sexta-feira, 26 de maio de 2006

Lendo Porter e Kotler, os deportados e ficções


1. As vantagens competitivas


Nas minhas leituras, deparo-me (não como leitura recreativa, diga-se) com as teses de Micheal Porter e os seus contrapontos. As vantagens competitivas em questão. Lendo “O Marketing das Nações”, de Philip Kotler et all, navego nas causas sobre o enrequecimento das nações, mesmo as pequenas e as insulares, como parece ser o caso de Cabo Verde. O que faz com que o nosso país, em relativamente tão pouco tempo e sem recursos físicos, tangíveis e estáticos, esteja a vencer o desafio do desenvolvimento? Obviamente que não há uma causa, nem uma razão estanque. Nem a explicação ou a tentativa de o fazer se deve resumir a uma perspectiva meramente científica. Uma certa complexidade exigiria um olhar multidisciplinar (de interdisciplinaridade, queria dizer) para se abordar a problemática. Em Cabo Verde, os factores fixos seriam (se tanto, mas nem por isso) o posicionamento geoestratégico. Quais seriam os outros? Dou um doce. E os factores móveis (estes sim mais determinantes) seriam a liderança política, a governança, a paz social e a estrutura educativa…

2. Tirando a pequena política

É de se acompanhar, com interesse e responsabilidade, esta fase transformacional de Cabo Verde. Hora em que nos confronta a problemática das vantagens competitivas (mas quais seriam?) à la Micheal Porter. A cultura capaz de atrair investimentos e de ampliar a indústria, comércio e serviços. Quais os elementos críticos e de crise? E aqueles alavancadores do crescimento sustentável? Tirando a pequena política, mais distractiva que impactante, começa a surgir o “mainstrean do desenvolvimento” (visivelmente trnaspartidário, quando não apartidário), a partir da ética competitiva. Há líderes que são “visionários gerenciais”, capazes de entender que a contribuição do capital humano para o desenvolvimento é directa. Esta nova visão, que não encara a política pela política, mas pelo desenvolvimento, pela cultura e pela governança, parece explicar em parte o relativo sucesso de Cabo Verde.

3. O insólito do Dia da África

Dia da África: quando o barco atraca em Dakar, atulhado de seres humanos em deportação, as autoridades locaiss só recebarm os de passarporte senegalês. Há ali um impasse tão dantesco quão shakesperiano. Em alguns gabinetes, distantes do impacto bizarro, há gente que desgota que se denuncie tal situação desumana. A opinião pública ficaria mais bem servida se ovacionasse os natos e as natas pela marinal do Mindelo. Ou fingisse que tudo não passa de atroz ficção do mau jornalismo crioulo. E o barco parece a nave dos loucos. Diante de tamanha loucura, de seres humanos transportados como cargas perigosas e transladados como escravos, uma pausa sobre a reflexão e a dignidade!

4. A Nave dos Loucos

No livro “A Nave dos Loucos”, de Katherine Anne Porter, a nebulosa torna-se ridícula e desumana. A autora remata assim, às tantas: “Detesto as coisas que ficam em meio, as indecisões, as estúpidas situações falsas, os sentimentos inventados, os amores de encomenda e os ódios ornamentados à mão. Quero tudo claro e definido, ou pelo menos ser capaz de distinguir as coisas pouco claras e confusas. Tudo o mais é repulsivo, e aí está porque a minha vida é repulsiva e me envergonho dela”. No tanto que a ficção tem a ver com a realidade!

5. O Belo de tão grotesco

Estava Alonjo Quijano, meio à-toa na vida e de triste figura, ladeado por Sancho Pança, seu mui fiel amo, quando Cervantes resolveu botar aqueles moínhos na beirada do caminho e aí complicou tudo, fazendo de “Dom Quixote de La Mancha” uma belíssima obra, entretanto.

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