domingo, 30 de abril de 2006

Chuva, raios e coriscos…



Em chuvoso

Neste bairro, de onde se vê, de um lado, contornos da serra, e, doutro lado, fiapos do Oceano, acorda-se cedinho com o cantar do galo. É um cantar surrealista numa cidade de mais de 2 milhões de habitantes e com crescimento urbano notável. A clave desse cantar lembra os pregões das peixeiras de São Vicente, como muito bem reparou Vasco Martins e de, certa forma, o esboço da alva no Tarrafal, de Santiago. Acorda-se cedinho, dizia, e fica-se contemplativo. Chove torrencialmente sobre Fortaleza. Da janela deste apartamento, o resto da cidade se esmaia na neblina. Mais tarde, haverá sol rachado e desabrido. Quem sabe eu sorrisse ao mínimo olhar dos transeuntes. Mas por ora é chuva. Chuvosa esta minha alma…

Protestos e reivindicações

De repente, novas formas de protestos e de reivindicações – greve de fome, carta-aberta e acorrentamento público – emergem da sociedade civil. Buzinão já era. Passeata, então, virou jurássica. Novíssimas formas de luta, dizia. E até certo ponto, a classe política (situação e oposição) lida com elas de forma difusa. A imprensa também. De todas as manifestações, a greve de fome parece ser a mais radical e, em consequência, a de mais difícil solução. A complexidade da questão envolve interesses e princípios, em relação aos quais os precedentes, se abertos, mudam os fundamentos da nossa forma de vida. A questão envolve a edilidade, o Estado de Direito, o direito do Estado e os direitos humanos. Não nas suas circunstâncias, mas na sua transcendência. No caso da Britar, por exemplo, que acompanho à distância, a melhor solução é a negociada, onde a premissa deve ser win-win, ou seja onde todos ganham, mitigando paritariamente os riscos e as perdas. A solução absoluta (e fascista) de um ganhador irredutível e intolerante seria neste caso desastrosa. Aliás, não seria solução. As novas formas de luta estão instauradas e urge alguma delicadeza em evidenciá-las. Até porque é preciso salvaguardar as legalidades. Analisar as legitimidades. Intuir que com os direitos não se brinca. E com a vida muito menos…

“Bila” revisited

Não deixa de ser interessante que os cidadãos manifestem a sua posição em relação ao património. Esta preocupação de harmonizar o passado e o presente é histórica. «Naturalmente que temos de encontrar a harmonia entre o moderno e o tradicional. Mas não se destrói o tradicional para construir o moderno. Nós temos que ver como podemos harmonizar o moderno e o tradicional», defendeu o ministro da Cultura, Manuel Veiga, numa entrevista ao Jornal A Semana. A preservação e a recuperação do Património Material é um imperativo para estimularmos à memória e a releitura histórica de nossa formação como Nação e País. É importante respeitar e promover o Património. Com activismo, se necessário…Falando nisso, alguém não gostou (e ainda bem) que eu tivesse dado a minha opinião sobre as manifestações em prol do Património ocorridas na cidade de São Filipe. Antes de mais, fi-lo por convicção. Depois, por solidariedade aos envolvidos. E, finalmente (hegeliano sempre), por defender que a contradição é a mãe das grandes mudanças. Ademais, em democracia, não se pode esconder a doença e combater o diagnóstico. Os cidadãos devem estar sim atentos e acesos. Caso contrário, hoje como outrora, um Calígula qualquer pode transformar em senador o seu próprio cavalo...

Aos teus ouvidos atentos

Sim, eu escrevo fingindo a dor deveras. No blog, na folha e no peito. Tatuo-me em graffiti. Sou assumidamente pessoano. O desatendo, confude. E o atento, perde-se. Estou no tapete voador sobre as dunas, as ondas e os sonhos. E, se flutuo, é apenas um lento momento de dança. De graça fugaz e trivial. No mais, escrevo…por ora.

sábado, 29 de abril de 2006

Um browsing pela obra de Omar Camilo


por Filinto Elísio


Faço o download do anexo electrónico e surge no monitor a fotografia do meu filho. Não só o olhar do Pablo (que tem o nome de Neruda) que me encanta. Mas também o olhar do fotógrafo, apanhando-lhe os ângulos e os traços, as luzes e as sombras – deixando no antevisto um prenúncio de memória – me deixa impressionado.

Não me compete fazer uma recensão crítica à obra fotográfica de Omar Camilo. Nem quero ora invadir uma função tão alheia, ademais abalizada e técnica. Ao ver esta e outras fotografias de Omar Camilo, transporto-me para a terceira utopia de Renata Pimentel - para a grande aventura da sensibilidade: De sermos e estarmos artistas, onde a fome de tanta alma nos carece a palma da mão, nos embruta o olho e nos faz leitores que capinam o solo bruto. Aqui e agora, apenas dou-vos a ideia da sensibilidade que me provocaram os quadros de Omar Camilo. É só disso que escrevo, nada mais.

Depois de um demorado browsing, creio não estar a cometer uma heresia (mas se a cometesse, paciência) se disser que o cubano Omar Camilo, mote e razão deste texto, é um dos melhores artistas em Cabo Verde, neste momento.

Destoante da vulgata retrateira instituída, sobre a qual repousa a ideologização dos costumes e regras, ele (por conhecimento de causa) remete-nos, pela transposição (e se calhar pela latinidade) a Frida Khalo, essa expoente das artes plásticas e do expressionismo psicanalítico. Aliás, o espólio de Omar Camilo guarda uma pungente homenagem à pintora mexicana. Não será por coíncidência…

Os quadros de Omar Camilo insinuam o Belo, a estética no seu afã de significado e na sua máxima complexidade. Daí não serem evidentes, nem de fácil fruição e leitura. Eles exigem antes reflexão e introspecção. Os olhos voltados para dentro, como diria o filósofo. É uma obra toda ela com arrebatamentos imagétidos e transreais. Carecendo de atenção redobrada, por conseguinte.

Conheço-o, resistente e renitente, ao quatidiano neurotizado e à fina medíocridade do meio, pagando alto preço por assaz marginalidade. Como enfrentar tenebrosos gigantes quando à vera não passam de moínhos de vento, ó Alonjo Quijano de triste figura? Diga-se, sem desprimor a tantas susceptibilidades e ao mau-gosto novo-riqueiro, que o “artista não-funcionário” continua a ser um “maldito”. Vez por outra, um mecenas para confirmar a regra e raramente uma proposta decente para desmentir este dito.

Omar Camilo nos lega sensibilidade quando o que paira é anestesia! Os seu pais são cegos de nascença. Por isso, a sua necessidade de olhar por outrem e ele é “filho único”. Freud explica. Afinal, há que diga que o Artista se define no id

Em prol da transparência, repito: este texto nasceu porque Omar Camilo me enviou, por zip informático, uma linda fotografia do Pablo, agora home no meu computador. E, como soe dizer por cá, tô que não me agüento de saudades do meu filhote. Era de sensibilidade a minha prosa, não era?

