De Nova Iorque, Manuel Veiga agradece
Por VNN Staff / Manuel Veiga
Publicado Friday, October 20, 2006
Num dia de chuva, parti de Cabo Verde, numa das nossas aeronaves, rumo aos EUA.Após um intenso trabalho na azágua da cultura, programei umas curtas férias, nas terras do Tio Sam, na companhia da minha mui estimada família. Foi assim que cheguei a Nova Iorque a 16 de Agosto de 2006, com o propósito de regressar às lides da cultura a 5 de Setembro.
Para a minha surpresa, quando cheguei ao destino, a minha mulher tinha preparado um programa de férias, com deslocações a Orlando e a Miami (na Florida). Foram umas férias de sonho, inesquecíveis, diriam o nosso filho mais velho e a minha cunhada que nos acompanharam. Com efeito, valeu a pena a prenda e a surpresa.Porém, surpresa maior estava para acontecer. E o destino quis que a mesma tivesse lugar na noite do regresso a Nova Iorque, isto é, a 29 de Agosto de 2006. Eu que presumia ter uma saúde de ferro, o meu coração resolveu provar-me que, afinal, tudo nesta vida é frágil e relativo.
Foi assim que, batido e abatido pelo órgão que leva a vida a todos os tecidos do corpo, fui transportado, de ambulância, ao Hospital Lenox Hill onde o primeiro diagnóstico sugeria a probabilidade de um transplante (que felizmente não veio a ser necessário) e apontava para um quadro clínico que inspirava sérios cuidados.
A notícia espalhou-se de forma célere; a minha família ficou estarrecida, os amigos e patrícios de todas as latitudes e de todos os quadrantes sociais ficaram surpreendidos. Sensibilizou-me, de forma particular, a atitude de um grupo de rabidantes do mercado da Praia (no Platô) que, ao tomarem conhecimento do sucedido, foram ao Ministério da Cultura interpelar o Director de Gabinete para que lhes dissesse a verdade verdadeira do que estava a acontecer com o amigo e cliente Manuel Veiga.
Outra surpresa agradável foram as visitas do Chefe do Governo, do ex-Presidente Mascarenhas Monteiro, do Ministro dos Negócios Estrangeiros, do Embaixador de Cabo Verde em Washington, do Secretário Executivo da CPLP, da deputada pelo Círculo das Américas, dos Embaixadores de Portugal, de Angola , do Níger e do Sudão, do Representante de S.Tomé e Príncipe junto da ONU, do Presidente do Instituto Crioulo-Americano, do alto funcionário da ONU, Doutor Carlos Lopes, da assistente do Secretário Geral da ONU, dos funcionários caboverdianos da ONU e da Missão Permanente de Cabo Verde, do Conselheiro Diplomático António Lima, do Embaixador Manuel Amante da Rosa, dos médicos caboverdianos Júlio Teixeira e Manuel Fontes), das Embaixatrizes de Angola e dos Camarões, de representantes da Associação das Mães Africanas nas Nações Unidas (UNAMA), de membros da comunidade caboverdiana de Boston, Providence, New Jersey e Nova Iorque, da minha prestimosa madrinha e filhas que me dão o tratamento de filho e de irmão.
Os gestos de solidariedade, porém, não se resumiram apenas a isto. Por e-mail, por fax, por telefone chegaram várias mensagens de solidariedade e de conforto de vários horizontes, particularmente de Cabo Verde. Pude receber ainda visitas de familiares que vieram de Cabo Verde e de França, expressamente para me ver. Chegaram também poemas, orações, flores, sugestões de leitura, de dieta alimentar e até propostas de empréstimo monetário para as despesas, caso houvesse necessidade…
Sempre disse que tinha grande respeito e reconhecimento para com um Povo que me legou três coisas importantes: uma Língua, uma História e uma Cultura. Porém, hoje sei também que esse mesmo povo tem apreço pelo trabalho que fiz e faço. Talvez seja, em grande medida, por causa de tudo isto que a minha reabilitação foi e está sendo rápida. Daí que, ao recuperar as forças, o meu primeiro gesto seja de agradecimento: a DEUS, ao meu POVO, à ciência no EUA, ao Hospital Lenox Hill, aos médicos e enfermeiras que me assistiram, à minha Família, às Autoridades de Cabo Verde, aos funcionários do Ministério da Cultura, aos artistas e criadores que me enviaram poemas ou uma palavra de conforto, aos meus amigos, aos antigos colegas do Seminário, às Igrejas e Comunidades religiosas bem como à Comissão de Tradução da Bíblia que rezaram por mim, à Comunicação Social que espalhou o eco do meu estado de saúde. A todos uma palavra de profundo reconhecimento Diante de todos vai este meu compromisso: se ontem tinha um grande respeito para com o meu Povo, hoje esse respeito transformou-se em AMOR e ADMIRAÇÃO.
Por isso, quero pedir a todos que continuem a contar comigo porque o incidente cardíaco que me atingiu fez-me crescer em humanismo, em patriotismo, em espiritualidade. A todos um obrigado do tamanho de Cabo Verde e da grandeza do meu coração.
À minha família, particularmente à minha mulher e aos meus filhos, prefiro simplesmente dizer-lhes que me convenceram daquilo que já sabia. A todos um obrigadão e que contem sempre comigo nas azáguas do amor e da vida.
Nova Iorque, 20 de Outubro de 2006
Nova Iorque, 20 de Outubro de 2006
Manuel Veiga
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