Cronicando
O Pranchinha, nas calendas, purgatório ou lá onde navega, chamaria a minha atenção pelo facto de eu ser um cronista temerário, irresponsável mesmo. Mas não tenho outra cidade para amar e odiar. Conheci cidades interessantes como Belo Horizonte, Casablanca e Boston. Já andei por Nova Iorque, São Paulo, Lisboa e Dakar. Gostei de Ponta Delgada e Genebra. Mas para amar e odiar, só a cidade da Praia, onde nasci e me fiz homem. Em soalheiros dias, sem promessas de música, ponho-me a andar pela orla da cidade, em linguajar mais correcto na rol do mar, que nem mais é um passadiço de arreal e penedo, banhado pela onda furibunda. E ando ali no meu divagante pensamento face ao Ilhéu de Santa Maria. Sempre com amor e ódio, diga-se. E o Plateau é um espaço que se põe a render, destruindo sobrados patrimoniais e erigindo caixotes arquitectónicos. E, depois, qualquer dia, vira uma China Town. Como o Ilhéu de Santa Maria, aliás. Tudo muda. Mudando. E nós, tristes que somos, animais de capoeira. Orfãos que somos da Esplanada da Praça 12 de Setembro, destruída num rompante infeliz por alguém quase embriagado pelo Síndroma de Nero, o idiota que incendiou Roma. Sim, China Town…e porque não? Que não seja mal interpretado, gosto muito de lo mein de carne…
Das crónicas
A tentação de fazer das crónicas apenas o testemunho dos dias políticos existe, sim senhor. A política corridinha, rasca e doméstica nos interpela de tal forma, que o jeito é lhe dedicar, a cada semana, umas linhas cativas. Mas, pensando bem, o cronista assumiu-se de fait-divers e absolutamente livre das margens. Os dias que passam são políticos, culturais, económicos, sociais e o que mais queiram. E estas inumeráveis facetas do quotidiano é que fazem o tempo, o cronos e as crónicas. Assim, uma onda furibumba bordando em escuma a praia bordejante é tão narrável quanto o congresso deste ou daquele partido. E o grande investimento de David Show vale tanto quanto o profundo olhar de um transeunte. Tudo, tudo, tudo é vida (inclusive a morte) e eis que o cronista continua…de serviço.
Dos cronistas
Já vamos sendo muitos – uns sistemáticos e outros bissextos – a escrever pelos jornais e revistas. E as pessoas nos lêem nas barbearias, nos autocarros, nos cafés, nas casas de banho, enfim. Entre a novela, a política e o futebol, somos lidos na diagonal e quase sempre de esguelha, pois os leitores anda não se convenceram do seu papel crítico e, quem sabe, de co-autores. Mais do que isso, de protagonistas. A cidadania é também a cidadania dos leitores, capazes de pensar (em mais complexa dimensão e para lá do imposto) das coisas que acontecem. O investimento chinês no Ilhéu de Santa Maria, os exercícios na NATO, a integração à União Europeia, a imigração clandestina, a violência doméstica, em suma, as coisas que vão acontecendo e que os cidadãos vão lendo en passant como se não determinassem a nossa vida colectiva. Mas os cronistas continuam ali acesos e despertos. Chamativos e atentos. Acordai-vos…
O Relatório
Reli, com atenção, o Relatório dos Direitos Humanos, do Departamento de Estado Americano, e estranho o quiproquó feito por uns e outros mercê do seu conteudo. Em verdade, o Relatório descreve Cabo Verde como um dos países de melhor quadro de cumprimento das balizas humanitárias e isso só nos deve orgulhar a todos. Em 90% dos itens, estamos bem avançados, não só em relação ao nosso querido continente africano, mas aos demais que se dizem mais civilizados e com pretensões civilizatórias. Mas há os 10% periclitantes (e eles existem de facto) e devem ser identificados, assumidos e ultrapassados. A violência doméstica é um deles. A morosidade da justiça também, entre outros. E são questões colectivas, a merecerem um olhar crítico de todos nós. E não apenas o dos americanos que (a gente compreende) têm sérios problemas domésticos nesse capítulo e não poderiam velar sempre por nós. Em verdade, precisamos acertar muitas coisas que os americanos nem viram. Portanto, cuidemos nós (sem poltiquices de trazer por casa) das nossas mazelas…
Numa prece & Cia
Vamos chamar, sim, a atenção para os patrimónios naturais, históricos e paisagísticos, dos nossos ilhéus - Branco, Raso, de Santa Maria, Seco ou Rombo, de Cima, Ilhéu Grande, de Curral Velho e Baluarte.
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