quinta-feira, 28 de junho de 2007

The Sole of Africa

É um movimento de solidariedade, à escala mundial, apadrinhado por Nelson Mandela e Graça Machel. Cada um doe o que pode, para salvar crianças em situações críticas. Em África, devido a minas anti-pessoais, fome e HIV-Sida, há milhões de crianças a precisar da nossa ajuda. Estando Nelson Mandela e Graça Machel à frente, há garantias de que a doação chegará ao seu destino e não aos bolsos dos ditadores e salteadores que dominam o Continente. Eu doei 48 USD e ajudei a erradicar 16 minas anti-pessoais. Faz tão bem participar no The Sole of Africa…Check this out: http://www.thesoleofafrica.org


quarta-feira, 27 de junho de 2007

Walking on the Moon


Não busco a grandeza, nem a imortalidade
Quando, amiúde, teço a teia destes versos
Tão pouco sua graça divina e dela, profana,
Ofertada em corpo, luxúria e banho de pétala…

Busco, se tanto, uma luz como a de acalento,
Um soluço que debruce, seja pranto ou riso,
Na tua face, quando minto, pinto ou encanto,
Com meu canto, a cobra verde dos teus olhos…

Acariciando, sem receio, esteio da morte, sinto
As sombras da vida, em caminhos insinuados,
Virem todas dormitar no abrigo das palavras…

E pressinto nessa vinda, melodias e metáforas,
Broas, poemas e fonemas, orgasmos alguns,
Vinho, absinto, honras e outros descartáveis…
Filinto Elísio

A Praça & etc

1. A Praça

Elucubrações em torno da Praça Alexandre Albuquerque tem havido muitas. Nem todas fazem vênia ao seu traçado monumental, com áurea de praça mexicana clássica, estando num lado a igreja e a justiça, depois a edilidade e o clube social, no terceiro lado, a banca e o comércio e no quarto, a fechar o quadrado, os sobrados. Os cantos são os reis de um baralho de cartas: o rei de copas (Carlos Magno), o rei de paus (Alexandre Magno), o rei de ouros (Júlio César) e o rei de espadas (Rei David). No meio, a fonte da vida, que passa os munícipes pela “água”, e a guarita, onde a banda municipal, com valorosos “musguêros”, a redundar certo repertório. Havia também uma esplanada que foi mandada destruir por um edil num assomo estético-desconstrutivista ou possuído pelo finado de Nero, o Imperador, que, num dia de “blue devil”, mandou queimar Roma. O certo é que, mais dia, menos dia, mexendo essa Bastilha, faremos construir, pedra por pedra, a velha Esplanada 12 de Setembro, imortalizada, aliás, num poema de Arménio Vieira, a.k.a., na praceta mais acima, por Conde de Silvenius...

2. Haja luz

Parar o Palácio da Cultura, virado Ildo Lobo, saudoso amigo, por causa da escuridão, parece uma grande ironia. A Electra tem cada uma. Isso é coisa que se faça em tempos de Claridade! Haja luz, de Kafuka (ó vida breve) ou de podogó, quem sabe de reeditada Pró-Cultura, para que as Artes fluam nessa Casa, desenhada sim para ser um centro cultural vivo e animado, movimentado e agitado...Escancaradamente, como quis seu criador. Bem, quanto ao cheirar a cemitério - onde guardas dormem tranquilamente e as aranhas se instalam comodamente...E o lugar anda a precisar de um orçamento, de um curador e de uma parceria público-privada. Direi o mesmo do Auditório Nacional Jorge Barbosa. Do Museu da Tabanka. Do Centro Cultural de Santa Maria. E do Centro Cultural do Mindelo. O Estado a definir padrão, a agência a regular e o privado a disseminar cultura – figurino que me parece mais consentâneo. Haja luz, a tal que António Aurélio Gonçalves vaticinou em “Virgens Loucas”. Deus há de “helpanu...móoodi”. E longe de nós que o Palácio da Cultura venha abaixo. Nem por alegoria, ó pessoal...

3. Bomba termonuclear

Estou a imaginar as ilustres cabeças pensantes diante do Palácio da Cultura. No banco dessa praça, onde um projecto de bomba termonuclear ainda paira no ar. Já viram o piso com "Pano di Terra"? Para lá de chique, convenhamos. Para compor quadro tão surrealista, apareciam meia dúzia de bois a pastar. E como bebedouro, o não menos ilustre tanque, ora armado em fonte luminosa...

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Parada Gay



A VIII Parada Gay de Fortaleza, autêntica passeata cívica contra a homofobia, o racismo e a violência, é algo lindo e impressionante. Muita música, dança e plástica. Muito amor sem fronteiras. Cada um tem o sexo que quer. E porque não? Num dos vários trios eléctricos, a prefeita Luizianne Lins e a actriz Zezé Mota. E, como dizia o frevo de Caetano Veloso, atrás do trio eléctrico, só não vai quem já morreu…

Carta Aberta a José Luís Hopffer Almada




Sem renegar o passado (importante como nunca), razões de futuro me impedem de responder à letra a Carta Aberta de José Luís Hopffer Almada. Todavia, para que a História não fique solteira, nem continue tal Escrita assim em nebulosa, devo, a rigor, tecer alguns comentários sobre a dita Carta Aberta:

Estranhou-me bastante que um suposto esclarecimento viesse em texto tão caudaloso, sobrando em tamanho o que lhe faltaria em nexo;

Não quero, entretanto, de forma alguma fazer pouco de José Luís Hopffer Almada (poeta, ensaísta e activista cultural), pessoa que tenho em alta conta como intelectual, com lugar conquistado (por mérito, diga-se), na História da Literatura de Cabo Verde;

Tão pouco tenho por ele sentimentos de animosidade ou de endeusamento, razão porque não me detenho em diálogos recorrentes, pouco esclarecedores das situações do passado, onde, para além do feito, certos egos e certas vaidades resvalavam pelo strip-tease em público;