Também por estas e outras (não) razões, admiro e recomendo-vos muito…Omar Camilo.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Sanfilipe – entre o grito e o silêncio

"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons."
(Martin Luther King)



Conhecendo, por dentro, a política e o programa culturais do Governo, vejo, com regozijo, que as manifestações em prol do património ocorridas em São Filipe vão em sintonia pensamento estratégico preconizado. O importante, ao fim e ao cabo, são as questões de fundo.

Uma das maiores preocupações, constituindo mesmo uma questão de fundo, do Governo é a salvaguarda e a promoção dos valores materiais e imateriais da Cultura e da História de Cabo Verde. Para tanto, as instituições estão criadas e vocacionadas. E, valha-nos a democracia, o debate está aberto, já que nestas coisas, aqui ou na China, o crescimento briga muitas vezes com o património instituído. O que importa realmente é a noção da cidadania e da realidade.

Obviamente que o IIPC encara com atenção e parcimónia o “tesouro urbanístico”, que é São Filipe. Mas entre encarar e agir, mercê dos meios e recursos existentes, às vezes há uma demora crítica, se não mesmo um hiato. Igualmente, sabe-se que a própria Câmara Municipal tem os seus planos de restauro e de protecção do património construído ali existente. Uma vez mais, entre as intenções, os planos e as materializações vai uma distância exasperante. E o cidadão deve estar atento a tudo isso. A cidadania tem a ver com a autonomia cultural e a autonomia da acção cívica.

Et pour cause, a carta-aberta de Fausto Rosário – não a forma em si, mas a sua essência – tem toda a razão de ser. Outros “Faustos” deveriam ter levantado as mesmas preocupações na cidade da Praia, na Cidade de Santiago, na Vila de Ribeira Grande, na cidade do Mindelo, na Vila de Ribeira Brava e noutras paragens. É preciso quebrar “o silêncio dos bons”. Outrossim, o protesto de três cidadãos acorrentados defronte aos Paços do Concelho não deixa de ser curioso e paradigmático. A cultura também se faz pela indignação. O diálogo entre as posições antagónicas é quase sempre muito profícuo. Não há que ameaçar com tribunais, nem com retaliações. Valha-nos a democracia e a tolerância, repito. Importa dar respostas. As inumaráveis respostas. Dialogar com causa e consequência. Isto é, modernizar a cidade, sem matar os seus traços patrimoniais e idiossincráticos. Depois, há que repensar a “modernidade” e resignificar a “qualidade de vida”.

A Bila, patrimonial e histórica, monumental como poucos espaços em Cabo Verde, tem de ser tombada, restaurada e reanimada. Por uma cadeia complexa e estrategicamente articulada – Governo, edilidade, munícipes, cidadãos cabo-verdianos e não só. Não apenas para o gáudio dos seus moradores, mas também e acima de tudo (como preconiza aliás o Programa do Governo) por respeito à memória colectiva de todos os cabo-verdianos…



quinta-feira, 27 de abril de 2006

A Praia, os tristes do pedaço e a hora cidadã

A cidade da Praia, por ser a capital de Cabo Verde, país insular e nação diasporizada, é a alter urbis de todos os cabo-verdianos. Nela, os cabo-verdianos, em consenso e plataforma, deveriam consolidar a memória e projectar o futuro. Com estas palavras, à guisa de desejo, queria saudar o fórum sobre a “Identificação de Vocações, Medidas de Política, Infra-estruturas e Atitudes para o Desenvolvimento da Praia”, em boa hora organizada pela Associação para o Desenvolvimento da Praia (Pró Praia).

A Pró Praia considera (com toda a legitimidade) que, antes que a cidade atinja 150, daqui a dois anos, “é importante que algo seja feito para a mudança do satus quo da capital do País”. Em verdade, é hora de tematizar a Praia e que ninguém se engane, pois esta cidade resulta de processos sociais, culturais, económicos e políticos complexos. O debate terá de ser também complexo e com perspectivas multidimensionais. Discorrer sobre “Urbanização e Segurança – Impactos, Causas, Consequências e Perspectivas” nos obriga a todos a uma análise retrospectiva, conjuntural e prospectiva, para que encontremos as alternativas sustentáveis. Mister é a mudança e a palavra de ordem deve ser a sustentabilidade…

As ruelas de Ponta Belém, as casas térreas e os sobrados das ruas e travessas, o mercado municipal, os canhões do Cruzeiro, a praça Alexandre Albuquerque e a sua gurita, assim como toda a Várzea da Companhia e a Achada de Monteagarro, são uma parte importante da nossa alma e da nossa identidade, factores, quais impressões digitais, da nossa singularidade, mas temos a convicção que são atributos insuficientes para assegurar a nossa competitividade presente e futura.

A hora é de pensar a Praia como “praça financeira” e como referência cultural, a “last frontier” do desenvolvimento sustentável. Uma Praia com artes, monumentos, museus e bibliotecas. E com os investimentos chineses, portugueses, angolanos e ingleses, já apontados, todos benvindos e necessários. E venham outros, porque a vida nasceu

Uma cidade como a Praia terá de reinvestir pesado em equipamentos e serviços, como aeroporto, porto, universidade e parque industrial, ao tempo que recoloca na agenda política e no debate social a questão dos custos da capitalidade. Em verdade, só há desenvolvimento quando cruzarmos cidadãos educados em espaços equipados. O resto são histórias (bairrismos, mesquinharias, colonialismos internos, interiores e mentais, e quejandos)…e quanto a isso, de há muito que já estamos acordados, atentos e acesos.

Os tristes do pedaço querem, no entanto, uma Praia retrógada, coitada e tacanha. Bem entendemos o móbil de tal gente. As intenções, mais “piedosas” do que ecológicas e/ou patrimoniais, devem ser entendidas na sua exacta dimensão. Elas têm os seus próprios e acantonados registos. Mas nós, os amantes desta cidade, queremo-la metrópole moderna e arrojada, competitiva com as demais capitais, e para tanto precisamos neste fórum de uma visão de futuro, de uma utopia aglutinadora e, seguramente, de uma estratégia de afirmação.

A insegurança na cidade da Praia (a violência urbana, a tóxicodependência, a condução ofensiva, etc) não é causa, mas consequência, de um abandono e de um laxismo, a vários níveis e de muito, muitíssimo, tempo. Reduzir o debate ao lixo e aos assaltos é empobrecer o convívio democrático. Os cidadãos têm de “pegar nesta cidade”, alter urbis de todos os cabo-verdianos. A pólis é feita de cidadãos (que votam e pagam impostos) e são estes a sua componente mais importante, afinal.

Um abraço apertado e fechado, como o anel rodoviário ora em construção, a todos os amantes da Praia.

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Lúcia Cardoso em concerto

A conversa correu em torno de um recital sobre Padre António Vieira. Ela interessou-se pela opereta e quis saber outros detalhes. Em verdade, ainda o projecto permanece embrionário, meio no papel, meio na mente. Disse-me as suas ideias sobre os canticos e pedi-lhe que as repartisse com Ricardo de Deus...

De Renato Cardoso, recordamos algumas letras de música e algumas melodias imortais. E ela tem um projecto de passar tudo para a pauta. Achei bonito...e mais que necessário.

De abalada rumo a Cabo Verde, ela prometeu aproveitar as férias em actividades culturais. Filha de peixe...

