Faço o download do anexo electrónico e surge no monitor a fotografia do meu filho. Não só o olhar do Pablo (que tem o nome de Neruda) que me encanta. Mas também o olhar do fotógrafo, apanhando-lhe os ângulos e os traços, as luzes e as sombras – deixando no antevisto um prenúncio de memória – me deixa impressionado.
Não me compete fazer uma recensão crítica à obra fotográfica de Omar Camilo. Nem quero ora invadir uma função tão alheia, ademais abalizada e técnica. Ao ver esta e outras fotografias de Omar Camilo, transporto-me para a terceira utopia de Renata Pimentel - para a grande aventura da sensibilidade: De sermos e estarmos artistas, onde a fome de tanta alma nos carece a palma da mão, nos embruta o olho e nos faz leitores que capinam o solo bruto. Aqui e agora, apenas dou-vos a ideia da sensibilidade que me provocaram os quadros de Omar Camilo. É só disso que escrevo, nada mais.
Depois de um demorado browsing, creio não estar a cometer uma heresia (mas se a cometesse, paciência) se disser que o cubano Omar Camilo, mote e razão deste texto, é um dos melhores artistas em Cabo Verde, neste momento.
Destoante da vulgata retrateira instituída, sobre a qual repousa a ideologização dos costumes e regras, ele (por conhecimento de causa) remete-nos, pela transposição (e se calhar pela latinidade) a Frida Khalo, essa expoente das artes plásticas e do expressionismo psicanalítico. Aliás, o espólio de Omar Camilo guarda uma pungente homenagem à pintora mexicana. Não será por coíncidência…
Os quadros de Omar Camilo insinuam o Belo, a estética no seu afã de significado e na sua máxima complexidade. Daí não serem evidentes, nem de fácil fruição e leitura. Eles exigem antes reflexão e introspecção. Os olhos voltados para dentro, como diria o filósofo. É uma obra toda ela com arrebatamentos imagétidos e transreais. Carecendo de atenção redobrada, por conseguinte.
Conheço-o, resistente e renitente, ao quatidiano neurotizado e à fina medíocridade do meio, pagando alto preço por assaz marginalidade. Como enfrentar tenebrosos gigantes quando à vera não passam de moínhos de vento, ó Alonjo Quijano de triste figura? Diga-se, sem desprimor a tantas susceptibilidades e ao mau-gosto novo-riqueiro, que o “artista não-funcionário” continua a ser um “maldito”. Vez por outra, um mecenas para confirmar a regra e raramente uma proposta decente para desmentir este dito.
Omar Camilo nos lega sensibilidade quando o que paira é anestesia! Os seu pais são cegos de nascença. Por isso, a sua necessidade de olhar por outrem e ele é “filho único”. Freud explica. Afinal, há que diga que o Artista se define no id…
Em prol da transparência, repito: este texto nasceu porque Omar Camilo me enviou, por zip informático, uma linda fotografia do Pablo, agora home no meu computador. E, como soe dizer por cá, tô que não me agüento de saudades do meu filhote. Era de sensibilidade a minha prosa, não era?
Também por estas e outras (não) razões, admiro e recomendo-vos muito…Omar Camilo.
1 comentário:
Olá, Elísio!
É com prazer que estou conhecendo este seu blog, rico em opinião, arte e política. Ótimos textos: sensíveis! Obrigado pela dica fotográfica de Omar Camilo. Aliás, você soube muito bem descrever a foto que acompanha a matéria. Realmente maravilhosa!
Gostei bastante também do texto em que você trata da Praia. Preocupações fundamentais que devem ser levadas em conta antes de qualquer mudança.
Passo agora a ler sobre as relações comerciais entre o Ceará e Cabo Verde. Quero, com isso, saber mais sobre Cabo Verde, assim como tantos outros lugares da África e da América Latina que embora muito próximos culturalmente de nós, brasileiros, estão distantes dos noticiários, onde o mundo é tamanho da América do Norte e Europa.
Que este seja o início de uma rica troca de informações, principalmente entre os países de língua portuguesa.
Deixo o endereço do blog que escrevo junto ao amigo Leonardo: http://pulaomuro.blogspot.com
Até mais!
Júlio Henrique Canuto da Silva
São Paulo - Brasil
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