Apenas quis, no meu Blog, deixar bem claro que se fui homenageado pela CMP, como o foram outros, ora e outrora, não terá sido por pedido ou pressão a ninguém, pois não funciono com bilhetinhos, salamaleques e apoios sub-reptícios, mercê desta minha liberdade, personalidade não orgânica que carrego. Na acepção mais gramsciana do termo;

Reconheci razão de fundo, também no meu Blog, ao artigo anterior de José Luís Hopffer Almada, na medida em que, a ter de homenagear o Movimento Pró Cultura, alguns nomes imprescindíveis deveriam ser considerados. Entrementes, e pessoalmente, não fiz para ser lembrado, nem homenageado, como membro desse Movimento, diga-se em abono da realidade;

Para aquietar a alma de José Luís Hopffer Almada, telefonei-lhe em Lisboa para um encontro amigo, que acabou em troca de livros e de palavras fraternas, e mandei-lhe, posteriormente, um e-mail, dizendo disposto a contribuir para que alguma sombra entre nós se dissipasse, para o desgosto dos senhores instalados e ciosos do lugar ao sol;

E sobre a Sopinha de Alfabeto, folha cultural do artista plástico Mito, a que aderi, com Eurico Barros e Arnaldo Silva, em 1986, reafirmo que ela não foi uma dissidência do Movimento Pró Cultura, mas sim um projecto inovador e desafiador num tempo monocórdico, em que os intelectuais teriam de estar “abalaicados” sob a luz difusa do “Glorioso”, afinal de tristíssima memória;

Todavia, há de ficar lavrado para a História que José Luís Hopffer Almada nunca aceitou de ânimo leve a Sopinha de Alfabeto, tendo em vários escritos minimizado o fenómeno e, em vários encontros, assediado os seus integrantes. Não posso negar ter sido alvo de tais “interpelações”, tendo relevado subsequentes “mimos” por motivos bem circunstanciais, estes sabidos e comentados;

Sem recusar, repito, a todo esse passado e ao papel que coube a uns e outros, humildemente, reconheço que todos têm sido úteis e capazes de fazer História. Doravante, estaremos ainda juntos na mesma dinâmica cultural, pois é o futuro sempre a falar mais alto;

Não querendo ser obtuso, nem esdrúxulo, muito menos chato e cansativo, com textos grandiloquentes, fico mesmo por aqui, crente de ter dado ao leitor, de forma bem sucinta, a minha verdade das coisas e, sobretudo, a minha versão dos factos – por sinal, despoletados há 21 anos!

Com esta Carta Aberta, gostaria de encerrar este quase quiproquó que, pelo menos da minha parte, não belisca o companheirismo (literário, artístico e cívico) por José Luís Hopffer Almada, pese embora certo paradoxo.

Em perfeita morabeza, mas sem exagero nem egolatria, creia-me ele seu bom amigo e confrade,

Filinto Elísio Correia e Silva
Bónus: 5 Labanta Brasu Audio Track copy.mp33461K Reproduzir Baixar

Tempo


Sei que não demora este estar contigo,
Afoita, a morte e de nada vale, rídicula,
Esta teima de ficar entre vórtices do ar,
Quando nem Deus a flutuar nos engana…

Fica sim pelas ganas, do inscrito corpo,
Faz tu nele profana escrita, hossanas,
Glosas e preces, tudo que enfim sirva
E te guarde enquanto a vida nos levar…

A fina poalha do oásis, em que deserto,
Onde te descobres, redonda geometria,
Rente à clâmide da lua, pedra dissoluta…

Vi-te em caligrafias íntimas, tardificada
Sob esse poente, a tua boca tão de fruta
O resto medra, sendo ora lavra, ora larva…


Filinto Elísio

domingo, 24 de junho de 2007

Cimboa

No âmbito do projecto, “A Salvaguarda da Memória da Cimboa”, coordenado pelo investigador cultural do Instituto de Investigação e Património Cuktural (IIPC), Charles Akibodé, realizou-se, desde o passado dia 19, o Atelier sobre a Construção de Cimboa, em Chão de Junco, Concelho de Tarrafal. O atelier, patrocinado pelo IIPC e a Câmara Municipal, encerra-se nesta segunda-feira em cerimônia no Salão Nobre da edilidade tarrafalense.

O curso vem sendo ministrado pela equipa do IIPC, para dez participantes repartidos entre jovens de Chão de Junco e jovens da Vila do Tarrafal.

Esta equipa, perfila, para além do historiador Charles Akibodé, que supervisiona o atelier, o militar Pascoal Fernandes, músico, artesão e monitor, e Manuel António Barbosa, assistente e funcionário do IIPC. Ambos têm tido vários contactos com o Nhu Eugénio, de 67 anos, tido como o último fabricante de Cimboa no Município do Tarrafal, e uma das presenças mais importantes desta semana cultural.

Cabo Verde na Coraçon


Cabo Verde na Coraçon, na Casa Fernando Pessoa, em colaboração com a Embaixada da República de Cabo Verde em Lisboa.

25 de Junho (18h30)
Coração de Coral. Exposição de materiais da vida quotidiana de Cabo Verde (patente até 5 de Julho)
Música de Cabo Verde ao vivo. Pontche de honra.

26 de Junho (18h30)
Diálogo com Arménio Vieira. Apresentação de Torcato Sepúlveda.
Lançamento do novo livro de Arménio Vieira, Mitografias (Ilhéu Editora, Cabo Verde)

28 de Junho (18h30)
Lançamento. Na Sol di Nhas Angústia, antologia de poemas de Álvaro de Campos em cabo-verdiano, com tradução de José Luiz Tavares. Edição da Casa Fernando Pessoa.
Leitura de poemas pelos poetas cabo-verdianos: José Luís Hopfer Almada, José Luiz Tavares, António Neves, Alexandre Conceição e Mito.

4 de Julho (18h30)
Lançamento do CD de poesia de Cabo Verde e sete poemas de Sebastião da Gama, com a apresentação de Afonso Dias.