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Lúcia Cardoso em concerto
Temas de:
Edu Lobo, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Chico Buarque,
Tom Jobim

Tó Tavares (viola)
Ricardo Deus (piano)

Auditório CCP/ICA, Praia, Cabo Verde, dia 27 de Abril, às 19.00h

terça-feira, 25 de abril de 2006

Sima pêtu Sheila


Nenhuma fruta me é tão serenada quanto ouvir a voz de Mayra Andrade. Voz feita de quietude e melaço. Vez por outra energética como o começo de um vendaval. Mas quase sempre eivada de remanso e mar calmo. Viva voz, aqui e agora. Outra voz. Doutrora. Arco-íris e mais cores. Lua nova, lua cheia, lua cambante...o céu por limite.

kandinsky

À beira do Mucuripe

Mergulhado nos arquivos

Escrevo, arduamente mergulhado nos arquivos, um livro sobre as relações comerciais (e outras) entre o Ceará e Cabo Verde. Tenho descoberto coisas interessantes e estou cada vez mais convencido de que estas relações, profícuas para os micro e pequenos empresários de parte a parte, estão longe ainda do seu potencial. Neste momento, há um projecto do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) para a abertura de créditos e fomento de exportação e parceria (leia-se joint-venture) entre as empresas cearenses e cabo-verdianas. Esta nova realidade impõe às empresas um realinhamento estratégico para uma nova fase dos negócios. Em certa medida, não se trata apenas de negócio ponta-a-ponta do crescente comércio (formal e informal, note-se), mas de uma rede complexa rumo a novos mercados (África Ocidental, Macaronésia e EUA). Uma nova engenharia empresarial, de maior porte e complexidade, deve ser pensada pelos decisores públicos e privados do Ceará e Cabo Verde. A pesquisas pelos arquivos, remotos e recentes, dão-me esta visão prospectiva...

Cabo Verde X Ceará: small is beatifull

Forçoso reconhecer de que o Brasil não é só um importante player na região, mas um grande player mundial. Autosuficiente em termos energéticos e alimentares, competitivo em termos científicos e tecnológicos, o Brasil caminha, ao lado da China e da Índia, para o ranking das superpotências. Tão grande e transcendente, com uma capilaridade assaz expansionista, que irradia diante dos pequenos países a proposta de novas formas de cooperação internacional. É a linha de “small is beatifful”. Destarte, ressurge a cooperação entre o Ceará e Cabo Verde, inaugurada com o vôo directo da TACV Sal-Fortaleza, um divisor de águas. E neste particular, é de se reconhecer, noblesse oblige, a visão estratégica do então Presidente da TACV, João Ramos e do seu Administrador Comercial, Jorge Spencer Lima, por uma iniciativa tão ousada na altura quão bem-sucedida a prazo...

José de Alencar à mesa

A ideia de abordar as relações entre o Ceará e Cabo Verde (uma bilateralidade atípica tratando-se este de um país independente e aquele de um estado membro da República Federativa do Brasil) nasceu há muitos anos. A sua gênese deve-se de certa forma a razões afectivas. E radica-se à infância, ficando Freud por explicar os seus meandros. Em verdade, o Ceará aparece na minha infância com os textos de José de Alencar que o meu pai, em iniciativa recorrente, fora lendo ao longo desses anos. E no meu imaginário de criança, recriava sertões e cangaceiros, caatingas e forrós, coronéis e cabras-machos. E, em tal filme que ora descrevo, falava-se da proximidade cultural com o Arquipélago. Ao tempo, eram obrigatórias as leituras de Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, sociólogo brasileiro que provocara algum frisson na pequena, mas dinâmica, intelectualidade claridosa. A obra, que sistematizava o perfil sociológico dos mundos ditos lusotropicalistas e pós-escravocratas, abria pistas interessantes. E o apport de Gilberto Freyre me emprestara uma perspectiva paritária entre o Nordeste brasileiro e Cabo Verde, no tocante ao mosaico antropológico e cultural, definidor em última análise das formas de vida. Sem ser freyriano, nem claridoso, embora reconheça num e noutro enormes méritos (e as suas contradições inerentes), fui reconstruindo no pensamento os pontos de convergência entre os cearenses e os cabo-verdianos. Agora sei que a cachupa e o mangunzá são pratos parecidos. E a Ypióca e o grogue de cana-de-açucar são “primos carnais”. E o forró lembra ao funaná e a seresta à morna. Semelhanças impressionantes...

À beira do Mucuripe

Uma canção do Fagner. O seresteiro e o violeiro. Serenata de Cabo Verde! De repente, nesse Mercado Central, vejo que o Das Frutas Serenadas precisa de novos sabores, cores e odores: cajá, caqui, chichá, grabiru, guaraná, maracujá, pitanga, sapoti, caju, jabuticaba, carambola, biriba e graviola, cujo suco, à beira do Mucuripe, a minha mãe adora...

segunda-feira, 24 de abril de 2006

Browsing


Aldemir Martins
Frutas
60 x 81 cmacrílico sobre tela

Viragem


1.
Momento vespertino com o poeta Dimas Macedo. Despertar para novos círculos da estética. Poetaria e crítica literária. Assaré, Alencar & Feitosa. A outra Fortaleza...

2.
Fim de tarde em homenagem a Pixinguinha. Centro Cultural "Dragão do Mar". A moça que executa "Ave, Maria", ao bandolim...e em jeito de chorinho. Chove. De mansinho...

3.
Alguém, longe daqui, fechou uma janela que dava para o mar. Mas eu fico a ver o horizonte azulado. Viajo no azul. De repente, a estrela solitária é o que sobra da alva...

quarta-feira, 19 de abril de 2006

In my craft or sullen art


Anoitece e estou diante do computador. Há um poema que se instala no monitor e pede para entrar no livro. Em estranho solilóquio, concedo-lhe um lugar no “Das Frutas Serenadas” (já fechadíssimo). A criatura é quem determina o Criador. Em silenciosa noite. Sempre...


E fiquem com os versos de Dylan Thomas (um dos meus eleitos):


In my craft or sullen art
Exercised in the still night.

terça-feira, 18 de abril de 2006

Numa prece & Cia




Cronicando

O Pranchinha, nas calendas, purgatório ou lá onde navega, chamaria a minha atenção pelo facto de eu ser um cronista temerário, irresponsável mesmo. Mas não tenho outra cidade para amar e odiar. Conheci cidades interessantes como Belo Horizonte, Casablanca e Boston. Já andei por Nova Iorque, São Paulo, Lisboa e Dakar. Gostei de Ponta Delgada e Genebra. Mas para amar e odiar, só a cidade da Praia, onde nasci e me fiz homem. Em soalheiros dias, sem promessas de música, ponho-me a andar pela orla da cidade, em linguajar mais correcto na rol do mar, que nem mais é um passadiço de arreal e penedo, banhado pela onda furibunda. E ando ali no meu divagante pensamento face ao Ilhéu de Santa Maria. Sempre com amor e ódio, diga-se. E o Plateau é um espaço que se põe a render, destruindo sobrados patrimoniais e erigindo caixotes arquitectónicos. E, depois, qualquer dia, vira uma China Town. Como o Ilhéu de Santa Maria, aliás. Tudo muda. Mudando. E nós, tristes que somos, animais de capoeira. Orfãos que somos da Esplanada da Praça 12 de Setembro, destruída num rompante infeliz por alguém quase embriagado pelo Síndroma de Nero, o idiota que incendiou Roma. Sim, China Town…e porque não? Que não seja mal interpretado, gosto muito de lo mein de carne

