domingo, 28 de setembro de 2008

Porto Madeira e Outras Notas


Oh Deus, que fazias nascer o sol todos os dias,
enquanto repenicavam em Wall Street os alegres sinos de abertura.
Coro: o que vai ser de nós?

José Caldas



Porto Madeira

Cumprindo ao rendez-vous da Misá, pintora, poetisa e activista cultural, estive com uma dúzia de gente próxima em Porto Madeira, nesta linda (e agora verdejante) ilha de Santiago. O programa: almoço, declamação poética e passeio pela aldeia artística, iniciativa cultural da Misá com vista ao internership dos artistas e ao intercâmbio cultural, embutindo nela também a intenção de turismo rural. Embora soubesse, por haver (re) visto o projecto quando era ainda papel, confesso ter ficado positivamente surpreendido com o arrojo que só a simplicidade e a ecologia produzem, aliados à uma vontade férrea de fazer as coisas acontecerem. Faltou José Maria Neves (o poeta), porque o Primeiro-Ministro estava, a essa altura, a inaugurar um liceu no Concelho dos Órgãos (poesia de força maior, convenhamos). Mas não me coíbo de repetir (e de também fazer minhas) as palavras de Caetano Veloso: “É engraçado a força que as coisas parecem ter quando precisam acontecer”. E foi tudo lindo, lindíssimo, no táctil que, por vielas de poesia e pelo vale do amor, essa tarde, de tão intangível, nos proporcionou. E na berma do caminho que trilhámos, em fila indiana, estava ali um soneto meu – “Crioula na Estação” –, cujo terceto derradeiro era: Tudo isso és tu, na estação/Quando os trens da tarde/Já são tua cicatriz em mim...

Virgens Loucas

Continua a faltar energia e continua essa incongruência a condicionar as nossas vidas. Semanalmente, lá estamos todos a praguejar e a blasfemar sobre tal situação que não lembra ao diabo, mas aos deuses da terra até lembra e, consequência disso, é o breu que nos apanha (sempre) desprevenidos. Ontem, estava a ler a partida de Marco Polo, da Praça de São Marcos, em Veneza, quando a luz (raio de cidade esta!) se foi para…E, agora a sério, porque de tretas e promessas estamos conversados, é preciso que se estabilize de vez a questão energética na capital de Cabo Verde! E o que irrita mais é a barulheira dos motores a ensurdecer a miséria daqueles à luz das velas. Leiam “Virgens Loucas”, de António Aurélio Gonçalves. Leiam-no, por favor. Estamos “apois” todos desesperados que nem as três (de) mocratas da noveleta desse grande Mestre…

Cacem-nos…for all means

Clic on…TCV no meu ecrã e, dos males, o menor. Um programa sobre a (in) segurança que se resume em mais um chorrilho de demagogias. Não é com sensacionalismos, para espevitar incautos, que estaremos a contribuir em prol da estabilização da criminalidade. Um pseudo agente da Polícia Nacional, que não dá a cara (et pour cause, nem empresta credibilidade), afirma haver bairros que as autoridades não entram, fabricando a imagem do absurdo, do caos e da impotência. A mim, tudo isso me parece uma pura falácia e uma crassa mentira. Ora, num regime democrático e republicano, como se supõe o nosso, as autoridades têm de ter franca e ampla mobilidade para “caçar” e neutralizar os bandidos ainda à solta. Estes devem ser “apanhados” em todos os seus refúgios, inclusive os mais intangíveis. For all means. De resto, estes é que não poderiam “reinar” em certos bairros, nem circular em certas horas. Liberdade tem os seus parâmetros e, paradoxalmente, os seus limites. Fosse doutra forma seria uma “broxa” a nossa democracia e a nossa paciência de cidadãos já nem se afinaria por aí…

Colapso da finança

Apupados pelos nossos neo-liberais que, além de serem egoístas como os demais, conseguem ser medíocres e confusos, eis que assistimos juntos, na bancada da pobreza, ao colapso da finança pura. Quo vadis, operadores do mercado? O que vai ser de nós? De repente, o Estado deixou de ser um problema para voltar a ser uma solução. Nicolas Sarkozy afirmou: «Reconstruamos em conjunto um capitalismo regulado, em que sectores inteiros da actividade não sejam deixados à mera apreciação dos operadores de mercado». Quem “diziria”? Ahahahahaha…

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