Em chuvoso
Neste bairro, de onde se vê, de um lado, contornos da serra, e, doutro lado, fiapos do Oceano, acorda-se cedinho com o cantar do galo. É um cantar surrealista numa cidade de mais de 2 milhões de habitantes e com crescimento urbano notável. A clave desse cantar lembra os pregões das peixeiras de São Vicente, como muito bem reparou Vasco Martins e de, certa forma, o esboço da alva no Tarrafal, de Santiago. Acorda-se cedinho, dizia, e fica-se contemplativo. Chove torrencialmente sobre Fortaleza. Da janela deste apartamento, o resto da cidade se esmaia na neblina. Mais tarde, haverá sol rachado e desabrido. Quem sabe eu sorrisse ao mínimo olhar dos transeuntes. Mas por ora é chuva. Chuvosa esta minha alma…
Protestos e reivindicações
De repente, novas formas de protestos e de reivindicações – greve de fome, carta-aberta e acorrentamento público – emergem da sociedade civil. Buzinão já era. Passeata, então, virou jurássica. Novíssimas formas de luta, dizia. E até certo ponto, a classe política (situação e oposição) lida com elas de forma difusa. A imprensa também. De todas as manifestações, a greve de fome parece ser a mais radical e, em consequência, a de mais difícil solução. A complexidade da questão envolve interesses e princípios, em relação aos quais os precedentes, se abertos, mudam os fundamentos da nossa forma de vida. A questão envolve a edilidade, o Estado de Direito, o direito do Estado e os direitos humanos. Não nas suas circunstâncias, mas na sua transcendência. No caso da Britar, por exemplo, que acompanho à distância, a melhor solução é a negociada, onde a premissa deve ser win-win, ou seja onde todos ganham, mitigando paritariamente os riscos e as perdas. A solução absoluta (e fascista) de um ganhador irredutível e intolerante seria neste caso desastrosa. Aliás, não seria solução. As novas formas de luta estão instauradas e urge alguma delicadeza em evidenciá-las. Até porque é preciso salvaguardar as legalidades. Analisar as legitimidades. Intuir que com os direitos não se brinca. E com a vida muito menos…
“Bila” revisited
Não deixa de ser interessante que os cidadãos manifestem a sua posição em relação ao património. Esta preocupação de harmonizar o passado e o presente é histórica. «Naturalmente que temos de encontrar a harmonia entre o moderno e o tradicional. Mas não se destrói o tradicional para construir o moderno. Nós temos que ver como podemos harmonizar o moderno e o tradicional», defendeu o ministro da Cultura, Manuel Veiga, numa entrevista ao Jornal A Semana. A preservação e a recuperação do Património Material é um imperativo para estimularmos à memória e a releitura histórica de nossa formação como Nação e País. É importante respeitar e promover o Património. Com activismo, se necessário…Falando nisso, alguém não gostou (e ainda bem) que eu tivesse dado a minha opinião sobre as manifestações em prol do Património ocorridas na cidade de São Filipe. Antes de mais, fi-lo por convicção. Depois, por solidariedade aos envolvidos. E, finalmente (hegeliano sempre), por defender que a contradição é a mãe das grandes mudanças. Ademais, em democracia, não se pode esconder a doença e combater o diagnóstico. Os cidadãos devem estar sim atentos e acesos. Caso contrário, hoje como outrora, um Calígula qualquer pode transformar em senador o seu próprio cavalo...
Aos teus ouvidos atentos
Sim, eu escrevo fingindo a dor deveras. No blog, na folha e no peito. Tatuo-me em graffiti. Sou assumidamente pessoano. O desatendo, confude. E o atento, perde-se. Estou no tapete voador sobre as dunas, as ondas e os sonhos. E, se flutuo, é apenas um lento momento de dança. De graça fugaz e trivial. No mais, escrevo…por ora.
3 comentários:
e Cabo verde aqui tão perto e a certeza de querer conhecer
e de mais uma vez me perder nessa àfrica que me seduz e atrai em cada instante.
Caro Filinto:
tenho pronto o texto para a Sopinha de Alfabeto. Diga-me, por favor, para onde devo enviá-lo.
Grande abraço
Jorge
Prezado Jorge:
O seu texto (tenho a certeza) é uma colaboração ansiada, pois prenuncia qualidade e diferenciação. Mande-o, por favor, para filintos@gmail.com e c.c. para me2elias@hotmail.com.
Que os burocratas, retratados de molde exímio no seu último post, me perdoem...mas já estou com "água na boca".
Abraço cúmplice e fraternal,
Filinto
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