Das crónicas

A tentação de fazer das crónicas apenas o testemunho dos dias políticos existe, sim senhor. A política corridinha, rasca e doméstica nos interpela de tal forma, que o jeito é lhe dedicar, a cada semana, umas linhas cativas. Mas, pensando bem, o cronista assumiu-se de fait-divers e absolutamente livre das margens. Os dias que passam são políticos, culturais, económicos, sociais e o que mais queiram. E estas inumeráveis facetas do quotidiano é que fazem o tempo, o cronos e as crónicas. Assim, uma onda furibumba bordando em escuma a praia bordejante é tão narrável quanto o congresso deste ou daquele partido. E o grande investimento de David Show vale tanto quanto o profundo olhar de um transeunte. Tudo, tudo, tudo é vida (inclusive a morte) e eis que o cronista continua…de serviço.

Dos cronistas

Já vamos sendo muitos – uns sistemáticos e outros bissextos – a escrever pelos jornais e revistas. E as pessoas nos lêem nas barbearias, nos autocarros, nos cafés, nas casas de banho, enfim. Entre a novela, a política e o futebol, somos lidos na diagonal e quase sempre de esguelha, pois os leitores anda não se convenceram do seu papel crítico e, quem sabe, de co-autores. Mais do que isso, de protagonistas. A cidadania é também a cidadania dos leitores, capazes de pensar (em mais complexa dimensão e para lá do imposto) das coisas que acontecem. O investimento chinês no Ilhéu de Santa Maria, os exercícios na NATO, a integração à União Europeia, a imigração clandestina, a violência doméstica, em suma, as coisas que vão acontecendo e que os cidadãos vão lendo en passant como se não determinassem a nossa vida colectiva. Mas os cronistas continuam ali acesos e despertos. Chamativos e atentos. Acordai-vos…

O Relatório

Reli, com atenção, o Relatório dos Direitos Humanos, do Departamento de Estado Americano, e estranho o quiproquó feito por uns e outros mercê do seu conteudo. Em verdade, o Relatório descreve Cabo Verde como um dos países de melhor quadro de cumprimento das balizas humanitárias e isso só nos deve orgulhar a todos. Em 90% dos itens, estamos bem avançados, não só em relação ao nosso querido continente africano, mas aos demais que se dizem mais civilizados e com pretensões civilizatórias. Mas há os 10% periclitantes (e eles existem de facto) e devem ser identificados, assumidos e ultrapassados. A violência doméstica é um deles. A morosidade da justiça também, entre outros. E são questões colectivas, a merecerem um olhar crítico de todos nós. E não apenas o dos americanos que (a gente compreende) têm sérios problemas domésticos nesse capítulo e não poderiam velar sempre por nós. Em verdade, precisamos acertar muitas coisas que os americanos nem viram. Portanto, cuidemos nós (sem poltiquices de trazer por casa) das nossas mazelas…

Numa prece & Cia

Vamos chamar, sim, a atenção para os patrimónios naturais, históricos e paisagísticos, dos nossos ilhéus - Branco, Raso, de Santa Maria, Seco ou Rombo, de Cima, Ilhéu Grande, de Curral Velho e Baluarte.

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Estranha nuvem

Uma estranha nuvem negra instala-se,
Pesada e vagarosa, onde, até ontem,
Corria, risonho, o meu coração
De criança ávida de graça e paz…de tudo.

Nuvem que não se explica, porque ruidosa,
No seu próprio silêncio e grave, aqui
E ali, onde quer que caminhe, na terra
E na lua, e direi no pensamento, mormente.

Um tanto esquecido, de mim e da morte,
Procuro dissipar a neblina e o frio, misteriosa
Brisa que, esquecida, retorna à minha lembrança.

Sem métrica, nem rima, de um reverso somente
Carrego, qual Sisifo, a filosofal pedra da vida
E vou à morte remediado de tudo…de tudo.

Filinto Elísio

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Rapado e não assaltado (na barbearia de Seu Aufredô)

No começo, achei estranho. Levar a cebeça a um aprendiz? Cabeça e pescoço, já que o propósito era cabelo e barba. E ele ali: jeito de aprendiz mesmo e um nadinha amaricado para o meu gosto (e Seu Aufredô, o barbeiro propriamente dito, tratava-o por bóia fria) . A vantagem é que era metade do preço e a carecada era de uma assentada. Em Cabo Verde, a barbearia era um ritual facilitado: primeiro máquina a zero e depois lâmina. O meu barbeiro já sabia do meu gosto: corte tudo que seja cabelo, menos sobrancelhas e pestanas. A desvantagem era a faladeira sobre o futebol e a política. E o aprendiz pergunta: com ou sem assalto? E eu, sem perceber, ao que ele corrige: as barbearias são assaltadas em Cabo Verde? E eu: creio que não, comigo nunca aconteceu. Aqui, umas cinco vez, quatro à mão armada. E explico: primeiro, tesoura, depois, máquina, e, finalmente, faca. Não, sempre com revólver, companheiro, disse o aprendiz de barbeiro. Conversa nesse tom, de cabo a rabo, lá acabei rapadinho e fresco como um leitão à hora do forno. Você ficou um gato e não foi assaltado, repetiu o aprendiz, para se recompor diante do meu olhar de censura. No que apareceu o dono da loja, o barbeiro propriamente dito: e aí, africano, tu curtiu o corte aqui do bóia fria? E eu, numa fina cumplicidade, aquiesci-me: nota dez, senhor, melhor do que na terra. Sem política, nem futebol

Sol posto

Sol posto

O desamparinho foi quase nada. De um ai, o sol cambou-se no poente e no regaço do nada ficou este anil, mesclado de violeta e magenta. Ter-te-ia dito no chat duvidar dos deuses, dos pássaros em torvelinho e dos romances de Dan Brown. Da ponte metálica – chamam-na Ponte dos Ingleses-, restam a minha solidão, um casal que namora o fim-da-tarde e as jangadas de velas brancas. Estas, lembram à música de Fagner…

Diário de um homem normal

Mau grado a praga, proferida em ódio, e que às vezes pega. Morte, perseguição e/ou prisão, quando não invalidez ou exílio, e bate-se aqui em madeira, não vá o diabo tecê-las. Dizia, apesar do mau agoiro e do bad vibe, como diria o Denzel, agraciou-me ela, implacável como sempre, com a premonição da loucura. Isso me deixou feliz e mais humorado, nesta semana - mais chata que santa, diga-se -, em que escrevi (de uma assentada) a peça “Diário de um homem normal”, que, entrementes, prometera a um dramaturgo.

