segunda-feira, 20 de abril de 2009

Cronista Desesperado, Poesia & Moonlight Serenate






Poderia começar por intuir que a lua é uma mulher linda, lindíssima. E, já agora, que tanto se me dá, instituir que sou louco, o que é pouco diante do que se vê ao espelho. Poderia, em segundo, continuar a fazer loas à lua, ouvir dela uivos de loba e berrar à quietude do monitor do meu portátil. Às vezes, questiono-me se não seria mais interessante parar de escrever crónicas. Deixar de ser inspirado. Dar um desesperado basta ao Albatrozberdiano. Fazê-lo, não para transpirar a Bloga incauta, mas parar tão simplesmente. Radondu sima riloje. Questiono-me se não seria até mais ecológico se, num rasgo filosófico mediano, merecido à pasmaceira de resto, acabasse de vez com o Entre-Nós e fosse à lua cheia na rua. Assumir o penso, logo desisto. Outras vezes, admito que o pessoal terá de aturar as minhas impertinências, engolir o sapo das minhas agruras e aceitar que eu seja ovelha desgarrada. No dizendo, fazendo, se ajoelho não digo ámen. Rezar também não. Admito também compartilhar o oxigénio e o carbono com todos, e mesmo cometer pecados de amar, acarinhar, doar, verbos não muito regulares e, na paróquia, tidos por levianos. Como despiciendo o discorrer sobre os amores passados, tardios e reciclados -, uns em boas amizades, outros em ódios de lume brando. Admito ainda não poder ser outro, mas tão-só só este poeta, exagerado, pé feio, aquilo torto, olhos mortiços, andarilho…E leio, com entusiasmo, que os cientistas descobriram que recitar poesias ou ler poemas em voz alta diminui o stress, normaliza os batimentos cardíacos e a frequência respiratória. Será que a poesia começou a ser útil? Descobriram que, tal como a marcha matinal e/ou vespertina, vale recitar e eu, modéstia à parte, confesso que já andava desconfiado disso. Todavia, não será por utilidade a razão de haver escrito Li Cores & Ad Vinhos, livro que, em breve, estará à disposição da recitara local. Este é um livro inútil nos escaparates. De alguém a beber as palavras para além da conta e a desejar compartilhar a sua embriaguez com todos. Inútil como os olhos esverdeados dessa morena para o trigueiro e que passa também pela rua, alheia à lua. Se quiserem provar o cálice, tê-lo-ei à mão de todos. Confesso que este livro não marca uma nova fase, nem aponta novos caminhos. Não exageremos. Já não tenho idade de entreter a canalha. Tornei-me simples, assumidamente simples. Até por ter percorrido o território da complexidade. Simples, mas não ingénuo, como ditaria a própria desconstrução da complexidade. Como downgrade…Pela rádio, ouço a cantilena dos cretinos da terra. Têm a prerrogativa do Estado da Nação. Os melhores filhos desta democracia que também têm de mediocridade o que lhes sobra de milagrosa bênção. Enquanto não me chega o dia de pensar para desistir, saio à rua pensando no cão que me guarda, na estrela que reluz, na brisa que bole a copa das acácias, essas coisas…Lua, vagem, viagem. Uma carruagem de coisas. Sou assumidamente sartreano em que o homem encontra em toda a parte a projecção de si próprio. Os meus poemas repetirão isso. Tudo – pedra, flor, água, ar, terra, vento, gemido, fala, Deus – é reflexo do homem. O homem reposicionado em tudo, inclusive na sua própria transcendência. Acho até que a lua cheia, assim cheia de graça e de luz, me persegue. Saio a deambular, com a mão na algibeira, esquecido dos assaltos e dos meus inimigos de estimação. Moonlight Serenate. Eis que também a lua é inútil. Será? Assim (permitam-me esta confidência), a lua é uma mulher linda, lindíssima…

1 comentário:

Tchale Figueira disse...

Filinto meu amigo! Olha que a lua em Alemão é macho. É, "der Mond"

Mas para os poetas, porque não, ser Hermafrodita?

Belo texto.

Tchale