terça-feira, 17 de outubro de 2006

Manhuaçu e bandeira branca



Pranchinha, meu camarada, o sol desce devagar pelo dorso da tarde e às vezes tenho a impressão de estarmos ali. A nossa alma. E o nosso destino…

Desta janela, não fosse um carro de campanha a repetir “Eu quero Lula de novo”, haveria de querer filosofar sobre a vida. Ou simplesmente a ouvir Love for Sale, de Cole Porter. Lindo de morrer. Mas tu insistes, meu camarada, em novas das ilhas. Não da música. Nem do verde. Nem das musas. Insistes nas “notícias do bloqueio”.

Meu caro, não responderia aqui às tuas colocações. Apenas diria que a paz se constrói com a liberdade, a equidade e o respeito. Não há, nem pode haver, uma relação de paz entre o abastado e o esfomeado. Entre o escravo e o senhor. Vejamos o filme Ultima Ceia, de Tomás Gutiérrez Alea, ou Viridiana, de Luís Buñuel. É que a realidade virou tão dramática quanto a ficção. E assaz hilariante diga-se de passagem…

O que me contas do rosário político lembra aquela anedota da rodoviária, Pranchinha. O diálogo mineiro, bem maneiro mesmo: ''Ocê tá dizendo que vai pra Manhuaçu pra eu achar que ocê vai pra Manhumirim, mas, ocê vai é pra Manhuaçu, mesmo''.

Os golpes e as mentiras que o pessoal nos prega são um grande “Manhuaçu”, meu camarada. Isso já vem do antanho: desde a geração “dos nossos avós” e se consolida agora com esse “vem irmão”. Tremendo “Manhuaçu”…

Dava até para rir. Desanuviar o ambiente, desopilar as ventas. O pessoal diz “que vai pra Manhuaçu”, Pranchinha. E já somos lúcidos, todos acesos, carregando o mesmo fardo. E nunca nos sentimos tão fartos desse “Manhuaçu”. Mas em nome de uma coisa maior, queremos paz e amor. Trégua, se quiseres. Por isso, bandeira branca, branca, branca.

E o dia já vai engolido pela boca da tarde. E o poente, numa antropofagia daquelas, come o sol incandescente. Somos nós em sentido figurado…

Fui, meu camarada. Já não está cá quem teceu estas linhas…

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