Os donos do mundo

Diante de um portentoso, mas esteticamente feioso, monumento, de soslaio e de esguellha se lhe roçavam os contornos, o Homem Normal começava assim o seu dia: pareceres ao ministro, dois telefonemas ao director do Gabinete e a leitura diagonal de um pedido de patrocínio. Refeito da primeira rotina, ele telefonava à cantina a ver se havia a pizza de chouriço e navegava (sempre sem querer) pelos blogs da praça. E o monumento, eterno naquele semblante de pedra! Escrevia um plano de trabalho e desistia de convencer aos donos do mundo que a radicalização seria mister. Matava-se nos dias. Aliás, estava morto de há muito. Como o mostrengo do monumento…arre (para não dizer porra)!

Lendo Pedro Cardoso

Li, em tanta sofreguidão, os versos todos
A verve tântrica de palavradas ilhas
E a praça se pressente, e a Brava ao largo,
E a quilha dos barcos em redondilhas.

A raiva toda, senti-a no corpo e na alma,
De pés descalços pelo dorso do vulcão,
Mãos percorrendo corpos de pedra negra,
Calcinados campos onde as uvas solfejam.

Li-os, página a página, a medra da cal
De tão brancas e térreas casas, arrieiros
E sobrados desaguam na matricial igreja.

O rufar dos tambores, o relinchar dos cavalos,
Em festas de pilão e bandeiras, e a procissão
Imensa (quase eterna) e eu nesse Presídio…

Filinto Elísio

Quarteto, trio, dueto & solo

Vaticinou o fogo, mas faltou-lhe o vento
A terra e a água, o quarteto iniciático
De o Verbo ser o começo de tudo, inscrito
Em letras do mistério no Sagrado Livro.

Reiterou o pai, o filho e o poeta, trindade
E trio que emproam, em luz e brilho,
A estrela d´alva de um dia e sua sompra,
Nuvens que correm na manhã nublada.

Quem sabe chove, aqui e no mundo, agora
Em dueto canta-se o arco-íris que decresce
Como um sol que se assenta ali no poente.

Faltou-lhe tudo afinal, a paz e a guerra,
A solidão desbotoada da rosa e o perfume
Que enebria a una verdade de sermos solo…

Filinto Elísio

quarta-feira, 12 de abril de 2006

Lança-perfume

1.

Rita Lee, uma das maiores expoentes da Música Popular Brasileira, apresentou um soberbo espectáculo no aterro da Praia de Iracema. Tudo, e muito mais, para comemorar os 280 anos de Fortaleza. Com os pés atolados na areia e o pensamento esvoaçado no mundo, lá cantámos em uníssono Ovelha Negra, Amor e Sexo e Doce Vampiro.

(…)
Me acostumei com você
sempre reclamando da vidaaaa
me ferindo, me curandoa ferida
mas nada disso importaaaa
vou abrir a portaaaa
pra você entrar
beija minha boca
até me matar
(…)

Mas o melhor da noite foi Luzianne Lins, Prefeita de Fortaleza. No fim do espectáculo, afirmou: “Queremos muitas mudanças. Não queremos apenas crescimento económico. Queremos mais democracia e justiça. Queremos que o fruto da produção e do crescimento sejam distribuídos eqüitativamente. Não podemos ser mais o país da desigualdade nem a capital da injustiça social”.

2.

Mas já se faz tarde. Tardíssimo. E estou com sono, soninho, como diria o meu filho Pablo.

(…)
Vem cá meu bem, me descola um carinho
Eu sou néném, só sossego com beijinho
Vê se me dá o prazer de ter prazer comigo
(…)

Lança, lança perfume

terça-feira, 11 de abril de 2006

Pluma na lua

Para Nancy Morejón e Omar Camillo


Tendes vós, com mesuras retesadas, a noite
Com que o Judeu, de Shakespeare, dita ali
Sua injustiça, profana ou santa, em Veneza
E encanados fostes do Verbo, e em primo frutos…

Fostes, das tremeluzentes estrelas, a cadente
E a rápida trajectória do risco e do cisco, ao micro
Olhar de um campónio aos vastos campos
E a mão incerta que à linha o peixe aguarda…

Poetas, como pescadores na lua, e em pluma
Flutuam no jusante das palavras e a medra,
ora pedra, ora Fedra, à sombra e sua metáfora…

Em primo ou sopro derradeiro, Esopo ou átomo,
Ilhas irradiadas no espaço anil e vão do mar,
Sois de mim, dados frutos, oh implacáveis…
Filinto Elísio

Fortaleza, 2 de Abril de 2006

Retalhos

Corda bamba

Leio os blogs todos, recebendo, de cada um, os seus implacáveis recados. Em verdade, com ou sem pessoalizações de permeio, já somos um movimento e creio mister o reforço da causa. Assumidamente. Como tudo o que começa e um dia terá pernas para fazer o seu caminho, andamos ora como equilibristas na corda bamba…

Arco-íris

Acabo de ver um arco-íris. Da minha janela, o arco se vê perfeito. Uma espécie de apoteose depois da chuva. Parece até que o dia recomeça. E o meu coração, então encharcado, sorri de novo. Acho que alguém canta um samba antigo. De Lupicínio Rodrigues, se não me engano. Algo que me transporta à infância…

280° Aniversário

Fortaleza comemora 280 anos, com muita actividade cultural. Amanhã, pela noite, será o show de Rita Lee, na Praia de Iracema. Não vou perder. Gosto do estilo roqueiro-nacionalista de Rita Lee. E a irreverência da forma e do conteúdo como encara a arte. E a vida…

Quadros da Diáspora

Será para breve mais um Congresso do Quadros da Diáspora. Ocasião de ouro para falarmos da Nação Global Cabo-verdiana. Tirando uma ou outra mania elitista, deste ou daquele “dotorado”, a iniciativa é louvável e merece o nosso aplauso.Continua oportuno o “suicídio da pequena-burguesia”, em prol de mais soberania, democracia e desenvolvimento. Cabral era um visionário. Vendo as coisas como estão, saibamos distrinçar o trigo do joio…

Golpe de Estód na Paraíse

Vamos ver se deixamos em casa o bairrismo e o neocolonialismo, pois Cabo Verde não pode parar. A “turbinada”, na teia de todas as praças, precisa compreender que só estaremos abertos ao mundo se assumirmos as nossas matrizes crioulas. Sou negro, sou branco, sou das ilhas, sou do mundo. Sou sincreticamente cidadão. Setenta anos sobre a Claridade, temos de ser “independentes”, sem síndromas da Casa Grande e Senzala. Cabeça em movimento…eia Orlando Pantera!

