sexta-feira, 4 de maio de 2007

Os bens dos naufragantes


Dedicado a Fernando Hamilton (MITO) Elias,
pelo grafismo poético

Regresso

O avião da TACV fazia a aproximação para o Aeroporto Internacional Pinto Martins e, da escotilha, eu perscrutava a luzes da cidade. Fortaleza, a Bela. Há quase um mês fora de casa, sinto falta do meu travesseiro, do meu computador, da minha janela em 10º andar e dos transeuntes pela Avenida Beira-Mar. Sinto falta de mim, em Fortaleza. Do frenesim académico, das tertúlias no Clube do Bode e da minha solidão reconfortante…O poeta está na encruzilhada existencial. De um lado, intenso e produtivo. Doutro lado, apático e triste. Como se tivessem jogado uma névoa na sua vista ou deixasse entrar frieira no coração. Bato com a mão na madeira, mas o agoiro é mau - esse veículo negro a rodar pelas madrugadas, para a pândega dos seus detractores. Estes, campeões da vilania, incapazes de glória e graça. E declamam, vociferantes adorações, os cáusticos versos de Arménio Vieira. Helena, minha cabra e etc…

Os bens dos naufragantes

Ao sair do avião, lá estás tu a pensar em mim. Telepatia, Panterinha. Com muito prudente zelo, como diria Padre António Vieira. Ter-te-ei decepcionado às vezes. Mas julgo ter-te encantado mais vezes. A preposição de fé e de amor que me dedicas. Semeadora que deitas ao meu coração o trigo das paixões. E no pretório de Pilatos, afastas de mim o cálice envenenado. O quanto te devo por estes bens dos naufragantes

Em Cabo Verde

Fiz de tudo, um pouco. Participei do Simpósio sobre o 1º Centenário da Geração do Movimento Claridoso. Abordei nessa jornada os aspectos dialécticos no Modernismo Cabo-verdiano – o papel de Jaime de Figueiredo. Afigurei-me, mais do que nunca, não claridoso, capaz de reconhecer, entretanto, o papel importante desse Movimento. Tanto que sou consultor de um programa televisivo – Claridade Incandescente, de Margarida Fontes, produzido pela TCV. Pude também acompanhar a evolução do Monumento ao Emigrante, de que sou co-autor, com Carlos Hamelberg. E, no próximo dia 17 de Maio, estaremos a inaugurá-lo, no quadro das celebrações do 149º Aniversário da Cidade da Praia. Nessa altura, apresentarei aos praienses o meu livro Das Frutas Serenadas - striptease poético. Escrevi, o quanto pude para as coisas em que acredito. Para as causas, que ainda tenho. E alguns bons momentos, que não transcendem…


Homem-Aranha, de negro

Pensando no meu kodé, Pablo, de 4 anos, e no meu primogénito, Denzel, de 15, aceitei o convite da minha amiga Mariam para a estreia do Homem-Aranha 3. Este filme marca o início da alta temporada dos filmes para as férias do meio do ano, disse-me ela. Mariam, para quem não sabe, é uma amiga de 18 anos, estudante de Direito na Universidade Federal do Ceará e poeta influenciada pela Geração Beat. Por conseguinte, ela gosta de quadradinhos, tatuagens, cartoons e comics – todo o grafismo que os nossos ideogramas exigem. De vez em quando, revisito a Mariam, porque é sempre coisa nova e refrescante. Boa amizade. Adianto que nunca fui um aficionado pelo alter-ego de Peter Parker – essa personagem aracnídea ou tão-só essa simbiose alienígena de repórter, o Homem-Aranha. Mas não é fácil recusar aos convites da Mariam. Além do mais, quero estar aggiornato com a linguagem dos meus filhos…E haja teia para o intelectual gostar de Homem-Aranha. Desta feita, de negro…

Jornal Horizonte

Gostei do post da minha amiga Kamia, no www.sopafla.blogspot.com, sobre o encerramento do Jornal Horizonte. Nada de dramas. Foi bom e eterno enquanto durou. O convívio foi demais, no limiar do horizonte das amizades e do respeito. Jamais censurou ninguém o editor desse Jornal que há de fazer falta a muitas vozes. Fiquemos ora pela cloaca fétida dos media partidarizados. As Margens chegaram ao fim. Ladeavam elas o vasto rio da liberdade…

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