Saúdo toda a gente do Teatro. Essa gente esquecida nos momentos bons e recordada nos maus. Essa mesma gente esquecida quando estão em maus momentos e solicitada quando em seus melhores momentos. Essa mesma gente de circunstâncias para a curta visão e de perseverança para os de visão profunda. Essa gente que trabalha com as dificuldades sempre a favor e que choram para fazer rir e riem para não chorarem.
Os dias de qualquer coisa devem servir para qualquer coisa. Porque nem todas as coisas têm um dia, embora hoje haja um dia para quase todas as coisas, o que quer dizer que todas as coisas são importantes. Deste modo, se o Teatro não fosse importante seria uma coisa qualquer. E se é importante, isso já é qualquer coisa, nesses tempos e nesta terra em que tudo tende a perder importância se não for político ou industrial. Que ainda haja teatro em Cabo Verde é um sinal de que são uns sãos loucos que fazem este país. Mas para que haja sempre Teatro em Cabo Verde é preciso desconfiar dos doutos de ocasião, esse que fazem teatro onde não devem. As ajudas festivalescas e as palmadas em cima do chumaço não constituem políticas nem visão estética. Nem uns devem pensar que isso é suficiente, nem outros têm com que agradecer. Deve ser um imperativo de Estado o investimento no Teatro, que deve constituir a sétima arte nacional, até que o próprio teatro, prenhe como está, gere nas suas entranhas um cinema latente. Mas tendo em conta as experiências do Mundo e os recursos de que dispomos, o cinema será sempre uma visita, e o teatro, um severo inquilino.
Saúdo novamente em nome dos ausentes a todos os presentes no teatro, dos figurinistas aos actores, dos directores aos iluminadores, dos cenógrafos aos músicos, dos dramaturgos aos contra-regras, dos anotadores às bilheteiras, do público inocente ao critico aprumado, da criançada inteligente aos mecenas reticentes.
E rogo pragas para que Março seja um mês gago, e fique truncado no dia 27 para a fortuna dos anos vindouros.
Mário Lúcio, 27 de Março de 2009
Extraído do Blog Café Margoso
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