Não é só o nome que santifica: Ricardo de Deus. É a música também que, mesmo ousando pelo profano, como todo o suíngue aliás, está aqui eivada de sagrado. O álbum Fragmentos foi feito com engenho e arte, corolário de muito bom-gosto e muita técnica, desde a composição à produção, passando naturalmente pela interpretação.
Ricardo de Deus, mercê das suas aparições e das suas aulas de piano, conseguiu já um panteão sonhado por todos e uma serenidade conseguida apenas por alguns. Ele vem a Fragmentos, seu primeiro álbum, com a maturidade de repertório e a mão tão precisa quão concisa na escolha dos músicos, tanto cabo-verdianos como brasileiros e outros. A notariedade de Ricardo de Deus não se traduz em significante, mas sim na profunda e radical simplicidade, apanágio dos iluminados.
Brasileiro, de São Paulo, mas ora serenado nas ilhas de Cabo Verde desde 1999, Ricardo de Deus pegou já o significado da alma crioula, no jeito como nos apresenta a maior parte das 14 faixas que perfilam neste álbum. Diga-se que o Artista assina todas as composições, à excepção de “Lundu” de Arnaldo Rebello, facto inusitado entre a gente que o tinha apenas por exímio pianista. Fragmentos é genuína música cabo-verdiana, mas não engessada a nada. Nem mesmo à toada que se ouve pelas esquinas. É música boa, nova e glamourosa…de Deus, realmente.
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