quarta-feira, 25 de março de 2009

Crónica a ser


Crónica a ser

Às quartas-feiras, tenho a obrigação de entregar a crónica ao Jornal A Nação. Ao arrancar o dia, geralmente saído do king size, enormíssimo para homem só, e indo directo para o chuveiro frio, começo a matutar sobre o tema a escrever. Já escrevi sobre tanta coisa! Dos bairros degradados na cidade da Praia ao festival de cerveja num dia das “quentinhas” em Munique, passando pelo sorriso fugaz num elevador de Nova Iorque, tudo isso já foi matéria da mais ou menos fantástica e da irreal das minhas crónicas. O meu Editor, pelo MSN Messanger, diz: Aguardo... Força e boa inspiração. Té Já!!! Cada vez mais, com denodo e algum esquecimento, estou a me tornar velho que nem a intocável vodka lá em casa. Caquéctico. Imaginem que até escrevi sobre os metrossexuais, os politicamente correctos, esses modismos que não valem um corno. A como é bom não cumprir um dever! Mas não sou Fernando Pessoa, palavra. Ter uma crónica e não a fazer. Afazeres…

E de tais escritos

E se escrevesse sobre os prazeres da mesa e da cama? Se, despido dos cuidados, vos convidasse a não interpretarem, pela rama e pela esquerda, a semântica das palavras do Papa, em Yaoundé? Se a sotaina, vez por outra, não ilumina outros caminhos para as 22 milhões de pessoas infectadas na África Subsaariana, três quartos das vítimas de Sida no mundo inteiro? Se, ciente da primeira, segunda e terceira das vossas pedras, escrevesse aqui que as certas verdades de hoje já são zero à esquerda ao tempo de um ai e que, de repente, Marx retorna à sua razão e Micheal Jackson quer, desesperadamente, voltar a ser preto? Se assumisse, mandando Brito Semedo à fineza de rever o canhenho, que oficializar o Crioulo não configura mosca na sopa desta ou daquela região? Estou aqui a ver a cara dos leitores e não deixo de rir sempre que, revoltados, uns desgostem dos meus escritos ou, entusiasmados, outros apreciem as minhas bacoradas. O poeta brasileiro Mário Quintana afirmaria que: “Há leitores que acham bom o que a gente escreve. Há outros que sempre acham que poderia ser melhor. Mas, na verdade, até hoje não pude saber qual das duas espécies me irritam mais”.


Abençoado tempo nosso

A ditadura com que, de modo melífluo e subliminar, nos impõem a televisão e o telemóvel, entrando na onda também o computador portátil, nos revela que, não adianta, por mais revisão constitucional feita, haverá sempre este hiato em matéria de direitos, liberdades e garantias. O nosso precioso tempo (em verdade doado pelo divino para amarmos, educarmos os pequenotes e degustarmos as maravilhas do mundo, para a “joie de vivre”, convenhamos) estará cada vez mais desviado pelos engenhos de agora que, mais do que aqueles de outrora, nos fazem escravos das coisas.

Bom mesmo

É ser “gauche na vida” e de assistir ao espectáculo do mundo com retumbante deboche. Fazer coro ao Heavy H, dos poucos saudáveis da praça: Chouchou, ratcham bisou, para o gáudio das Pirilampas. Dizia o Pranchinha, o mais desabrido dos saudosos, que não se pode aguentar a lida sem um bom grogue da Cidade Velha e um divino guisado de cabrito, a vinho branco, com mandioca sumarenta. Ou um arroz de lapa e percebes no restaurante da Marilena (Bila Baxu, para os sem GPS), milagre que faz pecar qualquer brocado. Compadre, posto estar crónica já feita, são dois dias esta vida. Sem palavrões…

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