segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

Tâmaras

Das janelas, olhávamos o abraço da baía
Os mastros entrados pelas enseadas,
O movimento dos corpos soluçantes
A exaustão das horas que se abraçam…

Olhávamos também, amor, o sol a pique
Que, das manhãs, dourava todas as frutas,
Era tua rua de infância, e estavas nua,
Molhada chuva e eu, ali, liquefeito…

Conta-me um pouco de haverem deuses,
Só um bocado desse paraíso de bocas
Fá-lo sem medo, assim como as loucas…

Toca-me, pelo fundo, amor, tão frágil
Quão poderosa, foste, num só momento,
E ter aquilo sido toda a eternidade…

Filinto Elísio

In: “Das Frutas Serenadas”

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