sexta-feira, 15 de outubro de 2004

A BUNDA, QUE ENGRAÇADA

de Carlos Drummond de Andrade


A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.


Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.


A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por
sina cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.


A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.


Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.


A bunda é a bunda,
redunda

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