domingo, 4 de fevereiro de 2007

Guernicada


Boca no Trombone


Na sua origem, a palavra crónica seria “pôr em ordem cronológica”, ou seja, narrar em ordem do tempo. Heródoto fora um exímio cronista, Pêro Vaz de Caminha do se plantado dá, disse tudo. Machado de Assis e Eugénio Tavares, que “bárbaros”. Dos modernos, leio Woody Allen, Luís Fernando Veríssimo e João Ubaldo Ribeiro. Todos “sinistros”. Entre nós, salvando todas as distancias, Fátima Bettencourt fazia umas notas memoráveis. Mesmo no jornal Horizonte, Manuel Delgado era a marca registada. E eu (Cadê você? Eu vim aqui só para te ver), com o S/Cem Margens, vou botando a boca no trombone. A escrever tudo o que agita a minha mente. De A a Z. De Aterro Sanitário a ZDTI. Passando, naturalmente, pelo G do Gado e mais não digo deste thesaurus. A escrita como respiradouro. Oxigenação necessária. Quando não escrevo, vou à orla do mar e respiro o Atlântico. Uma snifada consequente da maresia. Consolidando amigos e inimigos. Felizmente menos estes do que aqueles. Deus tem…

Crónica

Escrever crónicas é também meditar. Entre a utilidade e a futilidade, em textos que me premeditam e os que me acontecem, vou sendo aprendiz da escrita. Ajoelho-me apenas diante do Verbo, que soubera como génese de tudo. Não me ajoelho diante dos altares, nem face aos venerandos. Curvo-me perante o pôr-do-sol, dou palmas às ondas furibundas e choro de certos luares. Quando estou apaixonado. Sou volúvel face ao Belo. Uma sinfonia invade a fímbria dos meus nervos e mexe comigo cá dentro. E como mexe. Cada pedaço do meu ser ama. Mas não rezo. Nunca em prece. Medito apenas…

O real imaginário

Observar dentro do real todas as possibilidades do fantástico. Conciliar um ao outro é o que tento fazer com o S/Cem Margens. Tentar corresponder ao interesse dos leitores, mas sem grandes concessões. De repente, não farei do Pranchinha um simples pagador do IVA, sem que arranje aquele trinta-e-um sobre a oficialização do Crioulo. Afinal, a vida nasceu ou não, Mário Fonseca? Ou, então, lá porque o Pranchinha, nas suas fraquezas, grama as crónicas de Fátima (a Havardiana), não o alinho aos estudos estratégicos tropicalientes, essa espécie de “único impossível”. Às vezes, é um deus-nos-acuda encontrar realidades, assim com aqueles toques fantasmagóricos de além-mar. A estabilidade do euro, por exemplo, é uma realidade excessiva. Já a paridade do escudo, esse parlapiê da convertibilidade & etc, nos garante uma grande ficção. O sermos periferia europeia ou, no mínimo adjacente, também dava uma crónica louca. Os deslizes do dólar, outro exemplo surrealista, podem induzir a Bagdade em turbulência. A CNN que o diga…

Ressalva

Perdoem-me por esta fase egocêntrica. Deve ser da solidão. Estou a me recompor. O meu psicólogo diz que passa. Se até enxaqueca passa, remata o virtuoso. É uma nuvenzinha passageira isto de se estar em torno ao próprio umbigo, falando ininterruptamente das coisas que nos apanham pela rama. Da próxima vez, hei-de pintar um quadro, já que criar um monumento, mesmo sem ganhar algum, pode bulir com a desordem dos arquitectos. Ou a brocha de certo jornalismo. Uma tela chifruda no visual dos deuses pequenos. Uma “guernicada”, como diria o Pranchinha, exilado nesse além, mas quando aquém, um abusado de primeira apanha. Mas, hoje é dia da caça, amanhã do caçador. Hasta…

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