segunda-feira, 25 de junho de 2007

Carta Aberta a José Luís Hopffer Almada




Sem renegar o passado (importante como nunca), razões de futuro me impedem de responder à letra a Carta Aberta de José Luís Hopffer Almada. Todavia, para que a História não fique solteira, nem continue tal Escrita assim em nebulosa, devo, a rigor, tecer alguns comentários sobre a dita Carta Aberta:

Estranhou-me bastante que um suposto esclarecimento viesse em texto tão caudaloso, sobrando em tamanho o que lhe faltaria em nexo;

Não quero, entretanto, de forma alguma fazer pouco de José Luís Hopffer Almada (poeta, ensaísta e activista cultural), pessoa que tenho em alta conta como intelectual, com lugar conquistado (por mérito, diga-se), na História da Literatura de Cabo Verde;

Tão pouco tenho por ele sentimentos de animosidade ou de endeusamento, razão porque não me detenho em diálogos recorrentes, pouco esclarecedores das situações do passado, onde, para além do feito, certos egos e certas vaidades resvalavam pelo strip-tease em público;

Apenas quis, no meu Blog, deixar bem claro que se fui homenageado pela CMP, como o foram outros, ora e outrora, não terá sido por pedido ou pressão a ninguém, pois não funciono com bilhetinhos, salamaleques e apoios sub-reptícios, mercê desta minha liberdade, personalidade não orgânica que carrego. Na acepção mais gramsciana do termo;

Reconheci razão de fundo, também no meu Blog, ao artigo anterior de José Luís Hopffer Almada, na medida em que, a ter de homenagear o Movimento Pró Cultura, alguns nomes imprescindíveis deveriam ser considerados. Entrementes, e pessoalmente, não fiz para ser lembrado, nem homenageado, como membro desse Movimento, diga-se em abono da realidade;

Para aquietar a alma de José Luís Hopffer Almada, telefonei-lhe em Lisboa para um encontro amigo, que acabou em troca de livros e de palavras fraternas, e mandei-lhe, posteriormente, um e-mail, dizendo disposto a contribuir para que alguma sombra entre nós se dissipasse, para o desgosto dos senhores instalados e ciosos do lugar ao sol;

E sobre a Sopinha de Alfabeto, folha cultural do artista plástico Mito, a que aderi, com Eurico Barros e Arnaldo Silva, em 1986, reafirmo que ela não foi uma dissidência do Movimento Pró Cultura, mas sim um projecto inovador e desafiador num tempo monocórdico, em que os intelectuais teriam de estar “abalaicados” sob a luz difusa do “Glorioso”, afinal de tristíssima memória;

Todavia, há de ficar lavrado para a História que José Luís Hopffer Almada nunca aceitou de ânimo leve a Sopinha de Alfabeto, tendo em vários escritos minimizado o fenómeno e, em vários encontros, assediado os seus integrantes. Não posso negar ter sido alvo de tais “interpelações”, tendo relevado subsequentes “mimos” por motivos bem circunstanciais, estes sabidos e comentados;

Sem recusar, repito, a todo esse passado e ao papel que coube a uns e outros, humildemente, reconheço que todos têm sido úteis e capazes de fazer História. Doravante, estaremos ainda juntos na mesma dinâmica cultural, pois é o futuro sempre a falar mais alto;

Não querendo ser obtuso, nem esdrúxulo, muito menos chato e cansativo, com textos grandiloquentes, fico mesmo por aqui, crente de ter dado ao leitor, de forma bem sucinta, a minha verdade das coisas e, sobretudo, a minha versão dos factos – por sinal, despoletados há 21 anos!

Com esta Carta Aberta, gostaria de encerrar este quase quiproquó que, pelo menos da minha parte, não belisca o companheirismo (literário, artístico e cívico) por José Luís Hopffer Almada, pese embora certo paradoxo.

Em perfeita morabeza, mas sem exagero nem egolatria, creia-me ele seu bom amigo e confrade,

Filinto Elísio Correia e Silva
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