quinta-feira, 14 de outubro de 2004

The Capeverdean Blues - uma narrativa com swing

We're very proud to be
In his biography
We sing this song for him
And you

Horace Silver - song for my father
blue note records - 1964.





Como quem conta uma história em flashback, é assim - pela reminescência tão somente do ritmo e do fantástico - que Mito, o mais prolixo, moderno e ousado dos artistas plásticos caboverdianos, se concebe à narrativa de The Capeverdean Blues.

The Capeverdean Blues é mais uma apresentação temática de Mito, percorrendo uma sinuosa estrada (da coerência e da singularidade) em cujo fio condutor perfilam exposições marcantes como Mitomorfoses (1995/Praia e Mindelo), Lágrimas do Indigo (1997/Praia e Mindelo), Lantuna na Mei di Mar (1998/Expo Lisboa) e kurasson di Sibitchi (1999/Praia e Mindelo), além de participações em várias paragens e em tempos diversos.

Uma viagem atenta pelo The Capeverdean Blues revela, a par do delírio felliniano do pranto e do riso, uma identidade primordial e uma táctil cumplicidade (Crioula? Universal? Outra?) entre Mito e Horace Silver, uma das figuras mais paradigmáticas do mundo do jazz e patrono de um estilo que se afirmou por Hard Bop. Além de tributo assumido ao enorme pianista caboverdiano-americano, que tem um álbum intitulado The Capeverdean Blues, Mito assume a complexidade do blues de per se - uma música apelativa da alma. Fá-lo, ciente da velocidade multimédia e da reciclagem de vários materiais como demandam os tempos, a partir de um lirismo não retinal, bem à Marcel Duchamp, de quem assume os mistérios do telúrico.

É um convite para lá de louco (dessa vertigem necessária) navegar pelos quadros do The Capeverdean Blues, colecção que ora se impõe. Não nos é fácil falar com propriedade das telas de Mito. No seu projecto há técnicas que não permitem instalarmos nós. É uma arte que aos leigos só deixa sentir e vivenciar. Como um concerto (una prova d’orchestra), nada acontece por acaso e o que salta à vista e aos sentidos é uma riqueza polissémica com as potencialidades do som - tudo num psicadélico trem das cores. Sobre a ancestralidade da essência e com um estilo absolutamente enigmático, Mito faz de um swing o jogo dos sentidos. É que o blues das suas telas desfaz as evidências consagradas e zomba dos axiomas a morder o quotidiano. Mito pinta, por conseguinte, com acordes - cada trecho solfeja The Capeverdean Blues!




Eis o concerto em blues :

Bop corner blues (a visual blues 4 Horace Silver), Melanina, Don't scat over b flat, Pet's serenade, Galadura (lapido na bó), Tango in Carminale, Puppets on a G-string, Ta pari gatinha, Jumpin' the skyline, Tender bird, The hitchicker drumbeat, Feeding birds @ the & of the st., Missiva de 1# náufrago (lusotopia), Shyless moon in bondage, Fiticêra di cor morena, Lullaby for a monster, Pet's step, Beyond the red clouds (gone with the wine).





FILINTO SILVA


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