sábado, 30 de setembro de 2006

Eu era poeta, dizias


Eu era poeta, dizias,
Devido ao halo dos pães, das broas e dos bolos,
E dos recém saídos do forno, os pastéis de massa fina
Davam-me sonetos pastosos regados
Ao vinhaço de Alentejo…

Poeta, porque eu dançava
Aos teus riscos e rabiscos, e sorria
Dos bonecos que, da magenta do quadro,
Corriam pelos becos – sem frutos, repetias,
Sem pecados de expulsão divina…

E às vezes, pedia-te um lapso de atenção:
Pousada na flor, a borboleta em tons laranja
E o gato azeviche, com olhares verdes, rasgava-lhe
As pequenas sombras da tarde…


Tu juravas ser eu poeta
Pelos meus neurónios cor-de-rosa
E a cinza dos meus olhos viam
(sem alarde) a rua amarela…

E escutavam também os meus sentidos
A melodia com que um girassol prateado
Volteava (embriagado e tonto) seus seios
No fantástico zen da lua…

Filinto Elísio

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