1.
Domingo é um dia lixado. Véspera de escola e muito material para empinar. Micheal Porter não interessa mesmo. E eu não tenho cara de neoliberal, nem de novo turco. Há formas mais híbridas e menos bíblicas de fazer economia. Sem disparate keynesiano. Mas se o Professor exige empinanço…fazer o quê? Acordei cedo, ainda o sol era promessa de gema de ovo, e fui marchar no calçadão. Glicose a quanto obrigas! A Praia de Iracema é grande e recortada. Fiz a meia-hora matinal e parei na lota do Mucuripe, a regatear uma posta de cação. Já comeram caldeirada de cação? As pessoas votavam e a aragem balançava os coqueiros. Com irrealidade…
2.
Hoje, fez anos o meu filho Pablo. Quatro anos! Os meus dois filhos – Denzel e Pablo – mexem com o meu espírito, a minha saudade, o meu tudo. Eles são O Segredo das Pipas. Queria-os aqui no Beira-mar, a ver as jangadas e os saveiros na baía. Levava-os a andar até o Porto das Dunas, onde as minhas recordações são gratas. Na Praça do Estressados, a turma discutia com interesse. O nível do debate é mais interessante que aquele a que estamos habituados nas ilhas. Um defensor do Presidente Lula diz que o Brasil resolveu dois grandes problemas macroeconómicos: a inflação e a dívida externa. Mas o seu interlocutor remata que há o combate à pobreza, a corrupção e a crise das contas públicas. Sem rabentolismos, nem arrogâncias. Eu não vim ao Brasil apenas para estudar, mas sim para respirar. Há oxigénio. Será da Amazónia? Às vezes, eu era atacado por uma grande claustrofobia. Adiante…
3.
Passo horas esquecidas, a ver um documentário sobre as artes plásticas mexicanas. Eu só conhecia Diego Rivera e Frida Khalo - minha santa ignorância! -, mas há muita gente interessante. México é um país fabuloso. Pós Azteca, mau grado a barbárie colonial e a vizinhança ameaçadora. O Pablo fez anos e repito isso a todos. Queria para o meu filho a cidadania, educação, segurança, saúde, amor e liberdade, enfim, essas coisas cada vez tornando a humanidade mais humana. Queria que gostasse de poesia e sorrisse à minha declamada voz . A poética de Pedro Ayres Magalhães (dos Madredeus): Ao largo ainda arde a barca da fantasia/ e o meu sonho acaba tarde…
4.
No bistrô da esquina, estava ali o signore para me servir o cappuccino: 30 mililitros de café e 150 de creme, polvilhado com canela. Melhor só aquele em Kendall Square. Gilberto Gil, na música METÁFORA diz que “uma lata existe para conter algo, mas quando o poeta diz ‘lata’, pode estar querendo dizer o incontível.” Falando em metáfora, tenho aqui comigo a foto da Dona Mindoca e do Pablo. Estou sem mágoa. Apenas resoluto sobre algumas mudanças necessárias. Deixo-vos aqui uns versos do meu amigo Damário da Cruz, poeta e fotógrafo baiano:
(…)
(Se não for possível
em muitas manhãs)
rouba teu filho
nas tardes de domingo.
E na fala mais simples
conta no ouvido pequeno
o segredo das pipas,
os caminhos dos duendes,
as formas das cidades,
o mistério dos amores...
(…)
Não é um poema liiiiiiiiindo? É O Segredo das Pipas, para as vossas senhorias. Comecei um novo livro. De poemas, ó tecnocratas. De poemas. De resto, passei as sobras do dia dia antenado nas eleições brasileiras. Mas o frisson do meu coração era outro: Pablo. Estou totalmente em clima sentimental…ó homem que eu amo!
(…)
Não é um poema liiiiiiiiindo? É O Segredo das Pipas, para as vossas senhorias. Comecei um novo livro. De poemas, ó tecnocratas. De poemas. De resto, passei as sobras do dia dia antenado nas eleições brasileiras. Mas o frisson do meu coração era outro: Pablo. Estou totalmente em clima sentimental…ó homem que eu amo!
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