Mayra Andrade

Escreveu-se isto sobre Mayra Andrade, uma das maiores revelações musicais de Cabo Verde, e peço desculpas para transcrever o texto. Para os cépticos da excelência e da competitividade “berdianas”, ora tomem…et voilà:

Un soir de janvier 2004, mû par une sorte de rumeur distillée depuis quelque temps, je fais escale au Satellit Café, un club à musique live du quartier Oberkampf de Paris, fortiche dans la mise en orbite de jeunes pousses, disons, "world". Et là, un choc, une découverte comme ça n'arrive même pas une fois l'an : Mayra Andrade redessine les contours musicaux de son pays, le Cap Vert, avec grâce, aplomb et, chose rare pour une fille qui n'a pas encore 20 ans, retenue. Certes, on sait grâce à Cesaria Evora où se trouve cet archipel (à 500 km au large du Sénégal) et on découvre peu à peu que cette terre aride ne chante pas d'une seule voix, qu'elle est foisonnante de rythmes, Morna, Coladera, Funana, Batuque, qu'elle est riche en auteurs et interprètes, rarement restés au pays, plutôt installés loin du port, parfois exilés.Mayra n'est pas une exilée.
Elle vit à Paris depuis 2003, et ses parents lui ont donné le goût de la bougeotte : née à Cuba, elle grandit entre Sénégal, Angola, Allemagne et, tout de même... Cap Vert. Les premières comptines de ses années d'enfance sont brésiliennes. Mais c'est avec une chanson de son pays, en créole capverdien, qu'elle remporte la Médaille d'or des Jeux de la Francophonie au Canada face à 35 concurrents. Elle a alors 16 ans. Mayra Andrade enchaîne les scènes, à Praia et Mindelo (Cap Vert), puis à Lisbonne, et en France, à partir de 2002, de petite salle parisienne en grand festival d'été. Elle assure la première partie de Cesaria Evora au New Morning. Au Brésil, elle représente encore une fois son pays, pour un "single" au profit de la lutte contre le Sida avec notamment Lenine et Chico Buarque. En 2005, Aznavour l'invite sur son nouvel album pour un duo en français. Partout où elle passe, elle subjugue.
Mais voilà, la rumeur enfle et toujours pas de disque. Ca devient crucial. Mayra, qui a du caractère, résiste à la pression et, plutôt que de céder aux sirènes de productions précaires, préfère attendre une proposition plus consistante. Ce qui finit pas arriver en 2005.
Voici donc ce "Navega", "sur les flots". Un régal d'album qui n'a rien d'une production pharaonique, qui mise au contraire sur la simplicité, le tout acoustique, et où elle affirme farouchement sa liberté. Elle puise certes à... 93% dans la langue patrimoniale de l'archipel, mais c'est le disque d'une Capverdienne urbaine, et qui plus est, Parisienne.
Elle pioche donc dans ce foisonnant vivier parisien, avec deux de ses piliers (le bassiste camerounais Etienne Mbappé et son compagnon de scène, le percu brésilien Zé Luis Nascimento et amène avec elle un remarquable guitariste compatriote, Kim Alves. Quelques invités ponctuels de haut vol : le Brésilien virtuose Hamilton de Holanda (bandolim, la mandoline du cru), le lutin malgache Régis Gizavo (accordéon), le violoncelliste Vincent Segal (moitié de Bumcello), ses complices scéniques, les guitaristes brésiliens Tarcisio Gondim et Nelson Ferreira. En prime, une chanson en français, la seule, due à l’innatendu Téte, "Comme s'il en pleuvait", dans une interprétation espiègle. Un album subtilement produit par un expert du genre, Jacques Ehrhart (Henri Salvador, Camille, …).
Ces ingrédients jazz, afro et brésiliens donnent d'autres reflets à des musiques qui pour partie viennent de l'archipel (quatre sont dûes à l'immense auteur-compositeur Orlando Pantera, récemment disparu, d'autres émanent de belles plumes de là-bas). Trois thèmes sortent de la plume leste de Mayra Andrade elle-même (dont une en collaboration avec Patrice Larose).
En égrenant ce disque, goûtez donc les traductions des textes, le dramatique y côtoie le facétieux, l'exil où l’on perd le nord s'y choque avec la démocratie qui perd la boule, des personnages sans âge y croisent des figures d'un autre âge.
Avec "Navega", d'une voix à faire chavirer les âmes et chalouper les coeurs, Mayra trône à la barre sur son monde et surfe... (sur les flots) pour conquérir les mers et les terres.
Grande, déjà très grande...
Le 2 avril 2006
Rémy Kolpa KopoulconneXionneur
- Radio Nova (Paris)

domingo, 9 de abril de 2006

Deus é crioulo

Ouvi dizer que, na sequência da aprovação do Programa do Governo, um destacado da oposição teria dito, meio out-of-the-blue, que José Maria Neves julga que “Deus é cabo-verdiano”. Antes julgasse! Antes julgássemos! Em verdade, só os grandes povos tiveram deuses – Osiris, Jeová, Zeus, Alá ou Oxalá. O Pranchinha, abusado e agnóstico quando era vivo, dizia que só os “menores” adoram deuses alheios. Ora, bem, temos de levar isto mais a sério e introduzir o postulado. Reparem que Deus até já foi brasileiro. Há um sem número de sambas a dizer isso. E se o Brasil, valha-nos Deus, ganhar a Copa do Mundo 2006, recordíssimo, então…Deus é cabo-verdiano (quem provará o contrário?). Ele não tem de ser necessariamente dos árabes e judeus, para não dizer dos gregos e troianos…

No equinócio

Apócrifo Evangelho

Ouço a rádio, enquanto escrevo. Ora conversa, ora música. Domingo é assim. Arrumar a casa e escrever um bocado. O dia está solarengo, mas não me assumo com hábitos do turista de sol e praia. De resto, estou cá para aprender. Falando nisso, encanta-me ler o Evangelho Segundo Judas. É refrescante e apaixonante. Fomos aprendendo sempre pelos evangelhos canónicos (isto é, aqueles reconhecidos oficialmente pelo poder eclesiástico), mas às tantas nos sentíamos cristãos, católicos mesmo, mas não apostólicos romanos. Assim, os outros testemunhos começam a incendiar a nossa imaginação. No mundo da Gnose, tudo é permitido. Os gnósticos apreciam o Demiurgo, o dito criador do Universo, e, por conseguinte, o vórtice da substância e do caos. Eis que o Filho do Homem vai a Jerusalém e enfrenta o seu próprio destino. Não é o que nos contaram ao longo da vida. Cristo não precisave de Judas para ser traído. Em todas as sociedades dos homens, os traidores (e há muitos) ao lado dos iluminados. Mas leiam, por favor, Envangelho Segundo Judas

Germano Almeida

Germano Almeida, o mais celebrado dos ficcionistas cabo-verdianos, acaba de lançar em Portugal o seu último livro “Eva”. Fico curioso. Dele (Germano Almeida), guardo como relíquia “Ilha Fantástica”, “Dois Irmãos” e “Testamento do Senhor Nepumuceno Araújo da Silva”. E do relacionamento pessoal (já que me considero amigo), guardo as bissextas, porém caudalosas, conversas às sextas com Tchalé Figueira e Vasco Martins. E os poucos encontros durante a campanha de reeleição do Comandante Pedro Pires. Uma figura, esse Germano! E conhecedor do bom vinho, a bebida dos deuses. Ficcionar Cabo Verde é extremamente importante para a nossa identidade, disse Germano Almeida numa entrevista à RDP África. Ficcionemos, pois, Cabo Verde…