4 de Julho (21h30)
Cabo Verde na voz de todos os poetas. Poetas lêem autores de Cabo Verde: Francisco José Viegas, Dora Ribeiro, Luís Carlos Patraquim, José Luís Peixoto, José Luís Tavares, José Hopfer Almada e Alexandre Cunha.
Música de Cabo Verde ao vivo. Pontche de honra.
Emissão de rádio em simultâneo (Portugal-Cabo Verde) a partir da Casa Fernando Pessoa para assinalar o dia 5 de Julho, Dia da Independência de Cabo Verde.

Entrada livre mediante os lugares disponíveis.

Casa Fernando Pessoa
Rua Coelho da Rocha, nº 161250-088 - Lisboa Portugal
Telf: + 351 21 391 32 75
www.mundopessoa.blogspot.com

Feirinha

Uma das coisas que me encanta é o quotidiano montar e desmontar da Feira de Artesanato, a Feirinha, na calçada marginal, diante de casa. Da janela, perscruto esse labor que envolve tanta gente e revela o nível da organização municipal em Fortaleza. Sendo cidade turística, a Feirinha foi projectada como mais um pólo de atracão e de captação de receitas. O artesanato e o cordel cearenses, bem como a gastronomia, são ali apresentados com algum esmero. Os preços são justos. A segurança e o asseio estão garantidos. E o resto, esse montar e desmontar…

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Desta travessia


À “janela da sedução”

Domiciliado ou exilado, o certo é que, deste 10° andar, o mundo mede as suas distâncias. Gonzaga, o moço das faxinas, acha que o mundo daqui é uma bela paisagem. Crisolino, pelo telemóvel, adivinha-lhe apenas uma grande vertigem. Pranchinha, saindo das páginas do Jornal Horizonte, já morto, alerta que estou na idade de mais juízo. Vou à “janela da sedução” e dou uma tremenda gargalhada. Fazendo eco no hotel ali defronte...


Assim tão pendulado...


Não quero que o leitor, lá porque deu de ser voyeur, fique nesse pendulado entre o ambíguo e o dividido com que vou tecendo os meus textos. Havendo coisas mais interessantes por aí, quem sabe Luana Piovani pela esquina, patológico será demorar pelo Albatroz, esperando um Godot que nunca vem ou uma besta de Dom Sebastião. Tanto que suprimi o contador, mudei o fundo preto pelo acastanhado e assumi de vez a segunda metade dos 40. Agora que nos tornamos PDM, talvez até europeus de quinta e deportamos negros da Costa. “time” se tornou demasiado “money” para se perder com parnasos tão rebeldes ou ironias pelos cantos. É que o confrade e o leitor estão, in advance, totalmente desculpados...

Desta travessia


Decerto, querem saber desta travessia. Se vou por aí ou por ali. Desisto na estrada ou sigo a viagem? Nuvem ou alguma vertigem. Metáforas que vou colhendo. Minha musa será real ou virtual? Toda pedrada ou híbrida? Ou não será mesmo nada disso? A realidade destrói os sentidos e dá pinote nas imagens. A alteridade do caos e da ordem. A promiscuidade da luz e da sombra. O duplo em tudo. Ou muito mais do que isso. Mais do tempo que do lugar, desgraçadamente este Albatroz. Doravante, não serei poeta do contido. Nenhuma claridade me ofusca, nem me aprisiona. Tão pouco me excita. Como diria Affonso Romano de Sant’Anna: “reinventar no claro o seu contrário...”

terça-feira, 19 de junho de 2007

Tricas

Les 2 magots
Mito



Cidades

A cidade grande é boa para o Zé-da-esquina, em que todos nos tornamos, a sair da estação do metro ou a atravessar na passadeira. A cidade pequena, convenhamos, o Zé nem pode desandar pela porta dos fundos, que tem uma comadre sempre atrás das persianas. E amanhã, logo cedo, na “Rádio Praça”, eis que Maria está na rua da amargura. Ademais, cansa-me o pitoresco dos lugares sem bancas de revistas. Arre…

Em alerta amarelo

Por gostar de Nova Iorque, não recebo nenhuma ameaça da Al Qaeda. Nem assédio dos sionistas, por detestar o actual Governo de Israel. É claro que esses palestinos também não ajudam muito. Prefiro os gregos antigos, quando filosofavam. Serei alvo, se tanto, dos lobos e cabras do cutelo. Serei mesmo um zero à esquerda, como diria o Pranchinha, sempre que viesse do “S/Cem Margens”, as tais crónicas. Mas para ti, meu coração, conto muito, “cada vez mais muito”, que eu sei. Tanto que, antevendo tudo, já estou em alerta amarelo…

Portas de ninguém

Releio o poema de Arménio Vieira, aquele que pergunta se já não viste um homem subitamente triste por ganhar no totoloto. Ganhar, ganhou o Chelsea ou Liverpool, deixando-nos esta sensação de também termos ganho algo. Em verdade, ganhar é apenas e tão-só uma sensação. Umas vezes, de euforia muito relativa. Outras vezes, nem isso…

domingo, 17 de junho de 2007

As palavras



São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos
lembram ainda.

