domingo, 11 de fevereiro de 2007

Hediondo


O crime hediondo


Acompanhei, pela imprensa nacional e internacional, o caso das italianas assassinadas, na ilha do Sal. Achei correcta a atitude do Governo de Cabo Verde em se posicionar prontamente contra esse crime hediondo, a provocar em todos nós repúdio, revolta e vergonha. Igualmente terá sido oportuna a visita imediata de Victor Fidalgo, Presidente da CVInvestimentos, à Ilha do Sal, para ajudar à análise que a situação impõe. Entretanto, a questão exigiria sociólogos, psicólogos e outros cientistas sociais para um estudo mais complexo e multi-disciplinar de um problema que já se emaranhou na sociedade. Sem pretender estragar o negócio de milhões de euros, mas, pelo contrário, requalificar esse potencial que empresta competitividade ao País, ouso admitir que há coisas, muitas coisas, a serem harmonizadas. Não pode é faltar coragem para tomar as medidas necessárias, a vários níveis, depois (repito) de um estudo sério e crítico. O diagnóstico do impacto social da indústria que vai repondo Cabo Verde no circuito internacional…


Terra de sol, praia e não só


Há muito tempo, lendo um folheto sobre o turismo cabo-verdiano, reparei que, para além do apelo ao sol e praia, o mesmo alegava implicitamente ao turismo sexual. Havia uma menininha, com olhos de quem convida, a exibir seios e nádegas provocantemente bonitos, logo ali no frontispício. “Venha visitar Cabo Verde”, dizia o dístico. A mensagem ali estava mais no não-dito do que no dito e era extremamente preocupante. Esse simples e ensolarado folheto era uma espécie de bomba-relógio, isto é, algo com hora marcada para explodir. Igualmente, um jornalista escrevia sobre o Site Electrónico que convidava estrangeiros a conhecerem Cabo Verde e a “conectarem” com rapazes e raparigas “disponíveis”. O mesmo alertava “Da non perdere assolutamente qualche serata in discoteca per scoprire la sensualita' dei balli capoverdiani”. Em verdade, o “perigo” de há muito que já estava instalado. Se o turismo tem as suas vantagens, ele terá com certeza a sua parte perversa. Hedionda mesmo. Recentemente terá havido um assalto à mão armada a um hotelzinho, silenciado para “não espantar a caça”. Outro jornalista terá sido censurado (sem aspas), pois a ninguém interessava “levantar tal poeira”. Que turismo? A de massa? A do inclusive tour? A da prostituição? Da pedofilia e da droga? E da violência? Temos de pensá-lo criticamente. Haverá gente a esquecer – tanta é euforia do negócio ora instalado – que na face invisível do iceberg reside a maior parte do problema. Tempo, se calhar, para repensarmos o tipo de turismo predatório que sub-repticiamente nos foi imposto pela dinâmica do mercado at-large. O questionamento da nossa clara opção entre sermos objectos ou sujeitos do turismo, que não deixa de ser uma das grandes fontes de receita do País. Vamos, sim, a tempo de escrutinar as coisas e de colocar alguma serenidade numa indústria que, se não controlada, os seus ganhos nunca seriam bem lucros. Pelo menos, para a nossa sociedade…


Pura náusea


Humanamente, o crime ocorrido no Sal dá náusea. A sociedade não pode ser uma espécie de “cria corvos”, incapaz de educar bem os seus jovens e de não os reprimir exemplarmente em casos de lesa dignidade humana. Deixemo-nos de complacências. E muito menos de pretensas histórias passionais a relativizar esse crime. O lugar dos assassinos será, no mínimo, a prisão pesada e longa. Perdoem-me a impiedade, mas estes jovens não passam de monstros a consumir o ar que respiramos. Não representam de modo algum a forma de ser e de estar dos cabo-verdianos. E temos de ter a capacidade e a coragem de os escorraçar. Com ou sem turismo, há gente que nos envergonha e que perfeitamente não deveria existir no meio de nós. Eles não fazem falta. Antes pelo contrário: estão cá a mais…

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