A toponímia do logradouro

Há dias, na inauguração do Memorial à Fome e às Vítimas do Desastre da Assistência, em cerimónia presidida pelo primeiro-ministro, apareceu o nosso amigo Nuno Duarte com um cartaz a reivindicar a reposição do nome Desastre da Assistência à rua ora chamada Cabo Verde Telecom, por sinal a empresa patrocinadora do monumento. Confesso ter ficado encantado com a atitude e o gesto de Nuno Duarte. Houve gente que não gostou, entretanto. Houve gente que pretende o aparato ao invés da essência. E o próprio desenho conceptual do arquitecto Carlos Hamelberg interpela mais ao conteúdo que à forma (tríada futurista em obelisco), diga-se. O Desastre da Assistência se impõe, em verdade, como um dever de memória e isso é uma forma qualificada da cidadania...Quando cheguei em 1980 a Belo Horizonte, Minas Gerais, como estudante de Biblioteconomia, havia aquela rua chamada Dan Mitrioni, um torturador estrangeiro, morto no Uruguai por guerrilheiros Tupamaros. Era um tempo interessante, de muita militância e muita cidadania. Tanto que a comunidade local conseguiu, depois de muita luta e insurgência civil (belos tempos), substituir o nome do “putamadre” pelo de José Carlos da Mata Machado, revolucionário assassinado pela policia política dos tempos da ditadura militar…A cidade da Praia, por ser antiga e capital, precisa rever a sua toponímia e trazer à colação nomes, feitos e referências historicamente mais recomendáveis…

No equinócio

Nha Gina dizia que eu seria um contador de histórias. E nas quentes noites, eu contava a melhor, dizia ela. Meus pássaros, sei contar-vos as histórias escondidas e pelos logradouros, dos largos aos becos, as fronhas de uma alegria estão aqui guardadas como um tesouro. A brisa em contraponto e a barlavento, e o espampanante silêncio do sotavento, tudo é navio velejando à hora da beleza. Poesia...como era aliás apanágio à porta daquela soleira!

sábado, 8 de abril de 2006

Saco

Sábado preguiçoso, de chuvoso e meio frio. Aproveita-se para ler os jornais de Cabo Verde. Para arrumar os meus livros chegados ontem, em caixas, numa estante provisória. Para surfar, num passeio acidental, pelo Internet. Hoje, é dia de feijoada brasileira e de andar a cidade. Um míssil é encontrado pela polícia na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. O escândalo da classe política continua a alimentar a imprensa sensacionalista e não só. Ontem, perdi um debate sobre a poesia repentista, por ter ido ao aeroporto. Hoje, estou “desinspirado” e lento. Só me apetece abraçar os meus filhos e ler um poema de Drummond de Andrade. Sábado preguiçoso…que saco!

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Codex Alimentarius




Est-ce qu'on ne pourrait pas faire un véritable néo-impressionnisme culinaire, un dadaïsme culinaire, une cuisine abstraite ?

Hervé This. La Cuisine c'est de l'amour, de l'art, de la technique


Pagando para ver

Hoje, lembrei-me do meu amigo Mamour Bá, músico senegalês que também estudava em Belo Horizonte, nos idos anos oitenta. Quando a sua filha nascera, ele ninava a primogénita ao som do korah e eu pagava para ver tão pungente cena. Soube, pelos amigos comuns, que ele tem rodado o mundo, mostrando os seus prodigiosos tambores e palestrando sobre as virtualidade pedagógicas da música. O Crisolino, outro do nosso tempo, ficou de me mandar “O Corpo é Sonoro”, CD com que Mamour Bá está a conquistar o mundo. Eyes of beholder…

Adeco, Prodeco & outros decos

Comer hoje é uma grande aventura. Os gourmets ponham-se a pau. Recentemente, assisti na TCV uma reportagem (creio que de Odair Santos) sobre a matança de animais em plena rua, na cidade de Assomada. Reportagem bem feita, porque inusitada e corajosa, a questão reclama, com urgência, o olhar das autoridades municipais e sanitárias. O que é da sociedade civil, minha gente? Neste mundo das vacas loucas e da gripe aviária, a cultura alimentar do consumidor é uma estratégia de sobrevivência. Ninguém deve apanhar algo na loja e no supermercado, sem ler a composição e o prazo do alimento. Temos de fortalezar os Adeco, Prodeco & outros decos. Eles acabam por ser mais importantes do que os partidos políticos. Pode? Naturalmente…

Codex Alimentarius

Falemos da estética culinária. Sem dramatismos. Será a cozinha uma forma de arte? Ou simplesmente um elemento do código da alimentação? Nesta época pascoal, embora en não seja religioso, o meu pensamento fica, com água na boca, no Arroz de pato à dona Mindoca e no Bacalhau na tábua à tia Sílvia. Pelo lado materno, tenho grandes chefs, a começar pelo meu avô João Henriques de Almeida Cardoso, famoso funcionário da Fazenda Pública e cozinheiro do Guisado de cabrito e Arroz de cabeça de atum. A minha tia Xixi também, mas esta é especialista em doces e bolos. Bolo de frutas secas, nem conto. Devo ter herdado algum jeito desta minha maravilhosa gente. Mamour Bá, artista de mão cheia, jurava que o meu Bacalhau à Gomes de Sá era o melhor do mundo. É que ele, modéstia à parte, nunca experimetou o meu Molho de São Nicolau..

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Alvoroda chuvosa em Fortaleza





1

Logo ao romper da alva, a cidade adormecida ainda, vou à janela ver a réstia da chuva. Adoro a chuva. Acho que a chuva todo o cabo-verdiano adora. Encanta-me a fresca brisa que a acompanha. O céu plúmbeo e carregado de nuvens cinzentas. E a promessa de um dia ensolarado mais à frente. Aqui, deste 11° andar, apetece-me flutuar no pensamento. Levitar no espaço sideral devia ser um direito constitucional. Ou, algo mais em conta, um direito humano. E assim, sempre que nos desse a gana do imponderável, toca a flutuar, camaradas. Arre, substantivos, adjetivos, complementos e reticências. Quero a chuvosa manhã (pessoana) de não pensar em nada

2

Entrementes, na televisão (baixinho para não acordar a cidade), um cientista afirma que afinal o rio Nilo – the Big River – não nasce no Lago Vitória, entre o Uganda, o Quénia e a Tanzânia, onde acontecem muitos outros rios africanos. Mas sim na floresta de Nyungwe, no Ruanda, seguindo o fio do rio Akagera. Uma expedição de cientistas, apoiada por satélites de localização, confirma a nova nascente do maior rio do planeta.

3

Antes lia muito. Devorava, com antropofagia, os autores alinhados nas estantes da biblioteca do meu pai. Hoje, sou mais bissexto…e malandro. Mas, assim mesmo, só como aperitivo ou digestivo, vou lendo algo…se o título me encanta. Et pour cause, começo a ler, neste afã chuvoso, o romance “"Al-Gharb 1146 - Viagem Onírica ao ‘Portugal’ muçulmano”, de Alberto Xavier, comprado ontem numa livraria no centro da cidade. Uma prosa inteligente, a retratar a influência do Califado de Córdoba sobre toda a Península Ibérica, em que prevaleceu uma verdadeira democracia religiosa entre mouros, judeus e cristãos. E porque o mundo não se esgota na intolerância da alma e na intransigência da fé, acho que tomo coragem para chegar ao fim deste inusitado romance…

4.

