhos, ó cabalística cidade. Depois, à hora da higiene matinal, que é a seguir ao jogging e ao noticiário, ainda isto me foi dado: sementeira de alada fantasia, tumefacto ventre de eufonia – só tua. E não é que me visto ao espelho que mostra as rugas, alguns cabelos brancos e meia dúzia de estrias, também minhas. Tomo o pequeno-almoço nessa recorrência (eh, pá, preciso de ajuda, a sério): alfarrabistas e poetas, meretrizes e cães, rosas e musgos – todos os mucos – tu, cidade. O engarrafamento que me leva, como um rio parado, ao Plateau (há quem o chame de “Centro Histórico”), dá um close-up num relógio pendurado por um fio de nylon, suicídio que assim reporto: sílabas labirínticas, olha que tenho tua esfinge na mão, quantos liames são teus segredos, latejam-me teus becos, companheira – sem eterna idade. Sei que não estou imbecil, mas já não resguardo as certezas de ontem…
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