sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Qualquer música


Qualquer música

Ontem, a noite acabou em grande: com Egberto Gismonti. O Ideal Clube de Fortaleza é aquela coisa só. Nada como a boa música para nos lavar a alma. Nos bastidores, soube que o artista conhece bem a obra de Cesária Évora e as músicas de Bau. Falei também de Kim Alves, Ricardo de Deus e Vasco Martins. Da Mayra, Tcheka, Dudu Araújo e Mário Lúcio. Das coisas que eu gosto, enfim. Não quis acreditar que Horace Silver fosse crioulo e lá tive de contar as coisas. Desde a pesca da baleia. Até Moby Dick, sabiam? Ganhei três CDs do músico e cheguei a casa, eufórico a recitar Pessoa:

(…)
Qualquer música, ah qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!
(…)

João Branco

Soube sim da iniciativa do João Branco de querer prestigiar o Centro Cultural do Mindelo com o nome de Orlando Pantera. Também soube da contra iniciativa e das suas razões absurdas. Mais uma perda de oportunidade para se homenagear os grandes da terra. Pantera mostrara de facto ao que vinha, para o odioso dos medíocres que não lhe perdoaram o génio, nem a raça, nem o virtuosismo…nem mesmo o sorriso.

Quanto ao bairrismo

Este país está a deixar de ser provinciano. O bairrismo de pacotilha, protagonizada por pacóvios conhecidos, tem os seus dias contados. Nenhum jovem que se preza pára os seus estudos, namoro ou gameboy para ouvir os ignaros e os atrasados da praça. Cabo Verde está no Desenvolvimento Médio. Não se riam. Arre…

Dança ma mi, criola

Eu gosto muito do Tito Paris, sobretudo da sua música, do seu sorriso e dos seus suspensórios. Adoro vê-lo a cantar Dança ma mi, criola. Um fulano nota 10. Entretanto, ele não soube levar a bom termo o quiproquó com o Ministro da Cultura e fez umas afirmações que não procedem. O orçamento do Ministério da Cultura é curto, tanto ao Norte como ao Sul. Os artistas, criadores, produtores e todos aqueles que fazem Cultura precisavam de “uma outra guerra”. Por um melhor (ou, pelo menos, maior) orçamento do MC. Pela criação do Fundo Nacional da Cultura. Pela instituição de créditos bancários. Pela efectivação da lei do Mecenato. E, acima de tudo, por mais qualidade e competitividade. É que o mercado, o verdadeiro mercado, é o mundo…

Cobrança

O amigo Dimas anda a cobrar-me mais textos poéticos. Pessoalmente, não me atrevo a entrar num onda em que o compromisso será entregar um livro por ano ao editor. Faltam-me o engenho e a arte para tal. Tenho um Mestrado para terminar, compromissos profissionais assumidos e dois filhos menores. E devo pensar em mim. Vou me amar nestes tempos, como diria Rita Lee. Ademais, tenho umas coisas escritas na alijava, mas deixo-as marinar um bocado, que é para apanharem bem o tempero e o fermento. As palavras são ingredientes com que se fazem os pratos da poesia. Perdoem-me tal metáfora, mas eu sou um gourmet antes de tudo.

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