Bilinguismo de “trocolansa”
Hoje, quero falar da língua cabo-verdiana. Do crioulo de Cabo Verde, falado em toda a Nação Global e estudado em várias universidades do mundo, mas que continua relegado à marginalização nas oficialidades. Mas que tacanhês, quanta colonização mental! Como não oficializar a lingua do pensamento, da fala e da intercomunicação neste Cabo Verde global? Perigar o português? Não me façam rir. O que periga o mau português falado e escrito em Cabo Verde é exactamente a não definição do estatuto oficial das duas línguas. A tal diglossia, de que nos fala a estudiosa Dulce Almada, tem a ver com a promiscuidade linguística, com o actual bilinguismo de “trocolansa”. Só teríamos a ganhar se dominásse bem as duas línguas que a ventura nos deu: a cabo-verdiana e a portuguesa. Quem já leu Chomsky sabe das vantagens cognitivas do bilinguismo saudável. Para um pensamento estruturado, capaz de pensar a ilha, o arquipélago e o cosmo. Funcionar em dois códigos linguísticos é um valor agregado, a potenciar, meus senhores. Importa não confundir as nossas fobias com a realidade, sobretudo aquela que transcende uma elitezinha medíocre e deformada. Basta dos pruridos de trazer por casa e oficializemos o crioulo de Cabo Verde. Por uma questão de não amputarmos a soberania, nem amordaçarmos a democracia…
Cimboa – muito mais que instrumento
Em conversa com Charles Akibodé soube do projecto de preservação e de valorização da Cimboa, instrumento musical tradicional cabo-verdiano, em vias de extinção. O projecto de Akibodé não se resume ao instrumento em si, como peça da antropologia cultural, mas abraça uma iniciativa mais alargada e mais consequente da promoção da Cultura que se faz em Santiago. A Salvaguarda da Memória da Cimboa resgata o prestígio cultural e social de Mano Mendi, um dos mestres do batuque e na execução da Cimboa. Ela resgata também a técnica do fabrico desse instrumento, a partir de uma abordagem científica do artesanato cabo-verdiano. Charles Akibodé, investigador de profissão, entendeu o que à nossa elite desavisada custa a entender: a verdadeira estética pressupõe uma perspectiva ética.
Fantasia, digamos…
Meu caro amigo, do bom jazz e da boa conversa, acabo de assistir ao O ÚLTIMO MITTERRAND, filme de Robert Guédiguian. Mitterrand sim, era um estadista fascinante. Com grandeza. Agora, eu não fico embasbacado diante desse Carnaval. Prefiro coisas mais pedagógicas. Quando não, fico horas diante do oceano. Estou assumidamente numa fase zen. Naquela do zen-mundismo, como diria Gilberto Gil. Meu caro amigo, das piadas inteligentes, não estive, nem estaria por um segundo embasbacado com o processo histérico. Prefiro amar, mesmo vizinho cativo da dor, quem não odeia senão o ódio. A política não é a minha praia. Literalmente. A política tem de se resumir aos seus limites em qualquer sociedade democrática. Ela não pode tudo. Frágil e vulnerável como todos, o político só governa com o aval dos governados. Um Nero a mandar vir hoje seria até hilariante. Já não há paciência mesmo. O Pranchinha, se cá estivesse, faria a reprise daquele Ditador que, do alto da sua arrogância, mandou revogar (imaginem) as Leis da Gravidade. Obviamente que o Grande Líder caiu fulminado por terra. Excesso de peso, meu caro amigo…
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