1.
Não é a primeira vez que sou apanhado "de pronto" para apresentar as exposições de Fernando (Mito) Hamilton Elias. Das já feitas por mim, guardo (direi mesmo: resguardo) com serena e grata lembrança aquela intitulada "Timenti Lua Ka Subi", e inaugurada na Vila do Tarrafal, em Santiago. Era uma exposição forte, magenta e cor da terra, eivada para o "bric color", aos feixes de formas, fonemas e morfemas. Também de semânticas. De sêmeas. Dissera, então, que Mito era o mais conceptualmente moderno dos artistas plásticos cabo-verdianos, isso sem desmerecer outros assaz interessantes e de grandezas próprias. De lá para cá, Mito foi crescendo, não em linha recta, que do intelectual não se espera vector cartesiano, nem em linha oblíqua, que os modismos são também outros grilhões. Foi crescendo no sem linha e no sem margem, como se entrasse num jam session e deambulasse nas escalas livres e de fugas musicais. Totalmente groovy. Absolutamente, groover...esse Mito!
2.
Também não é inédita a ângustia que me assalta sempre que Mito me faz esses convites de apresentação. Deixando-me à mercê de um entendimento marginal das suas telas. Reparem que não digo "compreensão". O Artista propõe, para lá dos meus dilemas, uma complexa inequação, com incógnitas incessantes e reincidentes. À maneira de Sueño con Serpientes, de Sílvio Rodriguez, em que la mato y aparece otra mayor. Eis que nas telas de Mito se me suscita descortinar um pássaro, também "de pronto" aparece outro maior, con mucho más infierno en digestión...
3.
Apanhado assim "debole", filosoficamente "debole", aquém de todas as certezas, tenho, nas antípodas, o gozo de olhar e de opinar sobre NU BAI, exposição de pinturas de Mito, a inaugurar na segunda-feira, 15 de Setembro, no Auditório do BCA. Vejo tal mostra como uma grande homenagem aos Hiacistas e à própria ilha de Santiago. Hèlas, que ele baptizou o seu filho de Santiago, patronímico da Ilha Maior e Matricial. Santiago que nos é capital do Chile de Pablo Neruda e de Victor Jara. Cidade também de Compostela, não muito distante de Ribadeo, onde nasceu Eugénio Tavares para ser naufragado nas águas da Ilha Brava. Santiago de Cuba, em tudo igual, caleinte e oriente, à Cidade Velha, velhíssima, nossa memória, nossa alma. Mas dizia: a partir de um polígno de peças, umas ontológicas, outras faits-divers, Mito faz a alegoria dos movimentos, dos veículos, dos transportes, das transladações e das migrações. Tudo que risca e visca a sua Ilha Imaginária e Criativa, se não pura Criatura...
4.
Pois é, Mito, preparemo-nos para a catadupa de incongruências e de ziguezagues sem fim, pois a perfídia dos pequenos é coisa grande na aldeia. O inferno começou pela censura do meu texto, posto bizarro se tornou Mecenas de Tesoura. Odiámos juntos, pela vida e pela lida, quaisquer Gulags e as sobras de um colonialismo que nos persiste mental - a tal "mental slavery" que Bob Marley bem cantou. Estamos em tempos de Argui, Nu Monda, Nu Bai... Redemption Song. Inté...
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