Quem as escuta?
Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

Banda Larga Cordel

Pôs na boca, provou, cuspiu.
É amargo, não sabe o que perdeu
Tem o gosto de fel, raiz amarga
Quem não vem no cordel banda larga
Vai viver sem saber que o mundo é o seu

Tem um gosto de fel, raiz amarga
Quem não vem no cordel da banda larga
Vai viver sem saber que o mundo é o seu

Uma banda da banda é umbanda
Outra banda da banda é cristã
Outra banda da banda é kabala
Outra banda da banda é koorão
E então, e então, são quantas bandas?
Tantas quantas pedir meu coração

E o meu coração pediu assim só
Bim-bom, bim-bim-bom, bim-bão

Todo mundo na ampla discussão
O neuro-cientista, o economista
Opinião de alguém que está na pista
Opinião de alguém fora da lista
Opinião de alguém que diz não

Ou se alarga essa banda e a banda anda
Mais ligeiro pras bandas do sertão
Ou então não, não adianta nada
Banda vai, banda fica abandonada
Deixada para outra encarnação

Ou então não, não adianta nada
Uma vai outra fica abandonada
Os problemas não terão solução

Piraí, Piraí, Piraí
Piraí bandalargou-se há pouquinho
Piraí infoviabilizou
Os ares do município inteirinho
Por certo que a medida provocou
Um certo vento de redemoinho

Diabo do menino agora quer
Um ipod e um computador novinho
O certo é que o sertão quer navegar
No micro do menino internetinho

O Netinho baiano e bom cantor
Já faz tempo tornou-se um provedor – provedor de acesso
À grande rede www
Esse menino ainda vira um sábio
Contratado do Google, sim sinhô

Diabliu de menino internetinho
Sozinho vai descobrindo o caminho
O rádio fez assim com o seu avô

Rodovia, Hidrovia,
Ferrovia e agora chegando a infovia
Pra alegria de todo o interior.

Meu Brasil, meu Brasil, bem brasileiro
O You Tube chegando aos seus grotões
Veredas dos Sertões, Guimarães Rosa
Ilíadas, Luzíadas, Camões
Rei Salomão no Alto Solimões
O pé da planta, a baba da babosa

Pôs na boca, provou, cuspiu
É amargo, não sabe o que perdeu
É amarga a missão, raiz amarga
Quem vai soltar balão na banda larga
É alguém que ainda não nasceu

É amarga a missão, raiz amarga
Quem vai soltar balão na banda larga
É alguém que ainda não nasceu


Gilberto Gil


Solilóquio



Dançando zouk

No “Domingão do Faustão”, da TV Globo, o concurso de danças de salão – desta feita, o zouk –, mobiliza a minha atenção. Paradoxalmente, vejo-me mais interessado que o habitual e fico estranho diante do fenómeno. Não levo tanto a sério as “passadas” e os “cambrês”, bem como as sinuosidades, das celebridades, mas algo dessa música sensual tem mesmo a ver comigo. É uma questão de pertença e de identidade. Será música cabo-verdiana? Sei lá! Mas terá de ser música cabo-verdiana para ter algo a ver comigo? Eu me identifico com o bom samba, salsa, blues ou fado. O bom tango, com certeza. O jazz, do clássico ao free, passando pelo bop. O que me dá “groovie” é a alma. Mais alma, como dizia Orlando Pantera. Venha em forma de morna ou de batuque. Ora venha também em forma de zouk. Pois, livre de alguma coisa esdrúxula, entro nessa dança…

Tudo pode acontecer

Pode não ser hoje. Nem amanhã. Mas algo há de vir. Assim quando menos se espera. Alguém a bater à porta e, sem pedir licença, a entrar pela casa dentro. Também não importa arrumar a sala, trocar o sofá azul pelo vermelho. Nada diz que será a domicílio. O aeróbio não saiu de moda. Mas o interessante é que nem terá lugar marcado. Pode até surgir na esplanada defronte. Ou no cais que dá para o oceano. Tudo pode acontecer…

Assaz Paraíso em seus insólitos...





La chanson du mal-aimé

Em Paris, passei belos momentos ao lado do meu amigo, Mito. Ambos, e pelas mesmas razões, precisávamos de Paris em tais circunstâncias. Conversámos muito – artes plásticas, poemas, jazz, amores, nossos meninos e, obviamente, Guillaume Apollinaire – e deambulámos, “um coche”, por Saint-Germain e Montparnasse. Num restaurante cubano, à nossa mesa, uma musa me olhou com ar de salvação. Como na canção do mal-amado. Pena que o Mito, absorto e embarcado em pop latino, viajava em outros mares. Logo ele que, no vate, no flash ou na tela, não deixa escapar assaz Paraíso em seus insólitos...

À Busca do Arco-íris

Li, com prazer, a entrevista de Ambrizeth Lima, no A Semana Online. Ambi, que termina um 2º Doutoramento, na Harvard University, com a dissertação “À Busca do Arco-íris: Raça, Etnia, Género e a adaptação de jovens Cabo-Verdianos no contexto de Família, Escola e Comunidade nos Estados Unidos”, é uma mulher de enorme inquietação intelectual. Com ela e outros colegas, criámos o Gabinete de Produção Mediática e o Amílcar Cabral and Martin Luther King Annual Conference, nos anos noventa, em Boston. Retive a sua inquietação em pelo menos dois actos públicos em que participámos: a conferência de Ângela Davis, em Brandais College, e o recital de Allen Ginsberg, na Boston Public Library. O nosso saudoso amigo, Zeca Correia, recém-falecido, dizia-me sempre: Cabo Verde precisa de gente desse quilate

Aos Blogs

Fui aos Blogs, ler os outros, e das coisas que me apanharam, desta feita, foi um post de Eileen, do http://www.soncent.blogspot.com/: Risquei um fósforo e acendi uma vela. E com a mesma chama, acendi um pau de incenso de jasmim. Sabes que te alumiei também, lá no canto onde estavas, imitando olhos de cão azul de Gabriel Garcia Marques, dos tempos em que ele escrevia coisas esquisitíssimas. Leiam-na. Que ela, assim em primeira pessoa, tem luz e sombra…

Poeisis

Dedico-me ao trabalho e aos estudos. Gosto das duas coisas. Em verdade, tenho uma visão helenística do trabalho que, para os antigos filósofos, significava “poeisis”. E “poiesis” quer dizer “poesia”, entenderam? Escrever, para mim, é uma vocação produtiva, que me dá gozo, sustento e realização. Ademais, o intelecto é a única coisa que, quanto mais se gasta, mais se tem. Por isso, ganhem outros no totoloto, que eu vou escrever, escrever, escrever. Incessantemente. Até que essa musa venha me salvar…



sábado, 16 de junho de 2007

Toy Story

101 2006
Acrílico sobre a tela
48 x 72 em (122 x 183 cm)
Marina Kappos



“Claridade” na Terra da Luz

Começa-se a esboçar a montagem de um programa sobre a Cultura de Cabo Verde, no Ceará – o projecto “Claridade” na Terra da Luz. A pretexto de homenagear o centenário da 1ª Geração do Movimento Claridoso, pretende-se organizar um atelier dinâmico com palestras, feira-do-livro, espectáculos musicais, exposição de artes plásticas, passagem de modelo e apresentação gastronómica, num evento a ter lugar em Fortaleza, na última semana de Outubro, sob os auspícios da Secretaria da Cultura do Ceará.

