sexta-feira, 4 de julho de 2008

Urbaníssimo


Praia, meu berço

Gosto da cidade grande, cosmopolita e frenética. Gosto de estar na cidade como se estivesse no Ode Triunfal, de Alvaro de Campos. Quando dei de caras com Nova Iorque, chorei. São Paulo foi amor de perdição. E Paris sussurra pelos meus poros. Agora, à boca pequena (para que os FDP não me ouçam), acho que sou londrino. Jack, the Stripper, entre a neblina de Netting Hill. Gosto, mesmo quando a cidade não se extrapola em metrópole – seja Lisboa, Boston, Casablanca, Belo Horizonte ou Genebra -, de ficar pelos encantos que vou descobrindo – amigos novos, deuses disfarçados de mulheres, cães que falam com crianças nos jardins e rosas com o seu lado de cá. Em Dakar, estive para acreditar em Deus. No Rio de Janeiro, o Belo embriagou-me e estou de ressaca. Parei um dia em Joanesburgo e apaixonei-me por Nelson Mandela. Passo pelas cidades de Cabo Verde, todas pequenas, mas com os seus encantos, e, me perdoem os que não se libertam dos seus cutelos, sou urbano. Urbaníssimo. Praia, meu berço, meu umbigo…

Sem muita metáfora

O FMI admite estar impressionado com a dinâmica da economia de Cabo Verde, mas Nha Filó (amizade recente), essa não vai muito na cantiga do sucesso económico. Em verdade, o macro encanta aos outros (FMI, Banco Mundial e companhia), mas o micro (arroz, feijão, peixe, carne, leite, material escolar, gás de cozinha, luz e água, o micro dizia) não encanta aos da Tapadinha mesmo nada. Sem dar muita bola à ambivalência do macro e do micro, Nha Filó é daquelas que precisa do imperioso para colocar na panela. Três por dia, remata a minha amiga, sem muita metáfora…

Autocarro #20

Neste momento, já não estou Esperando Godot, mas aguardo Um Bonde Chamado Desejo. Com a chegada de Denzel, 16 anos, e com o Pablo, 5 anos, por perto, a minha vida ganha mais luz & água. Os filhos são o nosso desassossego, ora! Aquecimento global, crise dos combustíveis e escassez de alimentos, que mundo para os meus filhos? A chuva a falar mantenha, mas o paludismo que espreita, o deputado a falar asneiras no Parlamento e as "soluções" para enganar outro, e os meus filhos nisso tudo! Queria dar aos meus filhos poesia, muita poesia, a poesia que falta nestes dias. Falta-me algo mais, pois existencialmente falta-nos sempre algo mais. A poesia concreta de estarmos todos juntos perante a promessa de um mundo melhor, afinal possível. Queria estar com eles no Autocarro # 20

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