(Da Arte, dos Partidos e das Verdades)
Pretensos críticos
Antigamente, ou talvez não tão antigamente assim, reinavam os pretensos críticos da Arte, esses todo-poderosos. Com os seus critérios herméticos e estafados. A determinarem que o borrão de fulano era melhor, mais bem conseguido ora, que o de beltrano; que a metáfora de beltrano superava a de sicrano e por aí além. Mau grado o arcaboiço estético, quase sempre de reboco epistemológico, a cerne de tudo se resume aos ditames do gosto individual ou colectivo. A obra-prima de hoje pode ser, amanhã, uma obra marginal. Por isso, rogava aqui que não se nos aprisionasse a fruição artística. A gaiola da crítica, da pretensa crítica, por competente que pareça ou se aperceba, poderá, em muitos casos, conter riscos de lesa Arte. Entrementes, reinam ainda entre nós os pretensos críticos da Arte, esses todo-poderosos…
Pretensos militantes
Leio, sem qualquer entusiasmo, o elogio (que a mim soa a falso e a exagerado) que o meu amigo faz a um terceiro, pelas suas virtudes de militante partidário. Fá-lo, como se o mundo se esgotasse ali e se as galáxias de preencher com o nosso existencialismo se encaixassem, como um todo, nesse vão dos partidos políticos. Para mim (sem querer ferir susceptibilidades de uns e de outros, nem ousar perturbar deuses de esquina com vara curta), os partidos são de facto importantes para o desenho político vigente, mas, pensados a fundo, não passam de variáveis marginais da grande equação social. Podemos, se quisermos, exercer cidadania e ter vida pública à margem dos partidos e, de tal prática, podemos induzir e quiçá alterar o nosso sistema constitucional. Não haverá determinismo, nem fatalismo tão pouco, que impeça que todo esse aparato afinal se aparte de ser, como diria Caetano Veloso, uma “vaca profana”…
Pretensos donos da Verdade
Ou mesmo das Verdades. O sinal cognitivo da filosofia é sempre o ponto de interrogação. Quem no-lo diz é o Poeta Salah Stétié. Os que por aqui exclamam, sendo donos da Verdade na imprensa e nos palanques locais; os que por estas e outras bandas se afirmam sabedores do caminho das vinhas (e das verdades do vinho), mais não são que fracassos em pessoas, teses fugazes, frágeis, fragilíssimas, como todas e, de pronto, degradáveis (posto que, de primeiro, já eram degradantes). Assim todo aquele que afirma e que exclama nesta arena, afirma e exclama a relatividade e a debilidade do exposto, e encaramo-lo com o sinal cognitivo da filosofia, isto é com o ponto de interrogação. Poeta, a Verdade é pouca; as verdades são dúvidas…
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