Explicações…en passant

Por ter sido o primeiro no Brasil, ainda em 1881, a abolir a escravatura, o Ceará ficou conhecido como Terra da Luz; por ter tido, ainda em 1894, a primeira Academia de Letras, o Ceará é reconhecido pela ancestralidade da sua literatura; e por ter influenciado, como todo o Nordeste Brasileiro, aliás, o Modernismo Literário Cabo-verdiano, de que o Movimento Claridoso foi corolário – por tudo isso, fará sentido esta “nossa” montagem que, passem o pleonasmo e a redundância, seria “Claridade” na Terra da Luz.

Don’t freak me out

Cansado, de tanto escrever um relatório, sobre a tese e, sobretudo, agastado, de tanto convencer o orientador, sobre o interesse de limitarmos as coisas a Ceará e Cabo Verde, preparava-me para “fechar a loja”. Outrossim, uma confrade, confundindo-se em “helena” dos meus escritos, atribui reparos profissionais, que ora faço, a pressões de uma tardia quão eventual relação de chefia e de foro mais íntimo. Tenho um momento explosivo, fico fera ferida e me estilhaço por todo o lado. Peço desculpas (se culpas tenho) de não ter mesmo “fechado a loja”. Com essa absurda sensação, vou ao cinema, e durmo durante terça parte do filme. Please, don’t freak me out…

A par disso

Sou aquariano, tal qual o quadro 101, de Marina Kappos. Emotivo e franco, olho-me ao espelho e vejo reflectidos tantos peixes coloridos. A vida, ela mais do que a morte, é uma Toy Story

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Também há poesia no Japão (また日本で詩歌を持っている)



Sendo soneto a grande medida
Contido jasmim, em renga ou tanka,
Sua linda folha, em haikai, caída
Metrifica, como petrifica, a estação…

Também há poesia no Japão,
Onde o sol nascente é gongo
E, de amarelo, destila graça
Pelo Irão, do Xá e do Ayatollah …

Cotovia também no Paquistão,
No Afeganistão das pipas, onde
Khaled Hosseini as quis melodia…

Versos da China, Índia e Ceilão,
O rei, a Sherazade e as noites mil,
E os encantos da Pérsia são poesia…


Filinto Elísio

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Da fome e sede, ó sêmea

puppets on a G - string
Técnica mista sobre papel. 150 x 100 cm.
Mito - 2000









E eu te coma, coração, cada bocado
Desse corpo e, à fome, te resguarde
Para o santo repasto de mais tarde,
Onde, à gula, te beba, meu vinho…

E eu te saiba, ali como um adivinho,
Prenunciando simples aragem, nuvem
Ou penugem em teu pêlo, este ladrão
Que te deseja só groselha e vadiagem…

Me embriague agora e todo o sempre,
Ter-te santa, fruta ou fêmea, tal musa
Que me não tire de cuidados e acaso…

Deambule, eu de aceso e louco, ruas,
Avenidas e alamedas, em perdidos
& achados, covas de sêmea, ó fome…

Filinto Elísio

Do frescor de fruta

Vendedor de fruta
Tarsila de Amaral


Tão logo aportaras, terra virgem ainda,
Já te lambuzaras do frescor de fruta,
Da resina, assaz viscosa e venenosa,
Em quão profano Adão amara Eva...

Mal chegado, de escaler ali varado, tu,
Senhor das ilhas, marcaras, a passo,
Teu compasso, onde, lindos, o vasto céu
E o proceloso mar, ó noite, se beijavam...

De amar, as estórias de soleira ou luar,
Princesas, príncipes, bruxas e sereias
Ou simples sapos, assim em luminário...

Pecadores, ou de tais águas, pescadores,
Na demorada fome dos corpos, ardores,
Só de fruta, quando, amor, tudo se come...


Filinto Elísio

Dylan*

Milton Glaser 1966
*Gentilmente, enviado pelo Mito: http://www.tanboru.org/mito/

Há Blogs e Blogs

Düsseldorf 1
Spencer Tunik


A Eleuda de Carvalho

Estive a passear pela blogsfera cabo-verdiana e gostei de ver que a alegria é a prova dos nove. Antes de mais, temos sido irónicos. Aliás, confessei num post anterior os blogs que me encantam. Mas há casos hirtos, obtusos e absurdos de absolutismo e tristeza. Perdoem-me que vos diga, mas o apenas estar na blogsfera pode ser um drible. Há blogs que não sentem a alma criadora das ruas. Nem escancaram suas almas (quando as têm) para a curiosidade dos velhos e novos, urbanos e provincianos. Importa, sim, ser-se culto. Não apenas a cultura dos dicionários e das enciclopédias, dos museus e das galerias, e dos centros de erudição e das escolas, mas também e sobretudo, das esquinas e dos lúgubres lugares, pois haverá cultura na estação do metro, debaixo da ponte e no areal da aldeia. A grande sabedoria seria a contemplação, a itinerância e o humor. Oswald de Andrade, da poesia antropófaga brasileira (inspirado na fala anónima do povo) teria dito: a alegria é a prova dos nove. Alegria, muita alegria, e estamos conversados…

Príncipe das Astúrias para Bob Dylan

Heartworn Highways #2
Andrew Bick




Bob Dylan foi galardoado na quarta-feira com o Prémio Príncipe de Astúrias das Artes, por ser "um mito vivo na história da música popular e farol de uma geração que teve o sonho de mudar o mundo". Dylan bateu um leque de concorrentes que incluía a pianista portuguesa Maria João Pires e a cantora cabo-verdiana Cesária Évora. Em verdade, este cantor e compositor americano, mas também escritor, cineasta e actor, tem sido uma figura notável na época contemporânea. Ele mudou de nome, de religião e de estilo musical ao longo da sua extensa carreira, que já resultou em quase 50 álbuns e centenas de canções. Na acta oficial, o júri reconheceu Bob Dylan, aliás Robert Allen Zimmerman, como uma figura «muito viva na história da música popular» e como um símbolo «de uma geração que teve o sonho de mudar o mundo».

