Só ponho be-bop no meu samba
Quando o Tio Sam pegar no tamborim…
Gilberto Gil
Intro
Ao tempo que gostávamos dos filmes americanos, os feios, os anões, os vesgos, os fanhos, os pobres, os índios, os negros, os mexicanos, os russos e tantos outros eram os maus. E esses filmes, depois de os matar, serenavam com o hapy-ending de ocidentalíssimos e brancos beijos, que a meninada, do balcão ao geral do Cine-Teatro Municipal da Praia, aplaudia em uníssono. A cidade do nosso Cinema Paradiso era pequena, tacanha, ainda não dilacerada pela peste do dito desenvolvimento. Paradoxalmente, defensor que sou do crescimento e da metropolização da nossa cidade, acordei hoje meio nostálgico. O ufanismo e o triunfalismo me irritam. Enfim, não me é fácil entender que o samba não é rumba, como reza a música de Gilberto Gil. Nunca…
Fumaça Da Best
Releio A Peste, de Albert Camus, e o branco que me invadiu desde a alva se dissipa. Exilado por conta própria, dou largas à saudade e repenso a peste que nos sobe pelas paredes. Cercados pela peste, a nossa burguesia mantém a farsa para o inglês ver. Os jornais vendem “cada vez mais tanto”, os empreendedores movimentam-se e não será desta que a cidade morre de tédio. A peste camuniana existe, sim. Ela nos dilacera vagarosamente. Como um cancro. Casino no ilhéu de Santa Maria, Copacabana no mar da Lajinha e sucupira-se quem puder. Entrementes, Mito apresenta Li-Sim-Sim aos ascendentes de Nho Mateus de Tchaina e Mano mostra Na Ri Ná em Macau. Coisas boas. Mas no mais, mundo é bemba. Quase Denda. Tudo muda. E vira-mundo travestido. Tamanho absurdo só me é lembrado aquele de Fumaça, o imortal da nossa infância, que atirava pedras ao sentinela para o prenderem também aos domingos, dia que os algozes davam grão-de-bico ao almoço na Frigideira. Distantes dias, como os hoje da NATO e seus sonares, dos britânicos e os seus solares, e dos traficantes e seus jeeps-em-pó + advogados políticos & família internacional, etc, coisa e tal. Nesta Ode Triunfal, uma homenagem ao Fumaça…Da Best!
Sejam pois salazes, fasceninos e satânicos
Ainda aturdido (pela imprensa) com a greve de fome – de Anthony Garotinho (político do Rio de Janeiro), não me confundam -, leio, com gozo, a crónica de João Ubaldo Ribeiro (este sim, escritor de vera) discorrendo sobre hamburguers salazes, quibes fasceninos e empadinhas satânicas. A boa escrita está também na irreverência contra mártires antigos e aqueles feitos a toque de caixa. Lembro-me também do filme de Marco Ferreri – a Comilança, em tradução brasileira. A pornografia de comer, em oposição à pornografia de não comer. A gula nas antípodas do jejum. Melhor representação das baixezas humanas impossível. Os moralistas de serviço, patrulheiros da fina medíocridade, hão de buscar semelhanças com as coisas e loisas da Tapadinha. Quaisquer semelhanças, são coincidências e já estava a escapar-me, aqui e agora, um palavrão…
Rábula em epílogo de um Email
Em greve? Já agora (e entre nós)…há também a questão da Electra, da Poupança dos Emigrantes e (nunca é tarde) dos Enacóis & comandita. Vamos a isso, há várias formas de contestar e de impugnar, benzendo nunca o instituído. Enquanto se rabentoliza a vida, A Peste toma conta da nossa cidade…
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