começa a haver flores demais
flores cromáticas, umas mais plásticas
que outras, mas todas doidivanas,
a crescerem como um cancro
na Primavera.
começa a haver excesso de luz,
exagerado diurno e a faltar sombra,
becos íntimos para os beijos, fiapos
de nuvem e de lua para a primeva
nudez da aurora.
falta a cambraia das noites frias,
a ventania com que nos refugiamos
sob os cobertores de outrora, falta
calar o chilreio dos pássaros, começa
a haver canto a mais.
os interstícios de tantas falas,
os tules, ora sem cor, nem dor,
o caule das alas e o coice dos alados
cavalos, ora o reduzir poesia à prosa
e (as mulas) à metáfora.
Filinto Elísio
in Diversa prosa de quase verso
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