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Morre pioneiro do cinema africano


O cineasta Ousmane Sembène, um dos pioneiros do cinema africano, faleceu aos 84 anos, no sábado passado, em Dakar. Nascido em Janeiro de 1923, em Ziguinchor (Senegal), Sembène realizou uma dezena de filmes, entre os quais “Boron sarret”, “Mooladé”, “Le Mandat” e “Ceddo”. O seu filme “La noire de…”, foi considerado a primeira longa-metragem da África Negra. Igualmente escritor, Sembène foi o fundador do Festival Panafricain du Cinéma et de la Télévision de Ouagadougou (Fespaco).

Ponte dos Ingleses

A moderna literaturade Cabo Verde

Adio, para Setembro, a minha palestra sobre a moderna literatura de Cabo Verde, na Academia Cearense de Letras, a mais ancestral do Brasil. O cerimonial, não a palestra, exige algum preparo. Serei empossado, na altura, como Membro-Correspondente da Academia de Artes e Letras do Nordeste, em cerimónia alusiva. Apesar de honrado, não me envaideço, pois será apenas uma oportunidade para ampliar o bom-nome da Cultura de Cabo Verde e para abrir porta para outros poetas e escritores, por ventura mais abalizados…

Ambi é PhD

Assinalo, com regozijo e apreço, o Doutoramento de Ambrizeth Lima, na Harvard University, por estes dias. Contrariamente a “certas havardianas”, que a gente conhece, Ambrizeth Lima faz tese rica e consistente, corolário de um ser humano interessado, estudioso e dotado. Sempre a servir Cabo Verde. Boa, Ambi, nha amiga di Bubista…

A cidadania…malgré tout

O Estado – deixemo-nos de tretas –, já de si, é uma montagem que assusta o cidadão. Mas, sendo mal necessário, pois sem ele era o caos, o jeito é reforçarmos a cidadania…malgré tout.

Ponte dos Ingleses

Saberão vocês sobre o pôr-do-sol visto da Ponte dos Ingleses, em Fortaleza? Ontem, lá estive, a só, pensando nas surpresas e nos insólitos desta vida. O que poderei confessar às ondas que, incessantemente, assentam espumas no areal da praia? Sou das ilhas e de todo o lugar.

Ao almoço

Hoje, ao almoço, era pudim de frango e abobrinhas com creme de alho e alecrim no azeite. Contra os pratos congelados e em prol das coisas mais orgânicas, saudáveis e gostosas…

Visitante 6666


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6666
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Gosto, sem entender porquê, de números compósitos como estes. Sem deles querer fazer mistérios, pois nem teria paciência para Paulo Coelho, devo assumir que me encanta tal numeral. Talvez por isso, de péssimo aluno de matemática, no Liceu Domingos Ramos, Praia, pude, mais tarde, leccionar Calculus 1 e 2, em Somerville High School, a norte da cidade de Boston. Ou, quem sabe, esta apetência pelo grafismo e pela geometria. E, naturalmente, pela métrica da poesia e pelo tempo musical. A dança e a pintura. A escultura. E tudo ao redor. E a projecção de 6666 em 9999? Agourento, não é? E a projecção do inverso reflectido em - 6666, passando, como os egípcios e os gregos antigos, pelo Zero das coisas. Especulando...a metade do infinito, quem diria. By the way, queria apenas saudar o Visitante 6666.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Tardios instantes


Semana Cultural de Cabo Verde em França
Foto Carla Martin


A invenção do amor

Acompanho o quiproquó entre dois jovens. Até aí, tudo saudável. Tudo gente boa. Entrementes, tal como Daniel Filipe, é preciso inventar o amor em carácter urgente. No Blog. E para além dele….


O acerto pró

O acerto pró de alguma miudagem chega a ser até pungente. Quando a maçonaria se reúne, de Grande Oriente, de filhos dos filhos melhorzinhos ou desse bairrismo peçonhento, era bem previsível virem-nos à paciência o servicinho da sua tropa e o Carmo & a Trindade dos seus jurássicos. Mas, o interessante é que hoje estamos acesos…e incendiados.

A música das feras

Mário Fonseca, este sim homem maiúsculo, dos que não se vergaram a pressões e conveniências, já dizia: E assim, havendo comensais e um harmónio, ou uma gaita, ou uma sirigaita, nem que seja pequenina e de boca, se aparecer vianda sobre a mesa, quem sabe aparecerá boca e se boca aparecer, mesmo não havendo música nas esferas, quem sabe se da gaita que tocará a gaita da gaita da sirigaita não brotará a música ainda por encontrar por quem acreditar não sei se nas esferas ou na música das feras?

