sábado, 17 de fevereiro de 2007

O tigre na empresa



Acompanho, fazendo o papel do Velho de Restelo, os despedimentos em massa na TACV/Cabo Verde Airlines, protagonizados pelos novos gurus da empresa, com a luz verde do Governo e com os aplausos do Banco Mundial. O propósito será nobre com certeza, pois tais reformas estruturais, além de criarem as condições atractivas para a privatização, pretendem trazer mais vantagem competitiva e agregar mais valor à empresa. Mas a questão que se coloca é a seguinte: não seria mais producente um novo «contrato moral» com os trabalhadores e com a sociedade cabo-verdiana, substituindo a administração personalizada e a filosofia da "empregabilidade" por formas mais originais de criação de valor e de lucro? Não terá sido introduzido um tigre no seio da empresa, para o já clássico estilo de downsizing? A TACV/Cabo Verde Airlines teria, neste momento, de recriar valor para a sociedade e para os seus clientes desenvolvendo novos produtos e serviços, e descobrindo formas para melhor apresentar as actuais ofertas. De resto, para se competir no mercado internacional, e no transporte aéreo especificamente, não basta essa visão unilateral e mercadológica da vantagem competitiva. Peter Drucker dizia que é o restabelecimento do capital social que recria valor competitivo e se torna o motor do crescimento para uma empresa, teoria que seria válida para a TACV/Cabo Verde Airlines a estas horas. A empresa é que deve estar no mercado e não este dentro daquela. E, outrossim, nunca deu bons resultados introduzir o tigre dentro da empresa. Sumantra Ghoshal comparara o mercado a um tigre – se o metemos no centro da filosofia interna da empresa, este acabará por devorar a organização. Uns exercícios de pensamento crítico apenas. A necessidade de haver sempre um Velho de Restelo. Nada por aí além…

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