Divago. Onde estávamos mesmo? Arre, substantivos, adjetivos, complementos e reticências, está na hora de sair de casa…o dever me aguarda, companheiros!

segunda-feira, 3 de abril de 2006

O Mundo e o Belo

Saúdo efusivamente o Programa Casa da Cultura, que o artista plástico Abrão Vicente acaba de inaugurar na TCV. Distante de Cabo Verde, acompanhei a notícia pelo blog Son di Santiagu e, conhecendo a verve do Djinho Barbosa, fiz fé sobre as virtualidades do programa. Oxalá novos tempos comecem na TCV, que bem deles precisa. Os bons programas, como Monumentos e Sítios e Kultura, e, passem algumas controvérsias, Debates, deixaram saudade e é preciso que algo de qualidade os substitua. Abrão Vicente é um menino que já viu o Mundo e o Belo. E ergue agora uma casa, sem porta, nem janelas, mas tomada de alma e de espiritualidade. Mi n ta mora li…

Os indocumentados

1.
João K., nome falso e aleatório, está nos Estados Unidos há 10 anos. Ele não obteve ainda nem o Green Card (o cartão de residência), nem o Social Security Card (a cartaira de trabalho e do seguro social). Trabalhador, vizinho exemplar e bom chefe-de-família, João K sustenta a sua prole, algures num subúrbio de Boston, e sustenta os seus pais e irmãos em Cabo Verde. Mais, abriu uma conta-emigrante num banco em Cabo Verde e o seu extracto bancário confirma ser um excelente cliente. Como milhares de cabo-verdianos, na mesma situação, João K votou nas eleições legislativas e presidenciais de Cabo Verde. Não diz no quê, nem em quem. O voto é secreto, ora. Algum problema, meus senhores?

2.
Recentemente, mercê da política doméstica, alguém tentou pôr em causa a legitimidade dos cabo-verdianos “ilegais” nos Estados Unidos, mas com passaportes cabo-verdianos válidos, votarem nas legislativas e presidenciais de Cabo Verde. A princípio, achei a ideia um tanto ao quanto bizarra, para não dizer bizantina, para logo depois concluir pela perversão e intolerância desse pensamento. Antes de mais, seria mister analisarmos, em termos da nossa própria constitucionalidade, em que cenários um cidadão cabo-verdiano perderia a sua nacionalidade. Depois, ao querermos questionar a questão da dupla ou da múltipla cidadania, não poderemos admitir o cenário da não cidadania para qualquer cabo-verdiano. E, finalmente, não poderemos formular a ideia da Nação Global se subtrairmos aos cabo-verdianos espalhados pelo mundo, legais ou não nos vários países de acolhimento, a sua capacidade de participar da vida cabo-verdiana (política, cultural, social, económica, outra).

3.
No que concerne aos Estados Unidos, milhares, senão mesmo milhões, de americanos e não americanos preparam-se para marchas históricas, a 10 de Abril, recordando as marchas cívicas dos anos 60, desta feita protestando contra um um projecto de lei, que prevê a selecção de imigrantes de acordo com a respectiva nacionalidade, e a criação de «bolsas de estrangeiros» autorizados a permanecer no país para ocuparem empregos mal pagos, designadamente no trabalho doméstico, restauração e construção civil. A lei põe de imediato em causa a permanência nos Estados Unidos de muitos indocumentados, entre os quais muitos, muitíssimos, cabo-verdianos.

4.
Paradoxalmente, os imigrantes considerados ilegais representam actualmente cerca de 5% da população activa dos EUA, e a tendência é de aumentar. Segundo a Pew Hispanic Center (PHC), sediada em Washington,, o mercado de trabalho norte-americano registou um aumento de 400 mil indocumentados, em 2005, o que faz ascender a 12 milhões de estrangeiros as estimativas dos indocumentados a viver nesse país. Em suma, a América é grande também graças aos imigrantes. Inclusive, os indocumentados como João K., nome falso e aleatório, …eis a verdadeira realidade.

5.
Voltando a Cabo Verde, o que motivaria um político cabo-verdiano a misturar, alhos com bugalhos, a indocumentação de muitos cabo-verdianos residente na América com a capacidade destes votarem? Temos todos, até às últimas consequências, de pensar no alcance perverso de tal motivação… João K., nome falso e aleatório, é cabo-verdiano de pleno direito, meus senhores!


domingo, 2 de abril de 2006

Ora chove, ora faz sol




1.
Da cozinha, uma telápia feita ao molho de limão e malagueta, um caldo de mancarra e um arroz branco. Em tributo ao meu amigo Mário Rosa, prezadíssimo Maruca, ex Embaixador da Guiné-Bissau em Washington, dizem-me que agora político. Era ele que, em tardes de muita discussão sobre o futuro da África, me ensinou a confeccionar alguns pratos típicos da Guiné-Bissau. Meio exilado, Maruca escrevia um diário implacável sobre os bastidores da sua vida diplomática e eu terminava o livro “O Inferno do Riso”. Tardes inesquecíveis de um Inverno tomado de neve. Em Quincy, Mass…

2.
Não me esqueço daqueles dias em Lisboa. Os três na plataforma da Estação de Parede. Sempre gostei da Estação dos Caminhos de Ferro. Remetem-me ao cancioneiro de Milton Nascimento e ao frenesim de Alewife, em Cambridge. Foram belos momentos em Lisboa, apesar de em Madrid a barbárie ter explodido então uma Estação dos Caminhos de Ferro. Adiante…

3.
Ora chove, ora faz sol. Ora vou a janela, ora fico diante do computador. Como naquele poema de Arménio Vieira, falando do relógio de cucos. Este é um ano das efemérides. A Claridade faz 70 anos. O movimento Pró Cultura e a folha literária Sopinha do Alfabeto fazem 20 anos. O primeiro romance em crioulo de Cabo Verde (a língua materna, preferente e maior dos cabo-verdianos), Odju d´Água, de Manuel Veiga, também faz 20 anos. Ora chove, ora faz sol. Mas importa termos memória…

4.
Prometo só escrever palavras certificadas. Aquelas que podem ser encontradas, a baixo preço, no supermercado dos termos. E que a defesa dos consumidores as ateste dentro do prazo e próprias para o consumo. Em momento algum trarei palavras do mercado negro. As minhas frases não estarão fora de jogo, nem irão falhar penalties. Prometo não ficar completamente nu perante o leitor. Terei, pelo menos, uns óculos escuros…para que a moral não entre de vez em paranóia!

5.
Saio do mote deste blog para sugerir com verdade a leitura do livro “Nação Crioula”, de José Eduardo Agualusa. Li-o de uma assentada…

sábado, 1 de abril de 2006

Em "chuvoso"

Sábado acordado em música. Sara Tavares e o seu Balancê. Chove torrencialmente em Fortaleza. Pego no meu romance para arrastar um bocado. Alombo com ele desde 2001 e, de quando em vez, refaço este ou aquele retrato. Cabo Verde é a minha limalha de fogo e ferro. Nuvem, lêvada e cinzenta, carregada a trote do vento. Esquivo ao calor, um griso de arrepiar vem da Serra e estende-se no tapete da neblina até ao mar. Gosto quando chove, escrevo e escuto música. Há mais química com o tempo. E com o espaço. Preciso do Weather Report, para viver…