A crença ininterrupta do poeta

Mas eu, pobre vagabundo, acredito é na música das esferas. O acorde que acorda tal coração e impele-lo a amar muito e sem moldura. Umas coisas, quando não loisas; umas causas, quando não escusas. Uns poemas cheios de fruta e de mulher. Umas rosas, mas no seu lado de cá. Acredito em amar-te nas margens do rio, do mar, do lago…das águas todas. Nos olhos cerrados que te pressentem curvas e contracurvas, grutas, trufas e chocolates. Na crença ininterrupta do poeta que, entre helenas, hienas e chacais, faz versos de música nas esferas…

Tudo é a desoras

E mais não afirmo, pois tudo é a desoras, mesmo a liberdade que vem assim aprisionada. Mais não digo, pois roubaria para as valentes afirmações, o imprescindível tempo de amar. Não me ajoelho diante do vão e do mistério. Façam deuses, reis e roques sem mim. Façam-nos tardios dos meus olhos. Estes querem ver sempre a Primavera em Paris. E - tadinho de mim! -, já chegando tarde…




PS.




O acerto pró nada tem a ver com o Movimento Pró Cultura, Sopinha & etc. Idos tempos, companheiros. Tem a ver, sim, com os novos projectos que adensam Cabo Verde. Em si mesmo e no mundo. Ficando esta ressalva, valha-nos a dimensão dequeles que olham para a Claridade deste tempo, sem medo, nem pejo. Sendo coisa nossa (e nunca cosa nostra), não há como não a querer na soleira dos nossos dias...

segunda-feira, 11 de junho de 2007

De retorno ao maracatu atómico

Arejar o apartamento, fechado há quase um mês. Abrir as janelas, que dão para o mundo. Para o maracatu atómico. Deste 10º andar, vê-se a Av. Beira-Mar, deslumbrante, e jovens de branco ensaiam curvas de capoeira, ao som do berimbau. O barulho das ondas. O marulho, para ser mais claro. Um excêntrico de altifalante vocifera que Padre Cícero era fã dos Beatles. Arejar tudo, enfim…

Ceará

Declama um poema
a onda que sobe, estronda,
e ecoa: Iracema!
Sânzio de Azevedo, Lanternas

sábado, 9 de junho de 2007

DE PROFUNDIS CLAMAVI

DE PROFUNDIS CLAMAVI
Imploro-te piedade, a Ti, razão de amor,
Do fundo abismo onde minha alma jaz sepulta.
É uma cálida terra em plúmbea névoa oculta,
Onde nadam na noite a blasfêmia e o terror;
Por seis meses um morno sol dissolve a bruma,
E durante outros seis a noite cobre o solo;
É um país bem mais nu do que o desnudo pólo
- Nem bestas, nem regatos, nem floresta alguma!
Não há no mundo horror que comparar se possa
À luz perversa desse sol que o gelo acossa
E à noite imensa que no velho Caos se abriu;
Invejo a sorte do animal mais vil,
Capaz de mergulhar num sono que o enregela,
Enquanto o Dédalo do tempo se enovela.
Charles de Baudelaire

Comme il faut!

Cada um, o seu inferno astral. Uns, a reitoria. Outros, a sucessão presidencial. E alguns nem dormem, querendo ser administradores de empresas. Sussurro-te que a mama de tais marmanjos é de facto um pesadêlo. Eu prefiro mil vezes preparar esse cocktail de camarão ao molho de abacate ou estar à varanda a descortinar o mundo. Fazer o que se gosta é um gesto de liberdade. Olhar assim, para além da tua realidade…Comme il faut!

Dizeres

E aí, "Faladera"?

De facto, chegou o blog que se esperava, Kamia. O Abraão Vicente é solto e livre. I like that...Dono do seu pensamento e expressão. As suas crónicas sujas já não "cabiam" em certos jornais. Nem nesta aldeia, de gente provinciana. Cidadania plena. Tipo ame-o ou deixe-o. Inexoravelmente...
Egocêntrico/umbicocêntrico

Os considerados egocêntricos/umbigocêntricos, como Albatroz, Os Momentos, Soncent...e o SoPaFla, mais do que qualquer outro, não o são propriamente. Há lugar, sim, para o ego e para o úmbigo, mas não para o "cêntrico". Cêntricos, nós? Viva eu, vivas tu; viva o rabo do tatú...
Pessoalmente...
Gosto dos Blogs da Kamia, do Abraão, do Djinho, da Vera, da Margarida, do Marmelo e da Eileen. Esqueci-me de alguém? Too bad. Com mais ou menos distâncias, é tudo gente sólida e ciente das caminhadas. Há uma grande revolução a acontecer. Não revolução ao estilo dos disparates que a gente sabe. Nem a ver com esse "balístico", adjectivo corsineiro. Mas algo mais irradiante e cosmológico. Generoso...

Kel brambram di paradinha
Isto é mesmo hermético, para a infelicidade dos que patrulham a blogesfera. Eu tenho, para mim, o PIN das coisas que me são fudamentais. O resto...é o resto!

sexta-feira, 8 de junho de 2007

A nave dos loucos

Morreu Lúcia dos Anjos

Lucy, para todos nós que a conhecíamos de há muitos anos, foi vítima de um estúpido acidente na Avenida Marginal. A cidade da Praia ficou mais triste. A sensação de absurdo no ar. Eu estou ainda incrédulo e revoltado. Incrédulo, porque uma vida tão íntegra e cheia não devia resvalar assim tão sem propósito. Revoltado, porque a incúria, o incumprimento e a baderna (no trânsito como noutra actividade) continuam à solta na cidade da Praia. Desejo muito conforto espiritual aos familiares da Lucy, aos filhos, sobretudo. E muita força à minha amiga Teresa Amado. Toda a minha solidariedade...
A nave dos loucos
Mais um barco de imigrantes ilegais dá à costa em Cabo Verde. A questão é sobretudo humanitária. É a neovisão da escravatura. Uma cena tão dantesca que intervela à revisão do olhar sobre o Mundo. Onde estão os nossos activistas dos Direitos Humanos? Por uma nova ordem mundial. Menos neo-liberal e mais humanista. Apetece gritar...existencialmente. Contra tudo!

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Flores que a gente regue




1.

Hoje, apeteceu-me repescar as palavras poéticas de Daniel Filipe, esse grande poeta cabo-verniano, de "A invenção do amor": (...) Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura e souberam entender-se sem palavras inúteis. Apenas o silêncio. A descoberta A estranheza de um sorriso natural e inesperado. Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna. Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente, embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta de um amor subitamente imperativo (...)


