quinta-feira, 5 de julho de 2007

Contrapontos, congruências e divergências...



1.
Esta é a manhã de Julho, a mais ditosa de todas as manhãs, há trinta e dois anos conquistada. Levanto-me relativamente tarde. A Rádio de Cabo Verde está com uma programação “patriótica”. Leio alguns textos – uns poéticos, outros nem tanto – sobre a pátria e a anti-pátria. Telefona-me alguém: “Não. Não vou à sessão solene na Assembleia Nacional”. Escrevo, também eu, um poema à pátria. Na primeira estrofe, é angustiosamente existencial. Na segunda, começa a ser marcial, quase épica, tomada de leviandades. Não me atrevo a escrever mais, embora aceite não haver duas sem três. Pois, faz anos, hoje, este grande amigo, de quem não abro mão. Aquele que é nosso, de pertença mesmo colectiva – “Doce Guerra”, como o vaticinou Antero Simas –, mas que, no íntimo, é tão meu, neste paradoxo de ser mais mátria que pátria. Os jornais estrangeiros afirmam estar Cabo Verde numa encruzilhada. Em verdade, é fado desta nação viver nas encruzilhadas. Mas isto…são outros quinhentos, não me referindo aos 5 séculos, naturalmente...

2.
Mudando. Dou umas voltas pelo Monumento ao Emigrante, concebido por mim e o arquitecto Carlos Hamelberg, e contextualizo a crítica (a despautério) do artista Tchalé Figueira. Projectado para corporizar, em padrão e obelisco, uma homenagem ao Emigrante, o dito artista – qual Sancho Pança –, parece não ter apanhado o “clue” do Monumento. Ou se o apanhou – agora numa de Ajonjo Quijano e em mais tristíssima figura –, alinhou-se ora às riolas da “parvónia”. É que o “buraco” é mesmo mais em baixo, Mon Petit. E não há como engolir e trazer desaforos para casa…

3.
Indo, entretanto, a procissão no adro, só queria que isto fosse mais claro. Tenho orgulho de ser cabo-verdiano. Este é um país que, feitas bem as contas, merece os elogios e os aplausos que recebe. Naturalmente que o muito que já se fez ainda é muito pouco. Amor a amor; dor a dor, como diria o Poeta. E todos nós, inteiros, nesta combustão louca de sermos Nação. Em verdade, mais não digo, devendo, agora, levar a passear o Pablo pela Praça do Papa. Que linda manhã de Julho! Bem, meus companheiros, eis Cabo Verde. Contrapontos, congruências e divergências...

Sem comentários: