1.
Achava-me numa fase intelectual mais vadia, desabrida e burlesca. Achava-me, mais do que nunca, solto na vida. Mas alguém, por sinal amigo, me achou deprimido. Leu a crónica "Agosto" e me reportou triste, alarve a transpirar no texto em questão. Em verdade, estava eu então aziago e estranho. Tentei escrever outra crónica sobre Usain Bolt, não só a ganhar tudo e todos, mas a dançar reggae por cima, muito por cima, da olímpica monumentalidade do Império do Meio, mas nem isso. De repente, deu-se um vazio na minha mente e, em assumidas insónias, as noites tornaram-se mais longas. É que o cronista tem disto: síndroma de página branca. E "Agosto" reflectiu assaz neurastenia. Experimentei alguma irreverência, mas aos 47 anos está-se mais engomado que na juventude. Apanhei, nas estradas das minhas viagens, um ramo de travisco na vã crença de afastar as trovoadas, os raios e os coriscos. E, em sobra de tudo, a desmesura de um oceano…
2.
Farei sim uma terapia baseada no riso. Arlequim total! Tornar-me-ei um girassol nessa procissão que vai dar ao Deus-Sol. Ensaiarei gracejos à la mystic river e talvez compense, em overdose de alegria, os 100 paus que os leitores andam a pagar pelo Jornal. Seja, pois, minha crónica futura uma sonorosa gargalhada. Sem ironias, direi que tudo vai bem neste Reino da Dinamarca. Esta é uma Dinamarca PDM, arre. Sem azedumes, farei loas ao cronista de serviço, esse que se insiste também poeta e patrulhador de todos na aldeia. Um chato, mas fazer o quê? Obviamente que, mau grado as boas graças, comungarei sempre da sentença de Chinua Achebe: "O poeta que não tem problemas com o rei, terá problemas com a sua poesia". Por modo de ter jogado as mágoas no Lago de Garda, bem pertinho de Brescia, e de ter chegado a Milano Centrale limpo e apaziguado, mas impossibilitado de tomar parte no Re-Inventation Tour, de Madonna. Por modo que, para o gáudio dos nossos imbecís, quis também ver Veneza antes de morrer…
3.
Tive também pena de deixar Lisboa, antes do espectáculo da Madonna. Eia que essa mulher me persegue! Não porque ela é a artista mais Top 10 da Billboard, mas porque possui um alcance vocal de 3,5 oitavas, uma verdadeira Soprano Full Lirica. Queria vê-la a cantar entre as escalas de contralto e de mezzasoprano, mesmo que o Papa desgoste. Marc, o meu amigo russo autor da música "Lisbon Blues", título também de livro futuro de José Luis Tavares, é que me ensina isso de escalas musicais. E conto-vos tal núncio, como se incarnasse a ideia de Walt Whitman: "Eu canto o meu próprio Ser, pessoa em si e à parte/embora expresse o verbo democrático, a expressão das massas".
4.
Agora que Agosto fechou o seu nefasto ciclo, estou aqui em Setembro. Estou ainda esquisito. Sei-o bem. És tu, poeta. Confesso que, quando assim é, só me apetece ficar sozinho na cama e com a luz apagada. Esperando que a minha mãe me apareça à infância retornada e me dê um beijo de boa-noite. Incessantemente. Inenterruptamente…creio bem que para além do fecho desta edição.
Achava-me numa fase intelectual mais vadia, desabrida e burlesca. Achava-me, mais do que nunca, solto na vida. Mas alguém, por sinal amigo, me achou deprimido. Leu a crónica "Agosto" e me reportou triste, alarve a transpirar no texto em questão. Em verdade, estava eu então aziago e estranho. Tentei escrever outra crónica sobre Usain Bolt, não só a ganhar tudo e todos, mas a dançar reggae por cima, muito por cima, da olímpica monumentalidade do Império do Meio, mas nem isso. De repente, deu-se um vazio na minha mente e, em assumidas insónias, as noites tornaram-se mais longas. É que o cronista tem disto: síndroma de página branca. E "Agosto" reflectiu assaz neurastenia. Experimentei alguma irreverência, mas aos 47 anos está-se mais engomado que na juventude. Apanhei, nas estradas das minhas viagens, um ramo de travisco na vã crença de afastar as trovoadas, os raios e os coriscos. E, em sobra de tudo, a desmesura de um oceano…
2.
Farei sim uma terapia baseada no riso. Arlequim total! Tornar-me-ei um girassol nessa procissão que vai dar ao Deus-Sol. Ensaiarei gracejos à la mystic river e talvez compense, em overdose de alegria, os 100 paus que os leitores andam a pagar pelo Jornal. Seja, pois, minha crónica futura uma sonorosa gargalhada. Sem ironias, direi que tudo vai bem neste Reino da Dinamarca. Esta é uma Dinamarca PDM, arre. Sem azedumes, farei loas ao cronista de serviço, esse que se insiste também poeta e patrulhador de todos na aldeia. Um chato, mas fazer o quê? Obviamente que, mau grado as boas graças, comungarei sempre da sentença de Chinua Achebe: "O poeta que não tem problemas com o rei, terá problemas com a sua poesia". Por modo de ter jogado as mágoas no Lago de Garda, bem pertinho de Brescia, e de ter chegado a Milano Centrale limpo e apaziguado, mas impossibilitado de tomar parte no Re-Inventation Tour, de Madonna. Por modo que, para o gáudio dos nossos imbecís, quis também ver Veneza antes de morrer…
3.
Tive também pena de deixar Lisboa, antes do espectáculo da Madonna. Eia que essa mulher me persegue! Não porque ela é a artista mais Top 10 da Billboard, mas porque possui um alcance vocal de 3,5 oitavas, uma verdadeira Soprano Full Lirica. Queria vê-la a cantar entre as escalas de contralto e de mezzasoprano, mesmo que o Papa desgoste. Marc, o meu amigo russo autor da música "Lisbon Blues", título também de livro futuro de José Luis Tavares, é que me ensina isso de escalas musicais. E conto-vos tal núncio, como se incarnasse a ideia de Walt Whitman: "Eu canto o meu próprio Ser, pessoa em si e à parte/embora expresse o verbo democrático, a expressão das massas".
4.
Agora que Agosto fechou o seu nefasto ciclo, estou aqui em Setembro. Estou ainda esquisito. Sei-o bem. És tu, poeta. Confesso que, quando assim é, só me apetece ficar sozinho na cama e com a luz apagada. Esperando que a minha mãe me apareça à infância retornada e me dê um beijo de boa-noite. Incessantemente. Inenterruptamente…creio bem que para além do fecho desta edição.
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