2.

Férias? Quero passá-las com o Pablo e o Denzel. Bem ao jeito da música de Gilberto Gil: (...)

Pronde haja um tobogã/Onde a gente escorregue/Todo dia de manhã/Flores que a gente regue(...). E os segredos que ora não revelo.


3.

Para deliciar os nossos olhos, a Embaixada de Cabo Verde em Portugal inaugura na Sede da Câmara Municipal de Lisboa, dia 2 de Julho, uma exposição fotográfica intitulada "Os rostos da Claridade". Ali, encontraremos fotos, jornais e publicações da época da Claridade, bem como das tertulias do grupo Claridoso. Propõe-se a itinerância da exposição. E Claridade, sim, merece tamanha homenagem...


4.

Terminar mais um livro de poesia. Só quero poesia, amor e paz. E um pouco de prosa...a ver se dou um jeito nisso, ó minha vida. Seria em St. Augustin...seria?

quarta-feira, 6 de junho de 2007

5.555 visitantes




1.

Em cinco semanas, 5.555 internautas visitaram o Albatrozberdiano. Apetece, sim, organizar um encontro blogueiro. De repente, aceitando o repto da Kamya, a vontade de convidar a Margarida Fontes, o Djinho Barbosa, o Abraão Vicente, o Jorge Marmelo e a Matilde Dias para uma reflexão circular sobre o fenómeno blogueiro cabo-verdiano. Tudo fica em aberto: local, data e painel. Mas o encontro está fechado. Fechadíssimo...



2.

Em Lisboa, estive com os poetas José Luis Hopffer Almada e José Luis Tavares. Feira do Livro de Lisboa, nos seus últimos dias. Com o José Luis Hopffer Almada, dissipou-se o malentendido. Reconheço-lhe a razão de fundo no artigo, recém publicado no jornal A Semana. De facto, o Movimento Pró Cultura tem figuras de proa que precisavam ser reconhecidos institucionalmente. O pior de uma sociedade seria o esquecimento e a ingratidão. Ademais, não podemos jogar com a suja água do banho. Ambos sabemos da essência e da bandeira que nos movem...Com o José Luis Tavares, o encontro também foi de poesia, de cultura em geral. O programa sobre Cabo Verde na Fundação Fernando Pessoa é uma excelente iniciativa. Somos poetas...as nossas angústias serão outras.



3.

Em Lisboa, com Arnaldo Andrade e Carlos Hamelberg. Pensar a cidade de forma transnacional. A diplomacia cultural. O agendamento mais complexo da coisa e da coisa cultural. É fabuloso que a Câmara Municipal de Lisboa reconheça a necessidade de um Centro Cultural Cabo-verdiano. Anima e movida, meus caros...



4.

Praia Maria, bo ki é di meu...


5.

Saúdo vivamente http://www.alamarginal.blogspot.com/, de Abraão Vicente. Densifica-se a ala dos imprescindíveis...


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Com a tua letra

Porque eu amo-te, quer dizer, estou atento
às coisas regulares e irregulares do mundo.
Ou também: eu envio o amor
sob a forma de muitos olhos e ouvidos
a explorar, a conhecer o mundo.
Porque eu amo-te, isto é, eu dou cabo
da escuridão do mundo.
Porque tudo se escreve com a tua letra.
Fernando Assis Pacheco
(de Cuidar dos Vivos, 1963)

FILINTO ELÍSIO*

Estende o manto, estende, ó noite escura,
Enluta de horror feio o alegre prado;
Molda-o bem c'o pesar dum desgraçado
A quem nem feições lembram da ventura.
Nubla as estrelas, céu, que esta amargura
em que se agora ceva o meu cuidado,
gostará de ver tudo assim trajado
da nega cor da minha desventura.
Ronquem roucos trovões, rasguem-se os ares,
rebente o mar em vão n'ocos rochedos,
solte-se o céu em grossas lanças de água.
Consolar-me só podem já pesares;
quero nutrir-me de arriscados medos,
quero sacia de mágoa a minha mágoa!
*Poeta português

domingo, 3 de junho de 2007

Les Amants du Pont-Neuf


1.
Dois dedos de conversa sobre "Les Amants du Pont-Neuf". Fazer o trilho de Baudelaire. E ler a frase de Rainer Maria Rilke: La solitude qui enveloppe les oeuvres d'art est infinie, et il n'est rien qui permette de moins les atteindre que la critique. Seul l'amour peut les appréhender, les saisir et faire preuve de justesse à leur endroit. Existencialmente...amar.



2.
Um colunista do Expresso das Ilhas - um tal Amândio Barbosa Vicente, se não estou enganado -, me atribui atitudes déspotas durante uma sessão aberta na Câmara Municipal da Praia. O colunista, ciente da impunidade, coloca em minha boca isto: “Que há determinados indivíduos pertencentes a certos quadrantes da sociedade que procuram negar o valor da historia, tais indivíduos vêm as coisas apenas por um óculos de ver, querendo minimizar a perspectiva histórica das coisas, esquecendo que o passado nos ajuda a compreender o presente e a perspectivar o futuro”. Quanta falácia! Na verdade, este fulano não passa de um moço de fretes, a soldo da "pequiníssima política". Mal sabe ele que sou pela ilimitada liberdade do cidadão. Pela cidadania transbordante capaz de rir desse absurdo localizado e de cartel, mas que se mente democratica, a fazer desta res publica uma grande negociata. Não, mon petit, Filinto Elísio não se ajoelha perante nada...

3.
A Semana de Cabo Verde em França, iniciativa da Cabo Verde Business Club e da Embaixada de Cabo Verde, foi um acto estratégico e vitorioso. Antes do balanço, para afinar as arestas, teremos já razões para sentir Cabo Verde...com orgulho. Deixo Paris, com saudades...

sexta-feira, 1 de junho de 2007