segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

O Poeta e a Musa

Zero

Queimando o S/Cem Margens seus últimos cartuchos, depois do cronista ter lido a lógica daqueles que abominam que um dos tributos ao Movimento Claridoso também se faça na cidade da Praia, apesar de ser Cabo Verde, capital da Nação e terra de Jorge Barbosa, direi sem margens para dúvidas que, em certo sentido, vivemos tempos turvos e lodosos.

Um

Essa polémica, embutida de bizantinice e eivada de má fé, procura levar, mais uma vez (e não por acaso), Manuel Veiga para a fogueira de todos conhecida e que crepita para dividir o país. Curiosamente são os mesmos pirómanos que outrora dividiram o Arquipélago entre as ilhas da macaronésia e as africanas e que, há poucos dias, brindaram com júbilo ignaro e racista um estudo dito genético. O que não nos dizem certas intenções "científicas"?

Por mares nunca dantes navegados

Por razões de trabalho, estou a ler com o meu italiano aquém do básico "Navigazioni", de Luís de Cadamosto. Vou pedir apoio a Pasqualino Settebellezze, personagem bissexta das tertúlias na net, pelos vistos, um crioulo radicado na Itália. Mas voltemos a Cadamosto. Terá o navegador chegado a Cabo Verde antes de Diogo Gomes? Interessaria a Portugal dar o protagonismo dessa descoberta a um “mercador de Veneza”? De qualquer forma, a história, para lá da ciência, é escrita e interpretada ao sabor dos tempos. Outrossim, Luís de Cadamosto fora um renascentista consequente. Curioso, aventureiro e mercador, ele estava fadado a ver e a desbravar novos mundos. Obviamente que teremos de dar descontos aos olhares e aos preconceitos da época. Eram tempos eurocêntricos, com o obscurantismo adveniente disso, em que muitos descobrimentos não passaram de encobrimentos. Isso também é notório no "Navigazioni"…

Neoliberais

Não me fio nos neoliberais que se deixam dominar pelos tentáculos coloniais. O Pranchinha chama-os de deuses de esquina. Cá na minha, os neoliberais terão de ser navegadores, libertadores e libertários. E nunca “entregadores”. Do negócio e Pátria. Lá pelos fins dos 1400, um monte de moradores de Cabo Verde lançava negócios pela costa africana, à revelia das autorizações reais. Uma Carta Regia impedia aos moradores de Santiago traficar na Costa, onde o negócio era rendoso. O nome desse pessoal? Tangomanos (ou "Lançados"). Conta-nos António Carreira que "...Sobre este tipo de relapsos foi promulgada abundante legislação no sentido da sua captura, e até mandando-lhes aplicar a pena de morte, no caso de serem capturados pelas próprias autoridades africanas". Os verdianos, quais albatrozes, foram ao tempo contra o monopólio colonial... Interessante, não? Esses terríveis lançados neoliberais...mais consequentes outrora.

Dois

O cenário poderá ser de um café com letras. Ou dessas muitas livrarias, como o Paraíso de Jorge Luís Borges, onde se possa tomar um bom capuccinno. E o cronista a lembrar de ser poeta. Eu bem que queria navegar no seu mapa astral, disse o Poeta. Mas você já nele navega, respondeu a Musa…

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