sábado, 28 de outubro de 2006

Poema de Amor


O Poeta e o seu café
Foto Mito


Se o teu coração e o meu
fossem dois relógios batendo
a mesma hora, nunca chegarias tarde
aos encontros, e eu, no minuto exacto,
chegaria a ti como um rio
que entra no mar.
Gostaria de estar contigo
e fôra essa a minha sina, que anjo
ou demónio se lembraria de vir dizer-me
que todos os paraisos
são paraisos perdidos?
Amar-te sempre queria eu
até que a morte nos viesse cobrir
de flores. No entanto, que posso fazer
contra os semáforos indicando o vermelho,
com tantas curvas impedindo
que eu siga em linha recta?
De resto, quando menos se espera
acontece chover e a seguir à chuva
vem a bruma. Como se não bastasse,
surge um guarda a exigir o santo-e-senha,
porém não recordo nenhum,
apenas sei o número de um telefone
que alguém me deu
quando andava de espingarda e boina verde.
Adeus, meu bem e deusa minha,
quando eu morrer, se morrer primeiro,
cobre-me de rosas vermelhas e brancas
e canta para mim uma canção de amor,
não faz mal se for alegre.


Arménio Vieira, in MITOGRAFIAS (livro ainda inédito)

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