quinta-feira, 23 de abril de 2009

O que me acontece

Evades-me, ora de contente, ora de padecida,
Perdendo no que me eras enleio, só devaneio,
O seres-me sêmea, se sendo fêmea não bastarias
Para que me afoitasses, cá dentro, poesia…

Desfiava-te as tranças e esvoaçava-te os pêlos,
Sodomizava-te a cada milímetro, a música
De ti que ouvia, teu certo respirar, arfante,
De quase gemido, nau perdida que derivas…

Evades-me sempre, tão que de modo leve,
Se me escapas das mãos, quão fresca água
De matares minha sede, a dos desertos meus…

A de minha vida breve, eis que me anoitece,
Ave que vai e vem, voa e povoa de imagem
O soletrar de amanho com que me foges…


Filinto Elísio
in Diversa prosa de quase verso

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