sexta-feira, 20 de julho de 2007

O tigre a tigretude

1.
Hoje, mais do que nunca, entendo as razoes de Almada de Negreiros ter escrito “A Cena de Ódio”. Esta província também não é fácil. Estarão eles habituados ao preto dócil, domesticado e civilizado. Admoestado nos salões do império e empedernido nas sapiências da metrópole. Esse não. Não serei eu o órfão desse império. O Pai Tomás da Cabana. O serviçal, meio capataz, chefe de secção, administrativo nas colónias e férias graciosas. Olho-me ao espelho e divirto-me de não ser mulato safado. Ó solitário, este deserto de imbecis…

2.
Dois jornalistas de serviço, desses mauzinhos a polvilhar todas as profissões, gritou literalmente o Carmo e a Trindade, porque, num exercício de livre opinião, chamei de mentecapto a Salazar e de pacóvio a quem nele “votasse”. Naturalmente que não disse tudo, pois, como diria Wole Soyinka, Nobel nigeriano, o tigre não badala a sua tigretude, mas salta na presa para a devorar.

3.
Manda-me o José Luís Hopffer Almada os seus versos. Li-os e fiz aceso comentário. O vate do José é maduro e conseguido. Cheio de tensão e intensidade. Adensada poética, necessária, cada vez mais necessária, entre nós…

4.
Mas há bocado passaram-me pelas mãos os sonetos de Januário Leite. Loiça rara. Colocando cada peça no seu espaço, há poetas que ficam fora do puzzle. Januário Leite é bardo de outra galáxia…

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